Adhara estava tentada em levar a irmã às costas, enquanto procurava as ervas para o ferimento dela. Kastra sorria, mesmo a palidez denunciando o estado crítico.Adhara cobriu a cabeça com a capa, respirando fundo. Ela precisava urgentemente encontrar as ervas que usaria para a fusão. Os longos anos que passou adoentada a obrigaram a consumir várias infusões, ela podia considerar-se uma perita nisso, mesmo não sabendo o nome de nenhuma das ervas.
Mesmo não sabendo usar corretamente o arco, Adhara sentia uma confiança avassaladora em seu ser quando o pegava. Era idiota, tendo em conta que o seu pai, que tanto a desprezava, responsável por sua fuga, utilizava essa mesma arma com frequência diária, graças ao seu ofício de caçador.
Enquanto andava pela floresta, Adhara marcava o caminho, riscando o tronco de árvores discretamente. Não podia correr o risco idiota de se perder. E ela tinha fortes dúvidas sobre o seu sentido de orientação, já que nunca o aplicou até então. Ela mal sabia onde deveria começar a busca, mas tinha um aviso piscando em sua mente.
Não sair da floresta! Ser discreta!
Parecia algo simples, mas Adhara era uma estrangeira. Ela era a inimiga pelo simples facto de ter a aparência do inimigo. Não era como se Adhara tivesse interesse em dominar Ravka. Ravka um dia foi um país rico e próspero, mas já lá iam os anos de ouro do país. Hoje era esmagado por Shu Han e, principalmente, Fjerda! Ravka estava dividida, o Sulco era quase impossível de atravessar, denso e sombrio, carregava criaturas famintas por carne humana.
Adhara esperava nunca ter a necessidade de atravessar o Sulco, pelo o que os outros repassavam era uma experiência traumatizante. Quase ninguém sobrevivia.
Foco Adhara! Foco!
Os passos dela eram fantasmagóricos, já que as suas pegadas eram leves. Os flocos de neve caíam numa dança delicada sobre si, apagando o seu rastro com uma lentidão irritante.
Seus lábios tornavam-se ainda mais rosados por conta da manhã gelada. Em determinado momento da sua busca, ela perguntou-se se realmente era boa ideia deixar Kastra sozinha, naquela gruta, incapacitada.
Já era tarde demais para voltar atrás. Não podia dar-se ao luxo de regressar de mãos abanar.
Adhara parou de andar ao ouvir sons de passos. Ela olhou para trás, num movimento rápido escondeu-se atrás de uma árvore. Esconderijo patético, ela sabia, no entanto, dava-lhe tempo para tirar o arco das costas e mirar a flecha no alvo. Matar uma pessoa não era ser discreta, mas não deixaria ninguém que sabia da sua existência vivo.
Automaticamente, lembrou-se do homem que ela cegou. Foi tão satisfatório, a sensação de finalmente libertar aquele poder que ela pensava ser inexistente. Nunca mais voltou a usar aquele poder, até então.
A curiosidade formigava em sua pele. Ela deveria temer aquele poder, mas estava totalmente rendida a ele. Talvez por ter vivido anos incapaz de ser ela mesma, alguém, Adhara não tinha problemas em aceitar todas as suas partes. Desde suas qualidades até os seus defeitos. E aquelas habilidades não seriam diferente, mas primeiro conversaria com Kastra.
Ela endireitou a postura, a flecha e o arco a postos. E de uma vez, saiu de trás da árvore, pronta para atacar. Ela suspirou em êxtase, era só um cervo.
O majestosa animal pastava tranquilamente naquele dia, Adhara estava apaixonada pelo animal de grande porte. Ela o reconheceu dos seus sonhos que a seguiam desde a infância, e principalmente, o animal que as guiou no dia da sua fuga. Era possível reconhecer um cervo? Bom, aquele era!
Adhara guardou o arco e flecha, em passos lentos indo em direção do Cervo. Ela esperava que ele não tivesse nenhuma atitude brusca ao ponto de a magoar. Mas foi questão de segundos até perceber que o animal também se aproximava.
A mão dela repousou no pêlo dele, acariciando. Era tão macio e quente. O animal fungou mo rosto dela, Adhara sentia aquela mesma energia contato em suas veias.
O cervo baixou-se, um convite silencioso para ela subir nele. Hipnotizada, Adhara o fez, sem pestanejar. Ela sabia que podia confiar nele.
O animal moveu-se, Adhara agarrou o dorso dele, segurando-se durante a viagem. Ele a levaria às ervas que tanto procurava?
Passaram-se horas, os olhos de Adhara sempre abertos e atentos.
Adhara desceu do dorso do animal, pronta para se defender. Ela conhecia o andar de um caçador, afinal seu pai era um. Ela ergueu o arco, mas o animal empurrou com a cabeça, a mão dela, o arco caindo. Adhara ficou confusa. Ela não queria que ela atacasse?
Era para defender-se aos dois. Ela precisava estar viva para ajudar Kastra. O barulho dos passos parecia cada vez mais distante, então o Cervo começou a comer as poucas ervas espalhadas pela terra coberta de neve. As ervas estavam próximas da raíz de árvores, o único motivo que explicava a sua sobrevivência.
Adhara abaixou-se, com um sorriso.
-Tens que despertar...- paredia que o vento sussurava essas palavras
Despertar...
Ela ergueu a mão, esperançosa. Uma esfera de luz apareceu, ela brincou com os dedos, maravilhada. Era tão quente e bonito, transmitia a mesma paz que o sol esbanja.
-Finalmente despertaste, Conjuradora do Sol! - agora não se assemelhava ao vento
Ela olhou para o Cervo, o animal bufou em seu rosto, e então afastou-se dela. Ela o quis parar, mas não o fez. Ela sabia que ele já havia feito a sua parte.
Ela fechou a mão e a esfera desapareceu. Adhara olhou para o céu, era inverno, escurecia muito mais rápido, então tinha que se apressar.
Ela arrancou algumas ervas do solo, confiando que o majestoso animal a trouxe ao lugar certo. Rapidamente, refez o caminho até a gruta. Ou pelo menos, ela foi o mais rápido possível. Foram necessárias algumas horas, mas, felizmente, alcançou o seu destino.
Suspirou em alegria, quando começou a nevar violentamente, a camada grossa de neve destruiria todas as suas pegadas, mantendo a gruta segura.
Mas ela sabia que teriam que se mudar, era inevitável. Vários caçadores abrigavam-se em grutas em dias de temporais para se protegerem.
-Kastra! - exclamou retirando o capuz
Alguns flocos de neve caíram delicadamente no chão, e por mais que Kastra tivesse em agonia, ela não deixou de apreciar a beleza da irmã.
Kastra tinha plena consciência da beleza de Adhara, a irmã mais velha sempre foi alguém com uma beleza impressionante, mas vê-la com um aspecto tão saudável fazia a beleza sobressair-se.
-Eu encontrei as ervas. - sorriu calorosamente
Kastra sabia que Adhara estava orgulhosa de si mesma, por ter conseguido fazer algo para ajudar. O coração da menor apertou, não podia imaginar-se sem a irmã, ela era tão preciosa...
Enquanto esmagava a ervas, fazendo uma pasta verde e densa, Adhara contou sobre os seus poderes. O pouco que sabia sobre isso.
Quando terminou, as irmãs se mantiveram em silêncio, sem saber o que fazer com aquela informação. Sem saber lidar com a fase atual de suas vidas. Eram elas contra o mundo, elas sabiam que difícil teriam mais alguém em suas vidas.
Mais tarde, as irmãs não saberiam o momento, descobririam sobre os Grishas. E ouviriam sobre as histórias da famisa Sakta que libertaria Ravka da cortina densa de escuridão que dividia o país. Mas nesse instante, eram só Adhara e Kastra, aproveitando todos os meios possíveis ao seu favor para sobreviverem.
Anos depois, ambas estariam sobre as garras ambiciosas e sombrias do General Kirigan, dependendo dele para sobreviverem. Mas naquela noite, eram as duas deitadas lado a lado, enquanto Adhara as aquecia.
Sorrisos sinceros e singelos, transmitindo a mesma mensagem de sempre: "eu estou aqui". E apesar da gruta fria e a neve lá fora, o ambiente era caloroso e aconchegante, por conta da presença uma da outra.
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The Myth Of The Sun Summoner
Hayran KurguTodos conheciam o mito da Conjuradora do Sol. As duas versões eram bastante conhecidas. A primeira contava que a Conjuradora do Sol já existiu. Que ela era uma bela mulher, qualquer um rendia-se aos seus encantos, até o próprio Herético Negro. Mas...