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"-Tens que fugir!"

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"-Tens que fugir!"

As palavras desesperadas de Baghra tamborilavam dolorosamente na mente de Adhara.

Ela prendeu o cabelo da irmã, entregando-lhe o arco e flecha. Kastra não se pronunciou diante do desespero de Adhara. Ela sabia que havia grandes chances de nunca mais se verem.

Adhara tocou as maçãs do rosto da irmã mais nova, admirando a beleza dela.

-Aconteça o que acontecer, não voltes para trás. - repetiu Adhara, num fio de voz

A culpa cintilando em seus olhos. Kirigan jamais fora de confiança, mesmo assim ela o permitiu ser alguém na sua vida. Ela o considerou. Ela...ela estava a se apaixonar por ele. Agora seu coração sangrava por conta de uma traição previsível, mas dolorosa do mesmo jeito.

"-Criança tola! Ele está a usar-te!"

Ela sabia que ele estava, pelo menos nisso ele nunca mentira. Só mentiu sobre os seus planos. Ele nunca quis salvar Ravka, ele a queria dominar. Nunca existiu um antepassado de Kirigan, ele era o Herético Negro. Sempre foi ele. O culpado por tudo.

As duas irmãs se abraçaram, dor expressa nitidamente, antes de Adhara se afastar e sorrir para a irmã. Kastra partiu sorrateiramente, pronta para escapulir no meio da noite. A distração era Adhara. A peça necessária era Adhara.

A mais velha foi em passos lentos e desconfiados aos aposentos de Aleksander. Ela tentou fazer o máximo de silêncio enquanto revirava o quarto, em busca dos diários de Mezorst. Baghra o mencionou em algun momento da revelação bombástica sobre o passado de Kirigan.

Adhara deixou um dos vasos cair em seus pés, cacos de vidro se espalhando pelo chão, era o estado do seu coração.

Ela ignorou e continuou a procurar. Folheou ao encontrar o diário, em busca de respostas. O que ela faria teria consequências, ela sabia, mas era a sua vingança contra Aleksander. Ele brincou com o coração dela, ela brincaria com os desejos dele.

-Adhara! - a voz dele ecoou como um relâmpago, cortante e tenebrosa

Ela agarrou o diário com força, atraindo a atenção dele para o objecto. Ele se aproximou para tirar o caderno das mãos dela, mas com a mão livre, ela formou uma esfera de luz.

-Isso é perigoso. - ele avisou

-Como tu! - ela recuou dois passos firmemente - Tu mentiste-me.

-Eu não te menti!

-Tu fingiste gostar de mim! Tu mentiste sobre as tuas intenções. Mentiste sobre a Dobra. Mentiste sobre tudo! Nada foi real. Tentaste implantar a ideia de sermos únicos quando tudo sempre foi sobre ti e esse desejo destrutivo de poder! - a esfera em sua mão parecia mais intensa, assim como o olhar de dor dela

-Eu nunca menti! Iremos governar Ravka juntos. Não precisas fugir, estarás segura, tu e a tua irmã, assim como prometi. - ele se aproximou, o desespero brilhando em seus olhos, mas ela não se deixou levar, não desta vez

-Podíamos realmente governar Ravka. Talvez eu aprendesse a te amar, como tu prometeste hoje mais cedo na floresta. - a esfera enfraqueceu, desaparecendo - Mas estragaste tudo! Nós não somos aliados, assim como me destruíste farei o mesmo contigo. Farei-te sentir esse mesmo desespero, essa mesma dor. - rancor pingava em suas palavras

Houve segundos de silêncio, o olhar dele mudou de desespero para algo obscuro e sombrio.

-Tudo bem! Faz-me o teu vilão! - ele proferiu e logo atingiu-a com um corte

Adhara foi lançada contra uma estante de livros, caindo no chão. Ela levou a mão a costela, sentindo o sangue escorrer pelo corte feito por Kirigan.

Ela lançou um feixe de luz contra ele, o lançando para longe de si. Ela só esperava que Kastra conseguisse fugir. Adhara ergueu-se rapidamente, correndo entre as tendas. Um dos soldados a tentou parar, mas a empatia dela havia morrido a muito, então ela cegou-o, assim como fez ao caçador na primeiro vez que usou seus poderes.

"-Ele é meu filho, por isso necessito o travar!"

Baghra o denunciou por amor. Adhara se vingaria por ódio. Dois lados da mesma moeda. Dois sentimentos igualmente intensos. Aleksander a fez amar e odiar na mesma intensidade. E agora o coração ardia raivosamente como o sol no deserto. Sem compaixão, sem perdão, sem pena. Só raiva.

Com os dedos manchados de sangue, ela voltou a abrir o diário, vasculhando as páginas com desespero. Ela já estava na parte central do acampamento, quando vários Grishas a cercaram. Todos pareciam aguardar por esse momento, a inimiga entre eles.

Adhara olhou para cima, a noite aparecendo discretamente.

-Dá o diário Adhara! Eu irei atrás de Kastra! - Kirigan tinha um ar doloroso, e era perceptível o kefta queimado, assim como a mão dele.

Adhara sentiu a satisfação descer pela sua garganta com os danos visíveis que ela causou nele. Nada comparado ao que ele fez com ela.

-Tu o terás, assim que terminar! - ela disse, fechando os olhos, concentrando no seu poder

A raiva dele se dissipou momentaneamente, dando espaço à angústia. Ela usaria o Mezorst. A traria consequências terríveis. Ela não tinha tanto domínio sobre os seus poderes. As veias amarelas salientes, o fizeram se aproximar.

Adhara abriu os olhos, largando o diário, uma mão em seu peito e a outra estendida em direção a Kirigan. Um feixe luminoso em direção dele. Ele tentou avançar com as sombras, mas luz ardente as fazia desaparecer.

-Adhara! - ele gritou e o acampamento foi engolido por uma explosão cegante de luz.

Todos taparam os olhos, como receio da luz os cegar. Pasmos com o facto de terem uma Invocadora do Sol entre eles, as peças se encaixavam. Por isso Kirigan a manteve tão perto.

Quando a luz cessou, não havia mais nada. Só um rasto fumegante e quente pelo ar que provava os acontecimentos anteriores. Além do diário no chão, manchado com sangue dela. As sombras de Kirigan há muito não existiam. Olhos vazios olhando para a frente.

Ele havia perdido a chance de ser rei, havia perdido aquele poder e principalmente havia perdido Adhara.

Então ele mudou tudo a seu favor, teve que o fazer. Nos séculos seguintes, ninguém mais saberia sobre Adhara, todos a esqueceriam, com a exceção de Kirigan, Ivan e Baghra. Ela não passaria de um mito contado por toda a Ravka. Seja a Nova Pátria, seja a Velha Pátria.

Para Aleksander ela seria mais do que real. Naquela noite, seria a última vez que Aleksander a veria. Ela estaria perfeitamente bem, seu corpo movido pela realização de o ver cair, de o destruir.

Mas mesmo assim, Kirigan a beijaria. Mesmo quando ela proferir que estava morta, fisicamente, ele não se importaria, não naquele momento. Ele a beijou por uma última vez, mesmo quando percebeu que Adhara se divertia com seu sofrimento. Ele a esperaria por várias noites, por vários séculos, mas ela não viria, se degustando com a solidão dele.

Ele procuraria por Kastra, só para descobrir que ela já não estava em Ravka, ele foi traído por um Grisha, um Artesão. Claro que Adhara garantiria que a irmã estava segura.

Ele passaria anos a cultivar aquela solidão e ódio, mesmo a desejando. Até descobrir Alina Starkov. E ele faria do jeito planejado, sem envolver novamente o coração.

Por que ele aprendeu com Adhara, coração trás a ruína!

The Myth Of The Sun SummonerOnde histórias criam vida. Descubra agora