O nosso sistema nervoso autônomo, através do sistema Simpático é responsável pelas nossas ações em momentos de estresse. O sistema fuga – luta, onde noradrenalina é liberada e todo o nosso corpo se prepara para lutar ou fugir. Nossos batimentos cardíacos aceleram, há vasodilatação, nossos brônquios aumentam, nossa pupila dilata. Tudo isso para nos fazer escapar do perigo. Para que possamos sobreviver. É assim que eu me encontro. Pronto para fugir.
O primeiro pensamento que surge em minha mente é de que devo ligar o carro e acelerar pelo estacionamento. Fuga. Ir para o mais longe possível de Simon e a sua pergunta que pode acabar com o futuro de Maxon.
Por que ele precisa se intrometer tanto na minha vida? Parece que ele não aceitou muito bem o meu não e ainda insiste em algo. Eu só não posso permitir que ele comece o seu jogo com Max. Eu preciso despistá-lo.
- O quê? Não! De onde você tirou essa ideia? – Tento parecer surpreso, o que de fato estou, mas tento mostra-lo de que a ideia é absurda. Mas acho que não estou sendo assim tão convincente.
- Você disse que tinha alguém e vocês estavam bem íntimos no domingo. – Ele fala. – Não há nenhum problema se vocês estiverem juntos.
Claro que não há problemas, Simon, não é da sua conta. Ele ainda não superou o fato de eu não ter retribuído o seu beijo, de eu tê-lo negado. Seu ego é grande demais. Ele precisa saber pelo que está sendo preterido. Eu sei muito bem o que se passa em sua cabeça: Por que entre dois homens, ambos jogadores de hóquei, na mesma faixa etária, eu prefiro Max e não ele?
A resposta é bem simples: primeiro que Max não é um cuzão. Ele é o garoto mais doce que eu conheço; segundo, eu o amo antes de saber que o amava, se é que isso faz sentido; e terceiro, você simplesmente não faz o meu tipo, Simon.
- Não, Simon, não estamos juntos, eu tenho sim uma pessoa, mas não é o Maxon. Somos grandes amigos, sou o seu antigo treinador, temos laços muito fortes. Ele conhece a minha ex-esposa, o meu filho. Ele também deve ter uma garota, mas está muito focado em seu desempenho na liga.
Simon avalia bem a minha resposta. Ele não está acreditando em nada do que eu estou dizendo. Estou tão tenso, que por um momento esqueço do plug e dos seus efeitos sobre mim.
- Eu estou indo nessa, Simon, nos vemos no próximo treino. – Digo levantando o vidro e acelerando com o carro. Não espero por sua despedida.
Tento me acalmar. Simon apenas desconfia que Max e eu estamos juntos. Ele não pode provar nada, não ainda. Mas o que ele faria com esta informação? Max está chamando atenção no mundo do hóquei, mas não é uma figura conhecida como algum jogador do último ano em um time universitário prestes a ser draftado ou algum jogador famoso da NHL. Ele pode tentar acabar com a minha carreira também. Onde ele pode chegar?
Tenho muita coisa em minha cabeça. Não dirijo com total atenção. A minha cabeça está em Max e Simon. Como vamos escapar dessa? Só percebo que o carro da frente parou no sinal vermelho quando é tarde demais para frear.
Bato na traseira do carro. O impacto da batida lança o meu corpo para frente, mas graças ao cinto de segurança, não bato com a cabeça na direção. Mas que merda. Agora tenho que lidar com mais essa.
Saio do carro para avaliar o estrago. O meu carro está arrebentado, enquanto o dano no carro da frente foi mínimo. O dono do carro também está do lado de fora avaliando o acidente. Nós trocamos os nossos números e agora tenho mais uma conta para pagar.
Dirijo de volta para casa. Agora mais tenso e mais frustrado que antes. Como, em questão de horas, um homem está vivendo os melhores dias de sua vida e no outro está passando por tantos perrengues? Como tudo pode estar dando errado?