Os garotos estão tensos no ônibus. Estamos indo para rinque jogar as quartas de final do campeonato regional. Eles deveriam estar empolgados. Os Vikings nunca chegaram tão longe no campeonato e podem ter chance de disputar o nacional. Mas vejo que muitos deles encaram a partida de hoje como o fim da linha. Iremos jogar contra os atuais campeões regionais.
Não posso deixar o desanimo tomar conta. Preciso que eles façam uma partida de alto nível, mesmo que acabem perdendo. A derrota precisa vir com o mínimo de dignidade. Eles foram mais longe do que eu imaginei. Nos meus melhores sonhos chegaríamos as quartas de final em três anos, no mínimo.
Deixo que se concentrem. Darei um discurso apenas quando chegarmos ao rinque. Os Dragons também jogam hoje. os encontrarei no vestiário. O jogo deles acontece antes do jogo dos Vikings. Posso lidera-los no gelo. Terei os meus olhos em cada lance. Em cada jogada.
Quando chegamos no rinque, percebo que somos um dos últimos times a chegar. Vejo o ônibus dos Dragons não muito distante do nosso. Há muitos carros no estacionamento. A maiorias SUVs e minivans. O que significa muitos pais assistindo o campeonato dos seus filhos. Descemos do ônibus e vamos em direção ao vestiário. Há jogadores nos corredores, tacos por todos os lugares.
Permito que os garotos troquem de roupa e se paramentem e procuro os Dragons. Eles já estão se aquecendo no gelo. Chamo Egon e ele sinaliza para que os garotos se aproximem de mim. Reviso mais uma vez com cada um deles a estratégia que definimos para o jogo e permito que voltem ao aquecimento enquanto volto para vestiário checar como os Vikings estão.
Faço esse revezamento até o jogo dos Dragons começar. Me posiciono no banco, do lado de fora da parede de acrílico, com os técnicos auxiliares, nosso médico e os jogadores reserva.
O jogo é tenso. Todos estão tensos. Vale uma vaga na semifinal. Nenhum dos times quer perder. Nenhum jogador quer sentir o sentimento de culpa e derrota. Os adversários são agressivos, mas os meus garotos não querem saber de nada e também partem para cima deles. Ainda estamos no primeiro tempo e já temos sangue pingando no gelo. Acho que nem na liga principal eu já assisti um jogo tão emocionante quanto esse.
No primeiro intervalo tento apenas motivar os meninos. Estão fazendo um bom trabalho. Estamos empatados em zero a zero, mas estamos agindo conforme o plano. Não repasso a nossa estratégia, eles parecem saber bem. Os garotos que estavam no banco também dão algumas dicas, é bom ter um olhar sobre o jogo deles também.
O segundo período começa e é agora que começamos a nossa estratégia de ataque. Marcamos dois pontos em nove minutos. Tento não ficar muito empolgado, não contar com a partida ganha. Ainda temos todo o terceiro período e tudo pode acontecer. Mas os garotos não estão para brincadeira. Nos últimos trinta segundos do segundo período marcam mais um.
No banco de reservas, enquanto os garotos tomam bebida isotônica e água, eu faço algumas substituições e relembro a nossa estratégia.
- Vamos fechar a nossa defesa, quebrar todas as oportunidades que eles criarem. Precisamos segurar a nossa vitória, só mandem o disco para a rede se for o único movimento possível.
Juntamos nossas mãos em um círculo e damos um grito. Assisto os garotos voltarem para o gelo e o juiz autorizar o início do último período. É agora. Vamos nos classificar para as semifinais nos próximos quinze minutos. O jogo fica ainda mais intenso. Várias punições são distribuídas para ambos os times. Nós fazemos mais três pontos e o time adversário consegue mandar o disco para a nossa rede no último minuto. Mas não há mais nada que eles possam fazer. Por seis a um nós garantimos a nossa vaga na semifinal. Não poderíamos estar mais animados. Comemoramos muito no vestiário. Os garotos tentam me dar um banho com o gelo do nosso cooler de energético, mas consigo fugir deles.