6 - Jogos perigosos

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Rosalie encarou a xícara de café fumegante. Mal conseguia manter os olhos abertos e qualquer pequeno raio de sol ardia, então estava de óculos de sol mesmo dentro do restaurante. Remexeu seu pedaço de bolo, sem vontade alguma de comer.

Precisava de açúcar e cafeína para ficar acordada, mas só o café passava por sua garganta. Ainda eram os efeitos colaterais do maldito pesadelo. Nikolai parecia cheio de energia e atento como sempre, o que a fez odiá-lo um pouquinho mais naquela manhã. Uma garota alta e esguia, com o cabelo loiro preso no alto da cabeça, se aproximou com um sorriso no rosto. Rosalie apenas suspirou ao ver o olhar de flerte dela e escondeu o rosto entre os braços. Estava cansada demais para lidar com mulheres tentando flertar com ele.

Apesar de ser bem cedo, o lugar estava quase cheio. Ela podia sentir o olhar dele enquanto descansava a cabeça entre os braços.

— Noite ruim? — Nikolai perguntou, começando a suspeitar que ela tinha caído no sono.

— O que você acha? — respondeu com irritação.

Ele sorriu, levando a caneca de café até a boca.

— Que está mal-humorada, mas sei o que pode mudar isso.

Ela arqueou uma das sobrancelhas, seu cérebro assimilando a frase dele ao seu lado mais pervertido. Nikolai riu, como se soubesse exatamente no que ela estava pensando. E provavelmente sabia mesmo. Ele jogou uma sacola parda em cima da mesa, que deslizou até ela.

— Comprei alguns doces. Não faz bem, mas vão te manter acordada.

Rosalie se moveu na cadeira, apoiando o corpo contra o encosto.

— Já tentei o açúcar — indicou o bolo quase intocado em seu prato. — Não está exatamente funcionando.

— Vai funcionar. Confie em mim, conheço formas mais eficientes de se manter acordada do que um bolo.

Ela sufocou uma risada diante da duplicidade de suas palavras. Aparentemente, Nikolai gostava de dizer coisas que tivessem um duplo sentido malicioso.

— Existe alguma coisa que você não conheça? — perguntou ao engolir um pouco de café.

— Sim: como fazer você me contar com o que sonhou ontem à noite.

Rosalie desviou os olhos janela, admirando em silêncio os carros que cortavam a estrada. Nunca tinha contado a ninguém sobre seus pesadelos. De qualquer maneira, não tinha ninguém para quem contar. Não era o tipo que tinha muitos amigos. Na época da escola, as garotas simplesmente a evitavam e os garotos só queriam transar com ela. Se acostumar com a solidão era um caminho sem volta.

— Não gosto de falar sobre isso — murmurou.

Ele avançou os dedos sobre a mesa, como se quisesse tocar a mão dela, mas desistiu e apenas os deixou lá, parados.

— Ter alguém com quem conversar pode ser bom.

— Nem precisa começar com esse discurso — Rosalie revirou os olhos. — Não vou a psicólogos. A última coisa que preciso é pagar alguém para analisar minha vida e esfregar na minha cara todas as merdas que já fiz.

Nikolai suspirou.

— Não estou sugerindo isso, Rosalie. Estou dizendo que ter um amigo, alguém que escute sem julgar, pode ser bom.

Ela sorriu ironicamente, levando bebendo mais um pouco do café.

— Se encontrar alguém que quer ser amigo de uma prostituta com um passado problemático, me avise.

Ele sorriu em retorno.

— Eu estou aqui, não estou?

— Você? — Rosalie riu mais uma vez. — Por que alguém como você iria querer ser meu amigo?

O doce sabor do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora