20 - Promessas

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Nikolai não conseguia decidir se chegar juntar junto da ambulância no hospital era uma coisa boa ou ruim. Tinha acabado de encostar no balcão de informações quando as portas se abriram e dois paramédicos entraram correndo com Ethan logo atrás. Eric estava certo. Ela parecia morta.

— Ela teve uma parada cardíaca! — a frase afundou na cabeça dele.

Era como mergulhar na água congelada. Rosalie estava a um passo da morte e o culpado estava caminhando pelo hospital como se fosse o dono do mundo.

— Eu devia suspeitar que você estaria...

Em um movimento fluido e rápido, Nikolai o ergueu do chão, com as duas mãos fechadas na gola da camisa dele. Ethan arregalou os olhos, encarando a expressão furiosa do russo gigantesco a sua frente. Por um segundo, ele teve certeza de que iria morrer ali mesmo, até que uma enfermeira se aproximou. Ela não era mais alta do que uma criança, mas a expressão em seu rosto era tão ameaçadora quanto a de Nikolai.

— Sem brigas dentro do hospital. Podem ir brigar no pátio se quiserem, mas não vou consertar o nariz quebrado de ninguém. Entenderam?

Nikolai nem ao menos desviou o olhar ao soltar Ethan, que tropeçou ao ser largado, revirando os olhos. Ele deu as costas para a enfermeira e o russo, saindo do hospital enquanto passava as mãos pelo cabelo. Do lado de fora, o frio tinha finalmente atingido a cidade. A entrada do hospital era apenas pequeno espaço decorado com pedras e cascalho. Algumas plantas cercavam o prédio, em uma tentativa de dar vida ao lugar, mas o conjunto de árvores centenárias que o rodeavam bloqueavam o efeito delas.

Ethan deu meia volta, pronto para contar o que tinha acontecido, quando o punho de Nikolai atingiu sua bochecha. Ele saltou para trás, escorregando no cascalho. Uma das mãos apoiou o lugar atingindo, tateando para descobrir os danos. Por pouco ele não tinha ficado com um olho roxo.

— Filho da puta — murmurou.

Antes que pudesse se recuperar, Nikolai o agarro pela camisa de novo e o jogou com força contra a parede. O ar escapou de seus pulmões e, por um segundo, o mundo girou. Suas costas estavam protegidas pelo casaco, mas não sua cabeça. Sua visão voltou ao normal alguns segundos depois e ele tentou ergueu as mãos.

— Tem ideia do quanto custou essa camisa? Ela não foi feita pra você ficar me erguendo do chão.

— O que aconteceu com ela? — Nikolai perguntou.

Sua voz transmitia todo o ódio que sentia. Aquele pirralho abusado estava acabando com todo o esforço que ele teve por anos para se manter sob controle. Nikolai procurou por uma âncora, algo que o mantivesse longe de explodir, antes que acabasse matando-o na frente do hospital. Ethan não parecia muito preocupado.

— Não sei — suspirou ele, a voz saindo arrastada pela falta de ar. — Estávamos conversando quando ela desmaiou. Acho que foi uma overdose.

Um brilho alucinado passou pelos olhos elétricos do russo.

— Você deu drogas a ela? — Nikolai não gritou, nem mesmo alterou o tom de voz, mas Ethan tremeu diante de todas as ameaças implícitas.

O russo o puxou para frente apenas para jogá-lo contra a parede de novo. Ethan gemeu ao sentir a dor latejante atingi-lo com força total. Nikolai era bem eficiente com métodos de tortura improvisados.

— Nós avisamos que ela estava exagerando, mas ela não ouviu. Não aja como se eu fosse o culpado — os olhos castanhos dele se focaram no russo. — Você fez merda, não foi?

A mão de Nikolai cercou sua garganta, o segurando contra a parede.

— Segure essa língua antes que eu te mate.

— Aceite a verdade, camarada. O único culpado aqui é você. Ela só me procura quando está triste e com vontade de usar alguma coisa, o que geralmente acontece depois que vocês brigam — ele riu, mesmo que o ar estivesse ficando ainda mais escasso com Nikolai o segurando daquele jeito. — Agora tudo faz sentido! Você é um babaca e a culpa dela estar morrendo é sua.

Ao invés de manchar sua mão com o sangue dele, como seu instinto o dizia para fazer, Nikolai o deixou cair no cascalho. Não sabia ao certo de onde tinha tirado forças para não esmagar a cabeça dele, mas estava funcionando. Ele se aproximou de Ethan, segurando a vontade de chutá-lo.

— Se ela morrer, nem tente se esconder. Eu vou te caçar e isso só vai tornar as coisas ainda piores — ele não esperou por uma resposta antes de desaparecer.

Nikolai começou a voltar para dentro do hospital, mas desviou o caminho de última hora. Ele não era um homem religioso, mas tinha crescido em uma família católica que ia à igreja todos os domingos. Sentar naquela capela, ainda que ela não fosse nada como as igrejas russas, trazia uma espécie de paz inesperada.

Era como estar em casa de novo, ouvindo suas irmãs conversarem e sua mãe cozinhando. Um refúgio familiar que ele precisava desesperadamente. As palavras de Ethan tinham entrado em sua cabeça. Aquilo era, e não era, sua culpa. Rosalie era instável e estava presa em um ciclo de autodestruição que mais parecia um furacão.

Ele não devia ter a deixado sozinha.

Tinha acabado de perder dois amigos e não queria perder ela também. Não fazia nem um mês desde que tinha visto seu sorriso pela primeira vez e agora não sabia o que ia fazer sem ele. Sua alma parecia saber, desde o primeiro momento, de algo que ele só tinha percebido agora. Rosalie era sua metade perfeita.

Ninguém mais o aceitaria como ela tinha feito porque ninguém mais conseguiria compreender como era estar no lugar dele. Era por isso que ele também perdoava os erros dela. Aqueles momentos de loucura não eram ela. Não, a verdadeira Rosalie era aquela que aparecia quando ela soltava alguma piadinha sarcástica ou quando ela pensava que estava sozinha.

A cantoria, a coragem e o gosto horrível para filmes. Essa era a Rosalie da qual ele vinha fugindo porque tinha medo de que ela o visse de verdade. Agora era tarde demais. Ali estava ele, como um livro aberto, enquanto se colocava de joelhos, e ela não estava ali para ver. Aquela sensação era a que o fazia se sentir culpado.

Se ele tivesse falado a verdade, se tivesse se permitido a admitir o medo que sentia ao pensar que estava se apaixonando por ela, talvez não estivessem naquela situação. Talvez, se Rosalie soubesse que ela tinha sim alguém que nunca a abandonaria bem na sua frente, ela não tivesse ido até lá. Ele odiava aquelas possibilidades, mas, ao mesmo tempo, se agarrava a elas.

Naquele momento, ajoelhado naquela capela vazia, ele acrescentou uma sentença em sua promessa: se ela morresse, ele caçaria Ethan e o faria pagar. Se ela sobrevivesse, ele lhe daria seu coração.

E aí queridas, voltei! Curiosidade: esse capítulo foi, até o momento, o que menos precisou de reescrita

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E aí queridas, voltei! Curiosidade: esse capítulo foi, até o momento, o que menos precisou de reescrita. O texto é quase idêntico ao da fanfic original.
Espero que tenham gostado e vejo vocês amanhã <3

O doce sabor do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora