1 - Rosalie Taylor é um ímã de psicopatas

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Rosalie encarou seu reflexo no espelho enquanto o táxi virava a última esquina. Sempre tinha sido uma mulher bonita, isso era algo que todos os homens faziam questão de deixá-la saber, mas, mesmo sob as camadas de maquiagem, ainda mantinha alguns traços de menina que a desagradavam. Faltava algum tempo para seu aniversário de vinte e um anos, mas já carregava quase quatro anos de profissão.

Uma garota fazia aquilo que tinha de fazer para sobreviver. Tinha sido criada em orfanatos e lares adotivos, mas odiava todos os lugares em que esteve. Os orfanatos eram solitários e, mesmo que alguns dos responsáveis realmente tentassem fazer o melhor pelas crianças, não tinham muito sucesso. Os lares eram apenas uma desculpa para que casais desprovidos de qualquer amor e empatia mantivessem seus vícios sem um emprego. O dinheiro que ganhavam do governo para cuidar e educar as crianças ia direto para o bar e ela era deixada sozinha com uma lista gigantesca de trabalhos. Quando sortudos, as crianças eram apenas tratadas como escravos particulares. Os mais azarados podiam cair nas mãos de homens e mulheres cruéis o bastante para usá-los de outras maneiras.

Ela conhecia bem aquele tipo de homens. Bêbados vinte anos mais velhos, sempre cheirando a cerveja e cigarros, tentando passar suas mãos gordas e sujas em seu corpo enquanto suas esposas estavam distraídas. Bastava apenas uma saída ao mercado ou até mesmo a distância de um quarto para que eles cedessem a tentação de tocá-la. Tinha lidado com dois deles em menos de três anos. O primeiro tinha sido um choque, uma atitude inesperada diante da visão ainda inocente de uma garota de doze anos que acreditava finalmente haver encontrado uma família que pudesse amá-la.

Ainda assim, era uma das sortudas. Sortuda porque teve coragem suficiente para esmagar uma garrafa de cerveja na cabeça do primeiro e quase arrancar o olho do segundo com uma faca. Se meteu em muitos problemas por isso. As esposas se recusavam a acreditar que seus maridos pudessem ser capazes de tamanha indecência, como se fossem verdadeiros príncipes encantados. Era uma benção que ambas tivessem escolhido não envolver a polícia e ela suspeitava que os maridos fossem os responsáveis por isso.

Enviada de volta ao orfanato, sempre ouvia a mesma ladainha dos responsáveis, mas a verdade era que não se importava. Os anos pulando de orfanato em orfanato haviam lhe ensinado algumas coisas. Uma delas era que, quando saísse daquele lugar, nem ao menos se lembrariam que ela tinha existido. Um fantasma entre aquelas paredes, sempre passando desapercebida, incapaz de ser amada.

Assim que completou dezesseis anos deu um jeito de desaparecer antes que alguém notasse. Afinal, quem daria falta de uma garota como ela? Havia pelo menos uma dúzia de adolescentes problemáticas que acabariam mortas ou grávidas, talvez os dois, andando por aqueles corredores. Era como uma sala de espera para a desgraça, e ela não era do tipo que esperava para se foder. Isso havia feito com que deixasse a cidade, completamente sozinha e carregando traumas até o pescoço. Com apenas alguns dólares no bolso, pegou o primeiro trem na direção de Nova York, rezando para que o dinheiro conseguisse levá-la até um lugar seguro.

As luzes da cidade sempre haviam sido seu sonho.

Mal tinha pisado fora da estação da cidade e foi abordada por um estranho. Ele não deveria ter mais do que trinta anos, cabelos loiros e olhos azuis vibrantes, com um sorriso caloroso. Ele não parecia nojento como os monstros dos lares, muito pelo contrário. Até mesmo havia se oferecido para lhe pagar um café e talvez um jantar, se concordasse em fazer o que ele queria. Seu primeiro pensamento diante da ideia de fazer sexo por dinheiro foi repulsa. Pelo que sabia, sua mãe poderia ter sido uma puta, e ela, fruto de uma "foda descuidada". Mas não demorou muito para perceber que não iria sobreviver por ali mais do que alguns dias sem mais dinheiro.

"Por que não?" A pergunta ecoava dentro da sua cabeça enquanto o encarava. O demônio voraz dentro de suas entranhas estava adormecido, mas não por muito tempo. Conseguia sedá-lo com remédios roubados aqui e ali, e as vezes, álcool, mas, nunca era o suficiente. Ele sempre voltava para mais, mesmo que ela rezasse e implorasse para que aquela tortura acabasse. Na maior parte do tempo, conseguia lidar com aquele parasita vivendo em sua boceta, porque não havia forma alguma de que vivesse em outro lugar, mas alguns dias eram ruins. E quando eram ruins não existia nada que pudesse fazer para amenizar isso.

O doce sabor do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora