28 - Drama inofensivo

188 29 3
                                    

— Você não ouviu uma palavra do que eu disse. O que aconteceu? Por que você está com essa cara triste desde que chegamos? — Rosalie se virou em sua cadeira, abandonando seu telefone e dedicando toda a sua atenção a Nellie.

A ruiva suspirou, dando de ombros.

— Só estou triste. É um dia daqueles, sabe? Em que parece que os remédios não fazem efeito nenhum e eu só quero ficar na cama.

Rosalie agarrou sua mão.

— Sei como é.

— Sei lá, tenho me sentindo mais solitária ultimamente. Depois que meu primo veio morar na cidade, meu tio começou a querer que eu volte para casa. Taylor ainda está tomando conta dele, mas as coisas não estão bonitas. Ele não vai viver muito mais tempo.

Ela suspirou, jogando a cabeça para trás. A amizade entre as duas tinha crescido durante os meses e agora era quase como se sempre tivessem sido amigas. Rosalie sabia tudo sobre a infância conturbada dela, a morte de seus pais e como foi crescer sendo criada pelo tio excêntrico. Nellie tinha um irmão mais velho e dois primos próximos, mas eles só pareciam deixar a vida dela ainda mais difícil.

— Você não quer voltar? — Rosalie perguntou, genuinamente querendo saber a resposta.

Nellie era a única amiga de verdade que tinha naquele momento. Não queria perdê-la.

— Será que eu seria uma pessoa ruim se dissesse que não? Amo meu tio e a minha prima, e sou grata por tudo o que fizeram por mim, mas aquele lugar... Ela queria que eu virasse uma espécie de enfermeira particular e só consegui entrar na faculdade porque meu irmão bateu o pé. Só Deus sabe o que vai acontecer se eu voltar.

— Eles sabem sobre o que aconteceu?

As duas trocaram um olhar cheio de compreensão. Elas nunca usavam a palavra "suicídio", mas o assunto era recorrente. Fazia parte do apelo que aquela amizade tinha: não precisar esconder suas maiores falhas.

— Sim e não. Sabem que fiquei no hospital por um tempo e que abandonei a faculdade, mas não o motivo. Acho que é por isso que querem que eu volte. Eles pensam que larguei tudo por preguiça — um sorriso cansado surgiu no rosto dela.

— Ainda bem que isso não é da conta deles. Vou soar exatamente como Camille agora, mas cada um leva o seu tempo até melhorar. Você já está bem melhor do que eu, acredite. Daqui a pouco vai voltar para a faculdade e a sua vida vai voltar aos trilhos.

Um sorriso triste surgiu no rosto dela.

— Espero que você tenha razão. Agora as coisas não parecem muito promissórias.

Rosalie não conseguiu fingir não ver o olhar cheio de esperança que a ruiva lançou na direção da porta. Ela não precisava se virar para saber o que ela estava olhando. Ou melhor, quem. Nellie tinha se apaixonado por Dominic assim que colocou os olhos nele, mas as coisas não tinham progredido muito depois disso.

As coisas eram complicadas. Rosalie não tinha permissão de dizer a Nellie o que realmente estava acontecendo, mas ela sabia que a amiga precisava de segurança vinte e quatro horas por dia. Elas costumavam brincar, Nellie dizendo que Rosalie devia ser filha de algum figurão cheio de dinheiro, mas sem realmente fazer perguntas sérias.

Ela tinha simplesmente aceitado a explicação fajuta que conseguiu, sem questionar.

— O que ele fez agora? — Rosalie suspirou, pronta para atravessar aquela sala e exigir algumas respostas dele.

— Nada. Esse é o problema — Nellie jogou os braços para o alto, praticamente se deitando na cadeira. — Quando estamos juntos é legal, mas é só isso. Eu quero mais e ele não sabe o que quer. É um saco.

O doce sabor do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora