29 - Rebeldia

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A cafeteria era pequena e aconchegante. Por fora, era apenas um prédio normal com paredes brancas, mas por dentro era mais como uma floresta enclausurada em uma caixa. Painéis de madeira eram intercalados com o papel de parede verde musgo e as mesas eram de madeira resistente, assim como as cadeiras.

Rosalie pegou uma das últimas mesas, se sentando de frente para a porta. Ao longo dos meses, tinha aprendido as regras de ser uma "fugitiva":

1 - Jamais deveria se sentar de costas para a saída.

2 - Nunca deveria levantar a cabeça quando chamassem seu nome.

3 - Não ser fotografada.

4 - Não frequentar multidões a menos que um de seus guarda-costas estivessem a seu lado.

5 - Sempre estar armada, mesmo que não soubesse exatamente como usar uma arma.

6 - Sair ao primeiro sinal de ameaça.

E, acima de tudo:

7 - Estar pronta para recomeçar a qualquer momento.

Ela tinha aprendido a ser tão invisível quanto poderia ser. Não era fácil, mas estava se acostumando aos poucos e não seria para sempre. Osman estava caçando todos que tinham aderido à ideia de sequestrá-la. Em alguns meses ela poderia parar de olhar sobre o ombro e ter uma vida relativamente normal.

— Então, me diga como foram as coisas depois que sai — Rosalie disse enquanto se inclinava no banco.

— Não fiquei na cidade muito tempo depois disso. As pessoas continuavam agindo como se Brandon fosse um santo. Colocaram uma maldita placa na cidade em homenagem a ele, acredita?

Toda a irritação transparecia nos olhos de Liam, que continuavam a faiscar. Com aquela camisa de flanela e os jeans surrados, ele era quase o mesmo garoto com quem ela tinha crescido.

— Se soubessem o que nós sabemos, não se importariam tanto com a morte dele — ele revirou os olhos.

Ela respirou fundo e traçou as linhas da mesa com o polegar.

Algum tempo atrás, ela teria odiado que ele falasse assim. Agora meio que concordava com ele. Aquele sentimento de culpa era o assunto mais comentado nas sessões de terapia. Rosalie costumava ter certeza de que era uma assassina, mas agora as coisas estavam borradas.

Não existiam provas concretas de que ela fosse culpada. Camille dizia que seus sonhos podiam ser uma forma de estresse pós-traumático combinado com o efeito das drogas daquele dia. Uma grande parte dela realmente queria que a psicóloga estivesse certa.

— Fui para Chicago uns dois meses depois e vim para cá no começo do ano por causa do trabalho.

— Com o que você trabalha, afinal?

A luz do sol brincava no rosto dele, transformando o azul de seus olhos em quase transparente.

— Negócios — ele sorriu. — E você, por onde andou? Todo mundo ficou se perguntando para onde você foi depois que fugiu.

Ela bufou e tirou alguns fios de cabelo que lhe caiam sobre os olhos.

— Eu não fugi. Só sai para explorar meu potencial — deu de ombros.

— Ah, claro. Obviamente você se deu bem.

A garçonete voltou trazendo duas xícaras. Rosalie suspirou ao sentir o cheiro de café e biscoitos. Cafeína e açúcar eram algumas das coisas que ela mais amava nessa vida. A garçonete mal tinha colocado o prato sobre a mesa quando Rosalie enfiou um dos biscoitos na boca.

O doce sabor do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora