12 - A solução para todos os seus problemas

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Rosalie acordou, horas depois, sentindo como se semanas tivessem passado. Ela apoiou a cabeça nas mãos, fazendo um inventário dos danos causados na noite passada. Além da dor de cabeça e do enjoo, seu nariz estava sensível e ardendo. Levantou a cabeça e encontrou o quarto completamente escuro.

Cambaleando, ela abriu as cortinas, sendo atingida pela luz baixa do sol. Fechou os olhos de novo, tentando protegê-los da luz, e se afastou da janela, indo em direção ao banheiro. O rosto no espelho estava amarrotado, marcado e manchado de maquiagem. Ainda estava usando o mesmo vestido, mas não sabia onde estava sua calcinha.

A vergonha a atingiu como um trem. Como sempre, se sentia suja por ter se deixado levar por Ethan e sua necessidade de se sentir desejada. Ela desviou os olhos do reflexo no espelho, não aguentando encarar o próprio julgamento. Ela se enfiou no chuveiro logo em seguida, deixando que a água lavasse um pouco daquele sentimento.

Quando finalmente desceu até a cozinha, estava usando pijamas e trazia o cabelo enrolado em uma toalha. A casa estava silenciosa como um tumulo, sem nenhum sinal de que Nikolai estivesse por perto. Mal tinha se sentado na mesa da cozinha, com um "café da manhã" de cereal e leite, quando ele entrou em casa. O som da porta da frente batendo a fez pular como um gato assustado.

Esticou a cabeça para trás, quase caindo da cadeira, a tempo de vê-lo passar e subir as escadas. Engoliu com dificuldade, enfiando outra colherada de cereal na boca. Nikolai parecia ter chegado de uma corrida, o cabelo molhado de suor e os músculos corados pelo sol. É claro que ele gostava de correr sem camisa. Sua expressão estava ainda mais fechada e séria e ele nem olhou na direção dela antes de desaparecer no andar de cima.

Rosalie respirou fundo. Nunca tinha visto o rosto dele daquele jeito. Isso era tudo o que ela precisava saber para ter certeza de que tinha fodido tudo. O arrependimento deixou um gosto amargo em sua boca. Eles estavam indo bem com sua amizade torta e desajustada. Por que ela tinha sempre que ser uma filha da puta e estragar tudo?

Ela piscou com força através das lagrimas, se recusando a chorar. Acabou com o cereal sem sentir o gosto e lavou a louça na ponta dos pés, com medo de que ele pudesse ouvi-la. Era estranho como ela não fugia de conflitos, mas odiava pensar que tinha decepcionado alguém. Talvez fosse mais fácil se ele simplesmente gritasse com ela e acabasse logo com aquilo.

Esperar era a verdadeira tortura. Ela escovou os dentes e se arrastou de volta até a sala em silêncio. Agarrou o controle e começou a mudar de canal, sem prestar realmente atenção. Ela tremeu ao ouvir os passos descendo as escadas. Mordiscou a ponta da unha enquanto eles seguiam até o corredor e desciam pela cozinha.

— Rosalie, vem aqui — a voz dele ecoou pela casa, grossa e profunda, chegando até ela com uma tonalidade irritada e sensual. — Agora.

Ela saltou para fora do sofá, sentindo as mãos tremerem.

— Puta que pariu — sussurrou ao desligar a TV.

Ele estava de pé no meio da cozinha, gigantesco e mal-humorado. Determinada a não demonstrar nada, ela foi até o balcão e se apoiou nele casualmente. Nikolai se aproximou, mantendo a aparência feroz que tinha quando entrou na casa, chegando perto o suficiente para fazê-la perder o ar.

Seus olhos brilhavam na luz da tarde, transformando-o em um predador perigoso.

— Só quero que me diga por que você fugiu.

Rosalie respirou fundo, procurando força para argumentar. Era difícil formar uma linha de pensamento coerente quando não sabia realmente quais eram seus motivos. Birra? Impulsividade? Algo muito mais profundo e conectado ao seu passado?

— Porque eu quis — cruzou os braços.

— "Por que eu quis" não é um motivo.

— É sim.

Rosalie sabia que soava como uma criança birrenta. Ele revirou os olhos e esfregou o rosto com as mãos. Abaixo da sua habitual expressão fria, ele parecia cansado. Ela podia ver as olheiras começando a aparecer, provavelmente por culpa dela.

— Então você arriscou a sua segurança, e, devo dizer, o meu pescoço, simplesmente porque sentiu vontade? Pensei que você fosse melhor do que isso.

As lágrimas começaram a surgir de novo, inundando seu peito.

— Osman não pode me dizer o que fazer. Eu sou uma mulher adulta. Cuidei de mim mesma a vida inteira e não é agora que vou ser controlada por alguém que nunca vi. Especialmente quando ele quer que eu fique presa nessa porra dessa casa, como um maldito passarinho em uma gaiola dourada, completamente sozinha.

Isso ele conseguia compreender. Nikolai sabia o que era se meter com pessoas como Osman. Seu pai não tinha sido muito diferente dele, mantendo a esposa presa em uma casa bonita e só aparecendo quando queria. Rosalie podia ser impulsiva, mas ele entendia o sentimento de impotência.

— Você não estava sozinha. Alex e Eric estavam bem aqui.

Ela revirou os olhos.

— Ela me olha como se fosse pular no meu pescoço e eu mal troquei meia dúzia de palavras com Eric. Ele nem ficou dentro da casa! Em que universo isso não é ficar sozinha?

Nikolai soltou um suspiro derrotado. Levou uma das mãos até a ponte do nariz, a pressionando com força. Aquela mulher iria ser o fim do que ainda lhe restava de sanidade. Se ao menos ele soubesse o que ela queria... Quem sabe assim ele não pudesse deixá-la feliz.

— O que tem de tão especial naquele garoto? O que te faz abandonar tudo e arriscar a sua segurança por ele? Eu preciso saber, por favor.

— Ele não me deixa sozinha. Ao contrário de você.

Nikolai franziu o rosto.

— O quê?

— Desde que chegamos, você se tranca naquele escritório todos os dias e mal olha na minha cara. Que tipo de amizade é essa?

Ele a encarou, sem saber como responder. Não era uma amizade porque ele não queria que fossem amigos. Ele queria rasgar as roupas e foder aquela garota abusada até que não pudesse sentir as próprias pernas. E se trancava no escritório porque sabia que não podia fazer isso. Era mais fácil lidar com a tentação quando ela não estava andando na sua frente, convidativa e cheirando a morangos.

— Então essa é a sua desculpa? Que estava sozinha e insatisfeita com a maneira como te trato?

— É — ela ergueu o queixo, confiante em seu argumento final. — Você me deixou sozinha nessa merda de casa vazia e foi atrás da sua namorada. Se você pode sair para foder alguém, eu também posso.

O silêncio pairou entre eles, se agarrando em suas roupas e preenchendo o espaço vazio. Os dois se encararam, sem dizer mais nada, e Rosalie assistiu enquanto as emoções passavam por trás dos olhos dele. Ela não sabia quais eram, ou o que aquilo significava, mas o modo como ele ajustou sua postura enviou arrepios perigosos por entre suas pernas.

— Era isso o que você queria? Sexo?

— O quê? — ela engoliu em seco ao perceber que tinha perdido o controle da discussão.

Nikolai gostou da maneira como os olhos dela aumentaram, se tornando suas bolas cor de chocolate. Encarando-a de cima e tão de perto, Rosalie parecia ainda mais como uma boneca. Baixinha, com aqueles olhos gigantes e boca delicada. Ele sabia que podia erguê-la com apenas uma das mãos e esmagá-la contra aquele maldito balcão.

— Se eu te foder, vai parar de fazer merda e transformar a minha vida em um inferno? — as palavras escorregaram para fora de sua boca.

Uma parte dele já se arrependia de ter dito aquilo, mas agora era tarde demais. Ela seria uma recompensa ou um momento de desvio de caráter. Ele só não tinha decidido ainda qual dos dois.

— Sim — ela sussurrou, a única palavra quase inaudível diante das batidas erráticas de seu coração.

O doce sabor do pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora