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Emily Jones
Certo, o problema era que esquecer aquele garoto seria mais difícil do que Emily havia imaginado.
À noite, não conseguia dormir pelo fato de não sentir o menor pingo de sono. O que havia acontecido naquela noite a deixou eletrizada. Seu coração batia rápido, relembrando de tudo. Não poderia contar à sua mãe... Então decidiu guardar aquela ansiedade para si. Todos os sentimentos que brotavam dentro de seu peito, ela escondia. Suspirou.
O que os olhos não vêem, o coração não sente. Certo?
Esperava muito que fosse. Se forçou a fechar os olhos. Em algumas horas seria sábado. Estaria livre, poderia estar com a cabeça longe o tempo que quisesse. Por fim, a paz que tanto queria lhe preencheu a alma. Emily suspirou mais uma vez, antes de tentar ter pensamentos bons para cair no sono.
Era assim que fazia. Alguns contam carneirinhos, outros abraçam bichos de pelúcia, já ela pensava em coisas boas. Isso fazia seu coração regular as batidas, junto com sua respiração. Dormiu. Profundamente. Mergulhando em um mar de sonhos naquela noite.
No dia seguinte, Emily levantou e pôs os pés para fora da cama, tocando o piso frio de madeira, do jeito em que havia se acostumado. Sua mente ainda estava em processo de acordar quando virou a cabeça, olhando para a janela. Andou devagar até ela, tocando o vidro com sua mão. O frio dava a sensação de congelar, por sua mão estar tão quente e lhe causar um "choque".
Emily suspirou e olhou para fora da janela. Sua respiração a embaçou, lhe dando a chance de fazer um desenho sobre a superfície.
- Querida? - Ouviu a voz de sua mãe. Emy se virou de imediato a encontrando encostada no batente da porta. - Terei que ir até o mercado, quer vir? Isaac aceitou.
- Sim, vou. Posso trazer as compras de volta?
- Claro - Marta sorriu.
Fora rápida a ida ao mercado. Estava vazio e as compras de sua mãe foram pequenas. Com duas sacolas, Emy pouco se incomodou em levá-las para a casa. Isaac e Marta pararam em uma loja de brinquedos, e lá ficaram, pelo menos foi isso que Emily viu antes de se separar deles. Suspirou enquanto caminhava, imaginando o que iria fazer assim que chegasse em casa.
- Ah! - Esbarrou nos ombros de alguém. Fora tão forte que derrubou uma das sacolas de sua mão. - Desculpe, desculpe - dizia em automático enquanto se agachava para pegar as compras.
Mal fez questão de ver com quem havia dado o encontrão, apenas se preocupou em se fastar e evitar mais vergonha.
- Emily? - Ao ouvir aquela voz, Jones sentiu seu sangue gelar.
- Thomas?
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Thomas Shelby
O garoto descia uma rua estreita naquele dia, despreocupado, as mãos nos bolsos e o cabelo despenteado, a caminho de casa. O problema foi quando teve de passar por um beco, onde ouviu a voz familiar de dois garotos.
- Você não vai nos enganar de novo, idiota - um deles falou, com escárnio. - Qual seu nome?!
O garoto ao seu lado estralou os dedos do punho fechado na mão. Thomas quase riu. Se aquele seria o dia de sua última briga, que fosse então com classe.
- Jesus de Nazaré, - falou ele ignorante - agora deixem-me passar.
Os meninos ameaçaram avançar. Podiam ser fortes e altos, mas Thomas era inteligente o bastante para saber onde dar seus socos certeiros. Arthur havia lhe ensinado o bastante e estava na hora de colocar os aprendizados em prática.
De fato haviam sido vários golpes, um atrás do outro, e no fim da briga, as únicas coisas que Tommy havia ganho foram uma boca sangrando, uma maçã do rosto vermelha e um corte na testa. Isso era pouco comparado ao garoto que ele deixou de olho roxo e o outro que quase quebrou o nariz. Havia se saído bem no fim das contas.
Quando finalmente saiu daquele maldito beco, apenas reparou em seu estado ao ver seu reflexo em uma vitrine de loja. As calças estavam sujas, como sua camisa branca, meias e sapatos.
- Ótimo, tia Polly vai me assassinar - Thomas revirou os olhos e por fim, tocou seu lábio inferior e olhou para seu polegar vermelho.
Sorriu orgulhoso. Havia ganho aquela briga.
***
Emily Jones
Emily, assim que levantou a cabeça, olhou atenta ao rosto do garoto, e reparou que sua boca sangrava, enquanto seu rosto tinha machucados que pareciam recentes.
- O que houve?
- Nada - Thomas balançou a cabeça, mas quando Emily continuou o olhando ele desistiu de esconder. Os dois se levantaram. - Aqueles otários que estavam te enchendo ontem a noite...
- Oh, não... - A menina murmurou, nervosa. - Quiseram vingança, não é?
- A briga foi feia, mas um deles ficou com o olho roxo... - Thomas a olhou e sorriu atrevidamente.
Emy sorriu também, mas na tentativa de não rir, balançou a cabeça.
- Eram dois burros, só perceberam que era você um dia depois.
Os dois deram risada, sobrando por fim apenas um olhar inesperado de preocupação vindo de Jones que caia sobre Thomas.
- Precisa de ajuda... Com os cortes? - Perguntou sem jeito.
- Não se preocupe - o garoto fez pouco caso.
- Não... Você já me ajudou tanto, deixe-me retribuir.
Thomas parecia surpreso.
- Se insiste - franziu os lábios. - Minha tia deve ter curativos...
Jones então sentiu o arrependimento da oferta. Não se esquecera que Tommy ainda levava o sobrenome de uma família complicada. Ele até poderia não ser uma pessoa má, mas e as outras pessoas? Seriam assim?
- Você está bem?
A menina piscou, voltando à realidade.
- Sim, eu só... Apenas preciso deixar isto em casa - olhou para os braços.
- Companhia nunca é pouco, posso? - Thomas ofereceu uma das mãos para a sacola.
- Obrigada - a jovem lhe deu uma delas e assim, caminharam juntos até sua casa, da mesma maneira como na noite anterior. A sensação era perigosamente boa, até confortável.
Assim que chegaram à porta, Emily correu para dentro, com as compras, as deixando em cima da mesa, porém congelou no caminho de volta. Estava fazendo o certo?
Sua mãe sempre dizia para que ouvisse seu coração, e ele dizia em todas as línguas possíveis para ajudá-lo. Tudo devia ser recompensado em algum momento. Thomas fora gentil com ela, por que não o contrário? A questão era: ouvir seu sentimental ou racional?
Seu sentimental, via Tommy apenas como um garoto com um sobrenome bonito. Já seu racional dizia para ser visto o lado pessimista das coisas.
- Ouvir o coração, ouvir o coração - A menina repetia para si, em baixo tom, voltando para fora.
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𝙊𝙨 𝙄𝙧𝙢𝙖̃𝙤𝙨 𝙎𝙝𝙚𝙡𝙗𝙮
FanfictionEmily Jones era apenas uma criança quando ouviu sobre os jovens irmãos Shelby. Após esbarrar com um deles, o aviso de sua mãe a fez repensar. Eles seriam maus? Tinham quase sua idade... Devia temê-los tanto assim? Bom, uma amizade - ou não - lhe tra...