Capítulo XVIII

6.9K 680 154
                                    

***

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

***

Emily Jones

Outra batida na porta.

Em todos aqueles dias, sem seu irmão do lado, Emily sofria com a cobrança de aluguel em casa. Imaginava que o imóvel era um presente de seu tio quando criança, mas seria inocente demais pensar tal coisa.

Na verdade, sua mãe trabalhava tão arduamente, para conseguir pagar o bendito aluguel, sem deixar que os filhos soubessem. E obviamente, sem Isaac, o dinheiro que apenas Emily recebia começou a não ser o bastante.

Aquilo estava lhe matando, acabando com suas noites e interrompendo seu sono.

- Não sei mais o que fazer - ela terminou de falar à Patrice, sua amiga de trabalho, enquanto se debruçava em mais e mais confecções.

Quanto mais melhor, pensava ela, imaginando como sua chefe diria.

- Oh, Emily - murmurou a amiga. - Queria que fosse morar comigo, se ao menos houvesse espaço para você...

Emily sabia. Patrice morava sozinha, em literalmente uma casa de apenas um dormitório.

- Não se preocupe, Trice. Tudo... tudo dará certo - Emily incentivou, querendo ela mesma acreditar no que dizia.

***

Naquele fim de tarde fria, assim que chegou em casa, Jones tirou o casaco pesado de seus ombros, o deixou nas costas do sofá e se derrubou no mesmo. Estava exausta. Tentava trabalhar em dobro pelo dinheiro, mas aquilo apenas a desgastava. Ela respirou fundo.

De repente, o telefone toca.

Pousado sobre uma das paredes, do castiçal já se era possível ouvir o som estridente. Apressada, Emy correu, ansiosa para por o bocal em seu ouvido.

- Emily Jones? - Ela ouviu uma voz familiar.

- Sim?

- Aqui é o doutor Walkins, do hospital. - Um suspiro pela linha. - Senhorita, tentarei ser breve. Cuidei para conseguir executar a cirurgia o mais rápido possível, mas seu irmão havia perdido muito sangue, e ao fazer a retirada da bala... Ele acabou não resistindo, senhorita. Sinto muito.

Emily parou de respirar. Não pensava. Não acreditou no que ouviu. Mal conseguia abrir a boca para responder. Seus batimentos cardíacos diminuíram de fortes como um tambor, até como os de alguém adormecido. O telefone cairia de sua mão se não tivesse o segurado com mais força.

- Obrigada, doutor - respondeu com enorme esforço, segurando o choro antes de o pôr no gancho. - Boa noite.

Sem forças para continuar de pé, Emily deslizou até o chão, atônita o bastante para não conseguir chorar.

Cobriu sua boca com uma das mãos e alí sim, toda a realidade caiu sobre suas costas, com o peso do mundo. Tudo o que sentiu ser retirado de seus ombros no dia do hospital, voltou, mas desta vez multiplicado por mil. Emily começou a chorar.

Seus olhos e seu coração choravam ao mesmo tempo. Os pulmões pareciam se dilacerar a cada suspirada e sua garganta doía de tanta tensão. Todo o ar quente e, de repente, asfixiante da casa, a fazia se enjoar.

Ar, preciso de ar.

Emy se levantou e correu até a porta. Se chorasse da maneira que estava no chão, iria se afogar nas próprias lágrimas. Assim que abriu a maçaneta o mais rápido que pôde, um vento gelado chegou em seu rosto, raspando com força sua pele e jogando seus cabelos para trás.

Desceu os degraus de casa e foi até a calçada. Segurou a saia de seu vestido e correu. Correu até não conseguir mais. Sem rumo algum. Chorava enquanto o sol descia no horizonte e as lágrimas por seu rosto.

Naquele momento não se importava com nada. Doía só de pensar que sem seu irmão nem sua mãe, Emily estava sozinha. Os sorrisos, as gargalhadas gostosas, os olhares doces de Isaac, simplesmente nunca mais os teria. Não teria mais a quem ir em festas acompanhada. Não teria mais ninguém para poder proteger e amar.

À medida que se cansava, os passos começaram a ser mais lentos, as suspiradas se tornaram mais fortes e controlas, e as lágrimas secaram em seu rosto. Mas Emily ainda estava de coração partido, tão fundo no peito que mal o sentia bater. A alma estilhaçada.

Andando de cabeça baixa, segurava os braços na tentativa de se proteger do ar frio da noite. Fora ali que começou a sentir os pingos de chuva caírem em seus ombros. Mas pouco se importou, nem mesmo se os céus caíssem sobre sua cabeça.

Subitamente, um suave som de motores romperam os murmúrios da chuva.

- Emily?

Jones não precisou levantar a cabeça para reconhecer aquela voz.

- Estou bem, Thomas - falou ela, segurando seus braços com mais força, tentando manter a voz firme.

- Por que está na chuva?

- Me deixe em paz - respondeu, mantendo seus passos duros no chão.

Silêncio. O som de motores a seguia, acompanhado da melodia da chuva.

- Entre, vou te deixar em casa.

- Por Deus, Thomas, me deixe em paz! - Resmungou Emily ainda forçando suas pernas a se moverem, mas seu coração não aguentou desta vez e em silêncio, ela voltou a chorar.

Por um momento, o som do carro parou. As rodas não giravam mais pelo asfalto molhado, e ali só se pode ouvir passos. Chuva, pingos e passos. Emily não conseguiu distinguir quais eram seus e quais os de Thomas, mas tinha certeza se que ele se aproximava. Ela parou.

- Olhe para mim - ele pediu.

Toda sua tristeza não dera espaço para o orgulho, pois Emily se virou segundos depois, e Thomas estava alí. Sua boina estava molhada, assim como suas roupas e seu rosto. Ele e ela não tinham estados muito diferentes.

- O que houve?

Uma avalanche de memórias. Dores. Raiva. Tristeza. Tudo o que Emily passou em todos aqueles dias e anos. Seu irmão, sua mãe. Havia perdido todos. Sobrou-lhe apenas a solidão. Sua alma, despedaçando-se em milhões de pedaços. Seu coração, apertado, prestes a explodir. Lágrimas. Mil e uma delas.

De repente, a onda de lembranças, que a fez olhar o homem a sua frente com outros olhos. O dia que apareceu na costureira, quando encontrou aquelas íris azuis. Antigas memórias. Sorrisos. Risadas. Um beijo... Lembranças felizes e alegres que ela guardaria para sempre.

E ali, Emily não disse mais nada. Apenas correu. Mas desta vez, em direção de quem a olhava com compaixão. Não pensou. Não tinha tempo, nem cabeça para isso. Apenas o abraçou querendo poder segurar algo que não fosse seus braços. Abraçar algo que não fosse a si mesma.

Seu maior alívio foi Thomas não ter se separado. Mesmo debaixo da chuva, encharcado, ele a abraçou de volta. Não era um ato romântico. Era algo que apenas se precisava. Necessitava de um abraço forte.

Um amigo. Alguém que lhe conhecia desde jovem. Alguém... Verdadeiro.

- Meu irmão... - Emily balbuciou em meio a soluços. - Faleceu.

Silêncio. A chuva encobria os sons de choro. Mais silêncio. Quando Emily imaginou que aquele seria o momento em que Thomas lhe soltaria, apenas sentiu ser mais abraçada.

- Não se preocupe, não sairei daqui - foi o que ele disse, ao pé de seu ouvido.

E alí, debaixo da chuva, aos braços de Thomas Shelby, Emily Jones, caiu em lágrimas.

***

𝙊𝙨 𝙄𝙧𝙢𝙖̃𝙤𝙨 𝙎𝙝𝙚𝙡𝙗𝙮Onde histórias criam vida. Descubra agora