Capítulo XIII

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Emily Jones

Assim que começou a piscar, Emily tentou se sentar na cama, porém se arrependeu no mesmo instante. Sua cabeça começou a latejar impiedosamente, a fazendo por a mão na testa.

- Dor de cabeça, não é? - Emily ouviu uma voz desconhecida.

- O que..? - Murmurou olhando em direção à porta.

Segurando um copo d'água, uma mulher de meia idade e bem vestida a olhava docemente.

- Perdão… Mas onde estou?

A mulher saiu da entrada e se aproximou da cama.

- Sou Elizabeth Polly Gray e não se assuste, você está em minha casa. Sou tia de Thomas. São amigos, não é?

Emily piscou mais algumas vezes. Eram muitas informações para absorver. Olhou em volta, observando o quarto, a cama em que estava, até mesmo a grande janela, coberta por cortinas. Estava na casa de uma Shelby? Desde ontem ela e Thomas viraram amigos?

- O que houve ontem a noite?

Polly suspirou antes de se sentar na cadeira ao lado da cama e dizer:

- Thomas bateu na porta, com você apoiada nos braços… Alcoolizada.

Oh, não, foi o que Emily pensou. O pior era que se lembrava como havia acontecido, pelo menos como começou. Tinha pedido algo fraco, o homem lhe deu uma taça de Martini, mas acabou tomando demais…

A mulher a sua frente, assim que percebeu sua expressão assustada, falou, depois de rir:

- Thomas lhe tirou do Garrison antes que fizesse alguma bobagem, não se preocupe. Aliás, como se chama?

Cabelos castanhos, em cachos sedosos, adornavam o rosto da mulher, onde, por mais que tivesse idade, poderia ser considerada no mínimo conservada. Era uma Shelby, mas não era ameaçadora, pelo menos não parecia ser.

- Sou Emily Jones.

- Emily Jones - repetiu Polly. - Tenho a impressão que já ouvi esse nome… Como você e Tommy se conheceram?

Emily não queria falar tanto sobre, estava atordoada demais para ter aquele assunto.

- Bem, foi a muito tempo, éramos crianças. Uma longa história - tentou sorrir. - Me desculpe o transtorno, Sra. Gray. Realmente me perdoe - disse se levantando da cama.

- Espere - Polly se levantou. - Tome um copo d'água pelo menos, duvido que tenha se recuperado tão fácil assim.

Emily percebeu que tinha razão. A tontura lhe atingiu rapidamente, a ponto de aceitar o copo nas mãos de Polly.

- Vejo que está melhor.

Emily levantou a cabeça. Sempre sentia um arrepio quando ouvia aquela voz. Um arrepio bom, ainda mais vendo Thomas Shelby lhe encarar, encostado no batente da porta do quarto.

- Preciso lhe deixar em casa. Seu irmão deve estar preocupado.

Emily sentiu o coração apertar. O que diria a seu irmão? Oh, por que não apareci em casa? Ah, bem, fiquei bêbada e passei a noite na casa dos Shelby.

- Certo - falou ela, disposta a se levantar e pôr os sapatos o mais rápido possível.

Thomas já a esperava na porta de entrada, quando Emily se despediu de Polly.

- Me desculpe mais uma vez Sra. Gray.

- Não se preocupe, querida. Se é amiga de meu sobrinho, é minha também - respondeu ela sorrindo e Emily retribuiu o gesto.

A jovem andou, por fim, até Thomas. Entraram os dois no Ford Model T, preto, que se encontrava parado rente à calçada e seguiram caminho até sua casa. Como já esperado, o silêncio era algo que pairava por eles, enquanto Emily se questionava se podia fazer aquela pergunta:

- Sr. Thomas… Me apresentou a sua tia como sendo uma amiga… Por quê?

Thomas não respondeu no mesmo instante e ficou alguns segundos em silêncio.

- Tenho a impressão de que já te conheço. Quase certeza na verdade.

Emily engoliu um seco. Ele se lembraria dela?

- É por que já nos conhecemos, de fato - Jones abaixou o olhar, se distraindo com seus dedos sob o colo. - Mas foi há muito tempo.

- Pois então eu não estou louco - admitiu Thomas abrindo um sorriso. - Assim que coloquei os olhos em você na costureira, sabia que já tinha te visto antes. Você então é a mesma Emily que conheci na adolescência.

A jovem quase quis sorrir. Ficou feliz por de fato Tommy ainda se lembrar dela.

- Nunca mais te vi depois daquele dia - o Shelby comentou, enquanto dirigia, sério e atento a rua.

Emily sabia exatamente do que dizia. Jamais esqueceria do dia em que ajudou Thomas com alguns cortes após uma briga contra garotos que quase a assaltaram uma vez, e que no fim, acabou lhe dando um beijo no rosto, em agradecimento.

- Acabei tendo que passar algum tempo em Londres, com meu tio, mas voltei para cá.

- De Londres à Birmingham, por quê?

- Quando quis realmente continuar o curso de costura, quis fazê-lo aqui. Foi onde eu aprendi quando criança, e gostaria continuar.

Emily viu Thomas assentir, mas não dizer nada de volta; ela se calou também. Quando avistou sua casa, assim que o carro parou,  agradeceu por ser deixada alí; fora do carro, a jovem sorriu:

- Obrigada, senhor...

- Ora, me chame de Thomas. E não a de quê, Emy.

Antes que a jovem pudesse ter alguma reação ao ouvir aquilo, Thomas já havia se distanciado de seu campo de visão.

Ele me chamou de… Emy?

***

Thomas Shelby

Thomas deu um grande suspiro quando saiu da frente da casa; como se prendesse o ar por todo aquele tempo. A avalanche de memórias que lhe correu havia sido sobrenatural.

Tudo o que havia vivido com aquela garota, desde jovem, cada sorriso e risada que havia dado ao seu lado. Anos depois a reencontrar… parecia loucura.

Por que maldição tinha que ser assim? Tinha receio até mesmo de olhá-la. Medo de que se fizesse, não conseguisse mais lhe tirar os olhos.

- Thomas - chamou Polly, assim que pisou em casa. - Aquela não é a menina que você conheceu quando era mais novo?

Ele suspirou.

- Acredite se quiser - falou tirando a boina da cabeça e a deixando na mesa.

- Você gostava dela, não? - Perguntou sua tia, inocentemente.

- Oh, por favor, eu não tenho mais quinze anos - Thomas revirou os olhos, fazendo pouco caso.

Polly deu risada.

- Está certo - disse levantando as mãos e cruzando os braços. - Mas, - de repente sua expressão fechou - quando vai dizer a ela?

Thomas sabia. Sabia exatamente do que Polly falava, mas antes era jovem demais para entender. Esperava que Emily também fosse. Pelo menos até a hora certa.

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𝙊𝙨 𝙄𝙧𝙢𝙖̃𝙤𝙨 𝙎𝙝𝙚𝙡𝙗𝙮Onde histórias criam vida. Descubra agora