***
Emily Jones
Assim que começou a piscar, Emily tentou se sentar na cama, porém se arrependeu no mesmo instante. Sua cabeça começou a latejar impiedosamente, a fazendo por a mão na testa.
- Dor de cabeça, não é? - Emily ouviu uma voz desconhecida.
- O que..? - Murmurou olhando em direção à porta.
Segurando um copo d'água, uma mulher de meia idade e bem vestida a olhava docemente.
- Perdão… Mas onde estou?
A mulher saiu da entrada e se aproximou da cama.
- Sou Elizabeth Polly Gray e não se assuste, você está em minha casa. Sou tia de Thomas. São amigos, não é?
Emily piscou mais algumas vezes. Eram muitas informações para absorver. Olhou em volta, observando o quarto, a cama em que estava, até mesmo a grande janela, coberta por cortinas. Estava na casa de uma Shelby? Desde ontem ela e Thomas viraram amigos?
- O que houve ontem a noite?
Polly suspirou antes de se sentar na cadeira ao lado da cama e dizer:
- Thomas bateu na porta, com você apoiada nos braços… Alcoolizada.
Oh, não, foi o que Emily pensou. O pior era que se lembrava como havia acontecido, pelo menos como começou. Tinha pedido algo fraco, o homem lhe deu uma taça de Martini, mas acabou tomando demais…
A mulher a sua frente, assim que percebeu sua expressão assustada, falou, depois de rir:
- Thomas lhe tirou do Garrison antes que fizesse alguma bobagem, não se preocupe. Aliás, como se chama?
Cabelos castanhos, em cachos sedosos, adornavam o rosto da mulher, onde, por mais que tivesse idade, poderia ser considerada no mínimo conservada. Era uma Shelby, mas não era ameaçadora, pelo menos não parecia ser.
- Sou Emily Jones.
- Emily Jones - repetiu Polly. - Tenho a impressão que já ouvi esse nome… Como você e Tommy se conheceram?
Emily não queria falar tanto sobre, estava atordoada demais para ter aquele assunto.
- Bem, foi a muito tempo, éramos crianças. Uma longa história - tentou sorrir. - Me desculpe o transtorno, Sra. Gray. Realmente me perdoe - disse se levantando da cama.
- Espere - Polly se levantou. - Tome um copo d'água pelo menos, duvido que tenha se recuperado tão fácil assim.
Emily percebeu que tinha razão. A tontura lhe atingiu rapidamente, a ponto de aceitar o copo nas mãos de Polly.
- Vejo que está melhor.
Emily levantou a cabeça. Sempre sentia um arrepio quando ouvia aquela voz. Um arrepio bom, ainda mais vendo Thomas Shelby lhe encarar, encostado no batente da porta do quarto.
- Preciso lhe deixar em casa. Seu irmão deve estar preocupado.
Emily sentiu o coração apertar. O que diria a seu irmão? Oh, por que não apareci em casa? Ah, bem, fiquei bêbada e passei a noite na casa dos Shelby.
- Certo - falou ela, disposta a se levantar e pôr os sapatos o mais rápido possível.
Thomas já a esperava na porta de entrada, quando Emily se despediu de Polly.
- Me desculpe mais uma vez Sra. Gray.
- Não se preocupe, querida. Se é amiga de meu sobrinho, é minha também - respondeu ela sorrindo e Emily retribuiu o gesto.
A jovem andou, por fim, até Thomas. Entraram os dois no Ford Model T, preto, que se encontrava parado rente à calçada e seguiram caminho até sua casa. Como já esperado, o silêncio era algo que pairava por eles, enquanto Emily se questionava se podia fazer aquela pergunta:
- Sr. Thomas… Me apresentou a sua tia como sendo uma amiga… Por quê?
Thomas não respondeu no mesmo instante e ficou alguns segundos em silêncio.
- Tenho a impressão de que já te conheço. Quase certeza na verdade.
Emily engoliu um seco. Ele se lembraria dela?
- É por que já nos conhecemos, de fato - Jones abaixou o olhar, se distraindo com seus dedos sob o colo. - Mas foi há muito tempo.
- Pois então eu não estou louco - admitiu Thomas abrindo um sorriso. - Assim que coloquei os olhos em você na costureira, sabia que já tinha te visto antes. Você então é a mesma Emily que conheci na adolescência.
A jovem quase quis sorrir. Ficou feliz por de fato Tommy ainda se lembrar dela.
- Nunca mais te vi depois daquele dia - o Shelby comentou, enquanto dirigia, sério e atento a rua.
Emily sabia exatamente do que dizia. Jamais esqueceria do dia em que ajudou Thomas com alguns cortes após uma briga contra garotos que quase a assaltaram uma vez, e que no fim, acabou lhe dando um beijo no rosto, em agradecimento.
- Acabei tendo que passar algum tempo em Londres, com meu tio, mas voltei para cá.
- De Londres à Birmingham, por quê?
- Quando quis realmente continuar o curso de costura, quis fazê-lo aqui. Foi onde eu aprendi quando criança, e gostaria continuar.
Emily viu Thomas assentir, mas não dizer nada de volta; ela se calou também. Quando avistou sua casa, assim que o carro parou, agradeceu por ser deixada alí; fora do carro, a jovem sorriu:
- Obrigada, senhor...
- Ora, me chame de Thomas. E não a de quê, Emy.
Antes que a jovem pudesse ter alguma reação ao ouvir aquilo, Thomas já havia se distanciado de seu campo de visão.
Ele me chamou de… Emy?
***
Thomas Shelby
Thomas deu um grande suspiro quando saiu da frente da casa; como se prendesse o ar por todo aquele tempo. A avalanche de memórias que lhe correu havia sido sobrenatural.
Tudo o que havia vivido com aquela garota, desde jovem, cada sorriso e risada que havia dado ao seu lado. Anos depois a reencontrar… parecia loucura.
Por que maldição tinha que ser assim? Tinha receio até mesmo de olhá-la. Medo de que se fizesse, não conseguisse mais lhe tirar os olhos.
- Thomas - chamou Polly, assim que pisou em casa. - Aquela não é a menina que você conheceu quando era mais novo?
Ele suspirou.
- Acredite se quiser - falou tirando a boina da cabeça e a deixando na mesa.
- Você gostava dela, não? - Perguntou sua tia, inocentemente.
- Oh, por favor, eu não tenho mais quinze anos - Thomas revirou os olhos, fazendo pouco caso.
Polly deu risada.
- Está certo - disse levantando as mãos e cruzando os braços. - Mas, - de repente sua expressão fechou - quando vai dizer a ela?
Thomas sabia. Sabia exatamente do que Polly falava, mas antes era jovem demais para entender. Esperava que Emily também fosse. Pelo menos até a hora certa.
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𝙊𝙨 𝙄𝙧𝙢𝙖̃𝙤𝙨 𝙎𝙝𝙚𝙡𝙗𝙮
FanfictionEmily Jones era apenas uma criança quando ouviu sobre os jovens irmãos Shelby. Após esbarrar com um deles, o aviso de sua mãe a fez repensar. Eles seriam maus? Tinham quase sua idade... Devia temê-los tanto assim? Bom, uma amizade - ou não - lhe tra...