capítulo quatro

898 156 29
                                    

Conversar com P'Mali ajudou Mew a ficar mais aliviado. Gulf havia mexido demais com ele sobre diversas circunstâncias e vê-lo em coma tocava seu coração de forma inimaginável.

Nunca se sentiu tão profundamente conectado a um paciente como dessa vez, mas sabia que fazer seu trabalho o ajudaria a lidar com essa situação.

No dia anterior, P'Mali fez o que prometeu ao amigo, cuidou de Gulf e Mew ficou acompanhando as atualizações do estado do paciente.

Porém havia algo o incomodando. Ele sentiu falta de estar lá ao lado de Gulf. De alguma forma sentia que próximo podia ajudá-lo, mesmo sabendo que sua evolução até aqui foi nula. Mas só queria estar ali, presente.

E hoje seria o dia em que ele estaria ali, porque precisava estar. Seu coração brigava com sua mente o tempo inteiro. Faça seu trabalho, esqueça o que está sentindo, entretanto não conseguia simplesmente deixar para lá e ignorar.

Caminhou pela UTI de neurologia até chegar ao quarto em que Gulf Kanawut lutava pela vida e encontrou um jovem homem com seus vinte e poucos anos, cabelos pretos bem ajeitados, olhos escuros e com um semblante aflito, ao mesmo tempo que forçava um sorriso fraco de positividade.

— Gulf, você precisa se recuperar logo, sábado a gente precisa muito ir para aquela festa, não consigo fazer nada sem você, volta logo! — O jovem suplica, pedindo a Gulf.

Mew se aproxima do jovem e o cumprimenta.

— Olá! Boa tarde, você é parente de Gulf? — Ele nega.

— Não, eu sou o melhor amigo dele, sou Mild Suttinut, só consegui vir hoje para vê-lo. Klahan já me contou tudo o que houve, ainda não consigo acreditar. — Mew assentiu, lamentando.

— É realmente muito difícil, mas Gulf precisa das pessoas próximas a ele para voltar aos poucos, conversar com ele, mencionar lembranças, fazem com que o paciente se ajude de alguma forma. — Mild prestava atenção em cada palavra que Mew dizia.

— Vou tentar fazer isso então. — Mew assentiu.

— Perfeito. Fique à vontade com Gulf, mas se atente ao horário de visitas ok? Logo irá acabar. — Mild balançou a cabeça.

— Claro, logo estarei de saída. Obrigado por dizer o que fazer, doutor! — Mew sorriu fraco. — Qual seu nome?

— Não precisa agradecer. Meu nome é Mew Suppasit, até mais!

— Até!

Mew deixou o amigo de Gulf no quarto e sorriu fraco. Sentia uma esperança tomar conta do seu peito por ver quantas pessoas amavam Gulf, porque apesar de infelizmente não ter mais seus pais por perto tinha pessoas que queriam seu bem.

Ajeitando seu jaleco, Mew foi visitar outros pacientes, inclusive nos quartos, em outros andares do hospital. Para aliviar um pouco tudo aquilo que se passava na UTI, teve a alegria de dar alta a um paciente que se recuperou bem depois de um acidente.

Depois de tomar um café voltou ao andar da UTI e se encontrou com sua amiga.

— P'Mali, tudo bom? — Ela, sorridente, respondeu.

— Sim, vou bem e você? Está melhor depois da nossa conversa? — Mew assentiu.

— Sim, estou e aos poucos ficarei ainda mais, tenho certeza.

— Isso é ótimo! Você viu o amigo dele? Um fofo, né? Estava lá no quarto e ele não parava de falar com Gulf sobre as lembranças que tem ao lado dele, fiquei emotiva, confesso. — Mew sorriu fraco.

— Isso é muito importante, Gulf vai logo perceber que tem pessoas aqui por ele, né? — A enfermeira assentiu.

— Com certeza! Preciso voltar ao trabalho, ok? Te vejo por aí! — Mew a cumprimentou e seguiu em direção ao quarto de Gulf.

Assim que fechou a porta atrás de si, Mew se aproximou de Gulf e aquela sensação o invadiu de novo. Seu coração acelerou e ele observava o jovem desacordado, com leveza.

De forma involuntária sua mão pousou sobre os fios de cabelo de Gulf e Mew pôde sentir a maciez. Era reconfortante, ficou por um tempo ali.

Seu polegar então viajou até a bochecha de Gulf, fazendo movimentos circulares, cheio de carinho e ternura. Engoliu seco e se afastou do paciente.

Mas o que eu estou fazendo? - Ele se questionou.

Mew voltou até onde estava e pousou sua mão sobre a maca e procurou os dedos de Gulf. Mew os tocou rapidamente. Notou que toda vez que tocava o jovem seu coração entrava em um descompasso porque a imagem de Gulf sorridente nas fotos que havia visto invadia sua mente como uma onda agitada em um mar calmo.

Torcia minuto a minuto pela recuperação de seu paciente, então olhou bem para sua face e começou a conversar com Gulf.

— Você chegou aqui e eu estava fazendo meu trabalho da melhor forma, a verdade é que ainda estou, só que algumas coisas tem saído fora de ordem para mim. Eu não conhecia você e me vi obrigado a pesquisar mais para saber o porquê tantas pessoas estavam preocupadas com você e foi aí que eu entendi tudo.
"Seu sorriso é tão bonito e contagiante que eu tenho certeza que você é luz na vida de muitas pessoas e elas precisam de você, querem você de volta à vida delas como sempre foi.
Eu, como seu doutor ou somente como Mew Suppasit desejo que você volte, porque de alguma forma meu coração quer conhecer você".

Mew faz uma pausa e respira fundo.

— Amanhã eu volto para ver você. Se recupere logo, ok? Você é amado, Gulf Kanawut. — Engoliu seco e deixou o quarto. Mew provavelmente deixou parte de si ali também.

say you love me | [MewGulf]Onde histórias criam vida. Descubra agora