capítulo seis

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Desde o início de sua carreira,  Mew Supassit nunca havia criado vínculos com pacientes, apesar de sempre ter sido extremamente ligado a eles de forma sensível e humilde.

Entretanto, Gulf Kanawut é um exemplo do que ele sempre planejou não fazer. Seu coração queria conhecê-lo, torcia para que todos os dias houvesse uma notícia em que ele tivesse acordado, se movido.

Porém nada disso havia acontecido e já se completavam dez dias.

Tocá-lo o fazia sentir próximo, conectado a Gulf, mas sua decisão estava feita. Sem mais contatos, somente conversas breves e o desejo de melhora porque não sabe o que faria caso algum colega de trabalho o encontrasse tão próximo do paciente. Ele conseguiu contornar a última situação, mas quem disse que da próxima seria assim? Não arriscar era tudo o que tinha em mente.

Depois do almoço, da janela do refeitório observava a chuva forte caindo e sentiu a presença de alguém ao seu lado. Era a enfermeira Sunee, que sempre conversava com sua amiga Mali.

- Doutor Mew? - Ele olhou em direção a ela.

- Olá!

-  Tudo bem? - Mew assentiu.

- Sim e como está?

- Bem também. - Ele notou que Sunee gostaria de conversar sobre algo, mas nenhum som saía de sua boca.

- Quer me perguntar alguma coisa, Sunee? - Ela balançou a cabeça, afirmando.

- Sobre Gulf. - Mew engoliu seco. - Você tem algum contato com ele fora daqui?

- Não, eu não tenho. - Sunee observou por um bom tempo a expressão de hesitação no rosto do colega.

- Eu notei que você passa um tempo no quarto com ele, todo esse cuidado, preocupação. Você é muito atencioso com Gulf.

- É porque ele precisa disso agora. - Mew respondeu apressado.

- Sim, com certeza! E fique tranquilo, ok? Eu não direi a ninguém.

- Eu agradeço. - Mew sorriu na direção de Sunee, com sensação de alívio no coração.

- Vou voltar ao trabalho, nos vemos, ok? - Mew acenou em  direção a ela e logo voltou sua atenção para a janela, continuando a observar a chuva.

De volta à UTI, Mew encontrou o melhor amigo de Gulf aguardando o horário de visitas ficar disponível.

- Doutor Mew! - Mild o cumprimentou e Mew fez o mesmo.

- Olá, como vai?

- Vou bem, doutor, obrigado! E Gulf, como ele está? - Mew assentiu, sorrindo fraco.

- Está estável, seus exames diários tem revelado muito pouco para nós, mas é um quadro que vem dado esperança para a equipe, ainda temos que ter paciência e aguardar. - Mild suspirou.

- Ele não me ouve, né? - Mew negou.

- Mas contar coisas pode ser muito benéfico, como se estivesse conversando com ele, entende? Não perca as esperanças, é tudo o que peço. - Mild assentiu e analisou o doutor profundamente, seus olhos falavam mais do que sua boca.

- Gulf é assim, sabe? Capaz de transformar a vida de uma pessoa pelo simples fato de existir. A energia dele é tão poderosa que quando o conheci eu sabia que seria um irmão para a vida. A imagem que tenho na minha cabeça é ele sorrindo na minha direção e eu adoro isso porque mantém viva a esperança de que ele vai acordar logo. - Mew compreendeu aquela frase inicial, ele não era bobo.

"Gulf é assim, sabe? Capaz de transformar a vida de uma pessoa pelo simples fato de existir". E como essa frase era verdade, - pensou.

- Eu não conheço ele, mas sei exatamente o que está me dizendo e compartilho os mesmos sentimentos de esperança que os seus. Como parte da equipe médica o caso de seu amigo é delicado ao mesmo tempo que reversível e depender do tempo é injusto, porque tudo pode mudar amanhã como também só daqui muitos meses.

- Nem brinque, por favor, doutor. - Mew não gostava de ser direto em alguns momentos, mas precisava.

- Sinto muito, mas tenho absoluta certeza que logo estaremos sorrindo ao lado dele. - Mild sorriu largo.

- Exatamente, é isso o que eu quero. - O amigo de Gulf olhou para o relógio na tela do celular dele e notou que já estava na hora de visitar o amigo. - Eu vou entrar no quarto, já posso entrar para o horário de visitas. - Mew assentiu.

- Fique à vontade.

- E depois, doutor, você pode entrar. - Mew congelou. - Está tudo bem. - Mild sorriu e entrou no quarto fechando a porta atrás de si.

Vinte minutos depois, Mild saiu do quarto do amigo visivelmente abatido, mas com um sorriso fraco no rosto, tentando a qualquer custo se convencer de que sim, Gulf vai acordar.

Em seguida, Mew rapidamente entrou no quarto de Gulf, porque poderia prometer a si e a todos que evitaria todo  qualquer possível contato, mas não podia deixar de conversar com o jovem paciente.

- Olá Gulf, sou eu, o doutor Mew, vim aqui conversar um pouco. Sei que acabou de ficar com seu amigo, mas queria ficar por um momento aqui.
"Mild me disse algo que não consigo tirar da cabeça. Gulf, você é capaz de transformar a vida das pessoas pelo simples fato de existir. E essa é a maior verdade que ouvi nos últimos dias e queria que você soubesse disso.
Eu realmente não sei se você já ouviu isso pelo Mild, mas é tudo o que eu consigo pensar em relação a você e sobre o que sinto".

Mew fez uma pausa e observou Gulf, desacordado. Quis tocá-lo, mas prometeu a si mesmo e manteve uma distância considerável.

- Acorda logo, por favor, estou contando os dias. - Mew saiu do quarto e suspirou. Precisava ver outros pacientes e dar alta para alguns. Assim, parcialmente deixaria seu coração quente e ficaria um pouco menos preocupado.

say you love me | [MewGulf]Onde histórias criam vida. Descubra agora