Vamos brincar

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Marcela estava sentada no banco da praça, tentando disfarçar seu desânimo, acabou de terminar um relacionamento ali, naquele banco, depois de uma longa discussão seu até então namorado a largara ali e foi viver sua nova vida sem ela, deixando Marcela com suas lamentações, era uma noite que refletia o sentimento dela, solitária e fria.

Ainda de cabeça baixa, Marcela ouviu uma música bonita e lenta, parecia um daqueles brinquedos de caixa de bailarina, olhando em volta ela viu uma menininha de cabelos louros e vestidinho azul sentando em outro banco, olhando para sua caixinha de música como se estivesse hipnotizada, sem piscar os olhos, encarando a pequena bailarina de vestido rosa dançar lentamente.

A música parou, a bailarina parou e a menininha se mexeu, pareceu ter saído do transe, olhou em volta como se estivesse procurando por algo e viu Marcela, abriu um largo sorrisinho e foi correndo até ela de um jeito desajeitado que só uma menininha de oito anos conseguiria.

- Oi moça! - Falou alegremente a menininha. - Eu me chamo Isabela, qual o seu nome?

- Me chamo Marcela. - Respondeu sem jeito, Marcela pensou que seria uma daquelas crianças ousadas que queriam fazer amizade com todo mundo, não queria ter que lidar com isso agora, passou os olhos pelo parque tentando achar os pais da garotinha, deviam ser uns irresponsáveis por deixar um menina pequena dessas sozinha á essa hora.

- Vamos brincar?! - Perguntou Isabela entre pulinhos.

- Onde estão seus pais? - Perguntou Marcela.

- Eles estão aqui! - Falou Isabela sem perder o animo e também não apontando para lugar algum.

Marcela ficou confusa por um instante, com "aqui" ela queria dizer o que?

- Você não vai querer brincar comigo né? - Isabela parecia desanimada. - Ninguém quer brincar comigo, todos sempre saem correndo primeiro.

Marcela ignorou essa frase estranha.

- Você devia estar brincando em sua casa. - Falou Marcela se levantando. - Me fale onde estão seus pais que eu te levo até eles.

- Meus pais e meu amigo estão atrás de você.

Um calafrio percorreu a espinha de Marcela, ela olhou para trás e encontrou um grupo de três pessoas de olhos vazios a encarando, todos adultos. Marcela gritou e saiu correndo, mas logo sentiu alguém agarrando os ombros dela e a jogando para trás, Marcela caiu de costas no chão, viu o céu escuro e logo três rostos apareceram em seu campo de visão, encarando-a com olhos vazios, logo um quarto rostinho apareceu, feliz e sorridente.

- Vem ser nossa amiga! - Falou Isabela quase gritando de ânimo. - A gente pode brincar para sempre.

Marcela tentou lutar, mas os adultos de olhos vazios a seguraram, Marcela se debatia bravamente.

- Logo você vai ser a minha amiga! - Falou Isabela.

- Me larga! - Gritava Marcela, se debatendo. - Me solta! Polícia! Polícia!

Marcela lutou muito, não queria saber o que fariam com ela, mas aos poucos ela foi perdendo o ânimo, aos poucos Marcela parava de lutar e começava a ficar calma, aos poucos Marcela parava de se importar, parava de viver. Quando enfim se acalmou seu olhos perderam o brilho, a vida, eram olhos vazios.

- Agora podemos brincar? - Falou inocentemente Isabela.

Os adultos largaram Marcela, o mulher se ergueu e confirmou com a cabeça, Isabela pulou de felicidade. Brincaram de esconde esconde no parque naquela noite.

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Wanderson estava trabalhando como atendente de caixa naquele momento, o mercadinho sempre fora vazio o suficiente para poder ficar entediado mas sempre tinha um ou dois clientes para pelo menos não deixar o mercadinho falir. Naquele momento o ambiente estava um tédio puro, sem clientes e as prateleiras estavam bem abastecidas, chão limpo e vidros brilhando, tudo o que lhe restava era se debruçar no balcão do caixa e esperar terminar o horário de seu expediente.

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⏰ Última atualização: Apr 22, 2022 ⏰

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