Sozinho na floresta

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O silêncio era sepulcral e não se podia sentir nenhum tipo de vida naquela grande floresta escura, mas não quer dizer que não poderia haver nada ali, esperando.

Uma luz forte passou em grande velocidade pela mal feita estrada de terra que cortava aquela floresta, o carro com o farol alto quebrava totalmente a aparente ausência de vida do lugar de um jeito súbito e violento.

- Já falei que quando eu chegar a gente conversa! E vai conversar muito! - Gritou Gilmar com uma mão no volante e outra no celular, um jeito estúpido de dirigir, ele sabia, mas a raiva era tanta que não queria saber de raciocinar direito.

- "Mas eu já falei que volto para a casa no horário combinado." - Falava uma voz feminina pelo viva voz do celular.

- Não tem horário combinado Mariana, eu te falei para não ir! - Gilmar era um poço e estresse e nervosismo. - E que raio de festinha é essa que tinha que ser longe da nossa cidade?!

- "É a festa que todo mundo da escola vai, pai." - A voz digital de Mariana que saía do celular era de súplica de desespero, Gilmar nunca tinha visto sua filha falar daquele jeito, afinal, em casa ela era firme e forte, podia ter seus momentos de rebeldia, mas sempre determinada.

Maldita fase rebelde. Pensou Gilmar.

- Para mim não me importa! Vou te buscar agora e voc...- A frase foi cortada quando algo bateu em seu capô e Gilmar sentiu o carro passando por cima de algo, algo que não devia ser um objeto inanimado. Por instinto Gilmar freou o carro bruscamente, quase batendo em uma árvore.

- "Pai? Pai! Ouvi barulhos, aconteceu algo?" - A voz digital de Mariana parecia preocupada.

Gilmar, trêmulo e assustado, lentamente ligou o farol traseiro e olhou pelo retrovisor, torcendo para que não estivesse acontecendo  o  que imaginava. A poeira que a freada brusca do carro em uma estrada de terra ainda estava levantada, atrapalhando assim sua visão, mas mesmo assim podia se ver um vulto escuro esticado no chão no meio da fumaça.

- "Pai? Pai! Você está bem?"

- Estou sim, depois a gente conversa. - Falou Gilmar, ao que parecia ser uma voz calma e comedida, na verdade estava tenso e muito nervoso, desligou o celular e guardou no bolso da calça.

A fumaça se dissipou aos poucos, em segundos que pareciam levar uma eternidade, Gilmar não queria sair do carro, tinha medo do que poderia encontrar estirado no chão, nunca atropelara algo antes e queria manter assim. Quando a fumaça se dissipou completamente, para a infelicidade e Gilmar, se descobriu um corpo esticado na terra, inerte.

Gilmar tampou a boca com as mãos e ficou alguns segundos chocado, sem pensar em nada, somente a observar o fruto de sua imprudência. Quando seu pensamento voltou ao "normal", logo religou o carro, seu plano era fugir dali o mais cedo possível, pegaria sua filha e voltaria para casa em uma rota alternativa, viveria sua vida normal de novo e fingiria que aquilo nunca acontecera, veria os jornais nos próximos dias para ver se achariam o corpo na floresta. Se demorassem o tempo necessário para acharem o corpo poderia ser que as provas do seu crime desapareceriam.

Essas coisas acontecem o tempo todo. Pensou consigo mesmo, tentando se acalmar. Não tem o que temer.

Gilmar continuou olhando pelo retrovisor, agora pensando que talvez não o tenha matado, talvez ele tenha sobrevivido e só está inconsciente, pode ser que tenha se precipitado um pouco, mas por mais que observasse aquele corpo inerte, mais teria a certeza de que tratava de um cadáver. 

Gilmar sentiu o carro tremer cada vez mais, morto ou não, concluiu que era uma boa ideia continuar com seu plano de atropelamento e fuga, mãos no volante, marcha engatada e pé na embreagem, já estava pronto para a partida, deu uma última olhadela para o corpo e parou totalmente o que estava fazendo.

Contos de medo e horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora