Sensação

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Vocês já tiveram a sensação de estarem sendo perseguidos? Aquela sensação de quando se está andando em uma rua deserta mas mesmo assim sente que tem alguém te seguindo, que tem alguém em bem atrás de você? 

Estou escrevendo este diário para que caso aconteça algo comigo (o que eu não sei se irá realmente acontecer), saibam como tudo começou.

Tudo começou quando fui acompanhar meu tio Leonardo a estacionar um carro, já que ele morava em uma daquelas casas antigas e apertadas que não tinham como ter um quintal, apenas uma porta da frente que dava para a rua. Como solução para não deixar o carro na rua, meu tio fez um trato com um homem que tinha um mini estádio de futebol perto da casa dele, aquele tipo e estádio que tá mais para escolhinhas de futebol. Como a noite aquele lugar ficava fechado, meu tio guardava o carro lá do começo da noite até o amanhecer.

Nesse dia em que fui com ele, apenas segurei o grande portão do estádio para ele enquanto estacionava o carro, como a tarefa me deixava muito parado, resolvi olhar para as casas ao redor enquanto meu tio estacionava (ele colocava o carro bem fundo). Em uma das casas vizinhas, eu vi no parapeito da janela algo que parecia uma pessoa me observando, não sei dizer se era realmente uma pessoa, pois o cômodo de trás estava aceso, criando assim uma forte sombra na figura. 

Fiquei um tempo olhando aquela estranha figura e tive a sensação de que algo ali não se encaixava, quanto mais eu olhava, mais defeitos eu achava, como o fato da figura parecer ter mais de dois metros de altura, o maxilar parecia ser três centímetros mais longo que o de uma pessoa normal, e o mais assustador de todos, ficava parado de um jeito sobrenatural, não movia um músculo de onde estava e pela posição daquilo que eu julgava ser a cabeça, parecia estar me observando.

- Está tudo bem aí Rafael?! - Levei um susto quando meu tio chegou falando comigo por trás, significa que ele já estacionou o carro.

Quanto tempo será que fiquei observando aquilo?

Meu tio olhou para a janela que eu estava observando e depois me deu um sorriso maroto.

- Observando mulheres na janela? - Meu tio me falou em tom de brincadeira e deboche. - Sabe que aquilo é uma daquelas estátuas que colocam nos parapeitos, né?

É claro! Como não tinha percebido antes, é uma daquelas estátuas que os nordestinos costumam colocar nas janelas simulando uma mulher em posições que a faz parecer que estava observando alguém. Foi o que pensei na hora.

Eu e meu tio Leonardo fomos andando na volta para a nossa casa, dei uma última olhada na casa que abrigava aquele bizarro objeto e percebi que a figura parecia ter colocado a cabeça para fora da janela, como se quisesse me acompanhar com o olhar. Parei de olhar aquela casa e voltei para a residência do meu tio, ainda me convencendo de que era tudo minha imaginação. O que hoje, eu acho que não foi.

Depois daquele dia, eu voltei com a minha vida normal, ia para a escola, conversava com meus amigos, gastava horas vendo vídeos no Youtube, coisas de adolescente normal, o incidente com a tal estátua na janela já tinha até saído de meus pensamentos. Queria que ficasse assim para sempre.

Um certo tempo depois, não consigo me lembrar quantos dias se passaram depois daquilo, eu estava caminhando sozinho pela manhã, indo para a escola, a rua estava deserta e a única coisa que se ouvia de vez em quando era os cachorros revoltados latindo nos portões. Mas aquela manhã eu não me sentia sozinho, sentia que havia alguém atrás de mim, alguém que estava caminhando junto comigo na rua, mas sempre que eu olhava para trás não via ninguém. Este sentimento ficou comigo por mais uns três dias, não importava onde estivesse, desde que eu ficasse sozinho essa sensação de estar sendo perseguido estava presente.

Outra manhã, eu estava andando sozinho pela rua de novo, indo para a escola igual á aquela vez, mas nessa manhã a sensação de estar sendo seguido não estava comigo, o que era um alívio, mas então eu olhei para aquela árvore gigantesca que ficava dentro de um terreno baldio que ficava a caminho da escola para mim. Tive aquela sensação vindo daquela árvore, mais forte do que nunca, dessa vez eu poderia jurar que havia algo ali, algo não, alguém. Fiquei encarando as folhas daquela árvore por um bom tempo e não vi nada, e quando estava quase desistindo, um dos galhos começou a balançar para cima e para baixo loucamente, fazendo aquele barulho louco de folhas, como se houvesse alguém naqueles galhos. Voltei para a casa correndo de medo, dei uma desculpa á minha mãe que estava doente e fui correndo para o meu quarto.

Sei que aquilo poderia ter sido só o vento, sei que um galho se mexendo não deveria ser assustador, mas para mim foi sim, afinal, senti alguém naquela árvore, e não senti que era uma coisa boa, parecia até que eu era um coelho na mira de um falcão, era essa a sensação, uma presa na boca do predador.

Naquela mesma noite, quando criei coragem para sair do quarto, a primeira coisa que fiz foi abrir a janela do meu quarto que tinha uma vista para a rua, estava esperando encontrar algo olhando por ela, e eu encontrei. Havia uma figura parada no meio da rua, de novo ela estava escura por causa da luz que batia nas costas dela. 

De novo ela parecia me observar.

Fechei a janela com muito devagar e fui dormir, torcendo para que aquilo tudo não passasse de um pesadelo. Na manhã seguinte, falei para a minha mãe que ia para a escola, mas não fui, fui até aquele mini estádio onde eu tinha visto a tal estátua pela primeira vez, precisava confirmar se eu estava enlouquecendo ou se era tudo real, estava torcendo para que estivesse enlouquecendo. Chegando ao local, olhei sem delongas para a janela, e havia uma estátua ali sim, a estátua de uma mulher, mas não havia uma ameaça nenhuma nela, era um objeto totalmente comum e sem graça.

Fiquei aliviado, pensando que talvez tudo aquilo passasse de minha imaginação, e como estava pelas redondezas resolvi visitar meu tio mais uma vez, para jogar aquele Xbox irado que ele tinha. Parei em frente á porta que dava para a rua e bati, logo na primeira batida a porta se abriu, ela estava destrancada, sei que já deveria achar algo estanho nessa hora, mas não achei, entrei na casa chamando pelo meu tio, mas ele não respondeu, na verdade, quando eu estava dentro dela tive uma sensação, de que havia alguém comigo, mas sim que eu estava só, o que era estranho, meu tio nunca saía de casa nesse horário. Como achei que meu tivesse feito uma exceção e saído de casa por algum motivo, resolvi jogar o vídeo game dele, meu tio sempre me deu essa liberdade mesmo, as únicas  regras era não destruir o progresso em nenhum jogo que ele estava jogando ou comer salgadinho e depois pegar no controle.

Fiquei horas ali, jogando, me divertindo, e com a aquela estranha sensação de que estava sozinho, que algo faltava. Resolvi que já me diverti demais, mas como uma última traquinagem, tirei uma selfie com o vídeo game para mostrar á ele que estava jogando na casa dele.

Quando fui mandar a selfie para o seu Whats, percebi algo estranho na foto, ela mostrava em uma janela ao fundo uma luz branca, como se alguém estivesse aceso a parte de fora no meio do dia, além da luz havia a sombra de duas pessoas, uma era da figura que sempre me seguia, a outra eu reconheci como a do meu tio.

De olhos arregalados e com o rosto pálido (eu acho que estava com o rosto pálido), resolvi olhar o que havia atrás da janela, coisa que eu não deveria ter feito, pois eu vi, eu vi! Eu vi! Eu vi!

Saí correndo da casa do meu tio e voltei para minha casa, me tranquei e resolvi escrever este diário, pois eu sei que não posso ter muito tempo, eu talvez tenha, eu não sei. Mas a imagem ainda está na minha mente, o que eu vi foi... a figura e o meu tio juntos, de pé, lado a lado, Meu tio já sem vida e a coisa não era humana, ou era, eu não sei.

Agora quero documentar tudo, pois eu ainda tenho a sensação....

Contos de medo e horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora