Mais uma vez encontrei a vovó sentada em sua cadeira de balanço, dessa vez no sótão, ela anda ficando muito neste cômodo ultimamente.
Esticou suas mãozinhas trêmulas em minha direção, já sabia o que viria, ela iria me contar uma de suas histórias absurdas de novo. Ela não entende que eu já tenho 5 anos? Já sou quase um homem!
Fui até a vovó e fiquei bem de frente para ela, os olhos quase cegos dela me dava um pouco de arrepio, ainda mais porque olhavam diretamente para mim sempre. Aqueles olhos cinzas assustadores.
- Deixa eu te dar um abraço, garotinho. - Disse a vovó com uma voz engraçada e trêmula que só gente velha tem.
- Não sou um garotinho! - Falei bravo com a minha vó, ela sempre quer me abraçar, mas eu não quero, já sou um homem feito, poxa!
- Não seja mal criado, ou então o homem do saco vai vir te pegar. - Disse ela com um sorriso feio e sem dente.
- Homem do saco?
- Ele costuma entrar no quarto dos garotinhos mal criados á meia noite e colocá-los em um saco feito de pele de crianças. - A vovó parecia bem feliz em me contar esta história, eu estava era arrepiado com o que ela estava me contando. - Ele gosta de raptá-las e levar para a sua casa feita de madeira podre e fedida, ele tranca crianças em jaulas enferrujadas e deixa vocês trancados lá, depois de alguns dias ele pega uma das crianças trancadas e...
- E...? - Repeti junto com a vovó, para que ela continuasse, mesmo não gostando da história.
- E ele retira a pele das crianças e emenda no seu saco para que fique ainda maior e possa sequestrar crianças maiores. - Ela parou e pareceu me encarar ainda mais com seus olhinhos cegos. - Crianças como você garotinho.
Senti um arrepio subir pela espinha e saí apressadamente para fora do porão, fui até a minha mãe que estava cozinhando o nosso almoço.
- Mãe! Mãe! - Fui gritando em direção á ela. - É verdade que o homem do saco só vem pegar crianças mal criadas?
Mamãe me olhou pacientemente.
- Claro que não me.... - Tentou dizer ela.
- Mamãe! Mamãe! Eu fui comportado, né?! Não fui mal criado, né?!
- Claro que você é comportado. - Disse a minha mãe com seu sorriso legal de mãe. - Mas que história é essa do homem do saco?
- Ele existe mãe? - Perguntei torcendo para que não.
- Claro que não meu filho, essas coisas não existe. Agora venha comer, fiz aquele macarrão com salsicha que você gosta.
No começo fiquei feliz, além do homem do saco não existir eu iria comer macarrão com salsicha, mas depois eu fiquei bravo. A vovó me enganou de novo!
Comi rapidinho o meu almoço, agradeci a mamãe e fui correndo para o sótão, a vovó vai ver só, fica mentindo para mim. Encontrei ela sentada no sótão como sempre, com sua mão de gente velha esticada para mim.
- Vem me dar um abraço garotinho.
- Não! Sou um homem crescido, não abraço! - Falei para minha vovó, e cruzei os braços para mostrar quem é quem manda, vi isso no desenho uma vez.
Ela pareceu confusa por um momento, depois pareceu que teve uma ideia e mostrou seu sorriso banguela para mim.
- Não é que você está crescendo muito rápido? - Falou ela me fitando com seus olhos quase cegos e o sorriso banguela que parecia uma caverna cor de rosa. - Já tomou sua vacina contra a gripe do crescimento?
- Gripe do crescimento?
- Sim, uma gripe muito terrível, dizem que fazem garotinhos crescerem tão rápido que viram gigantes.
- Nossa, isso parece incrível! - Será que eu vou ficar gigante? Uau! Fico muito animado em pensar nisso, posso ir no brinquedo que eu quiser no parque de diversões.
- Sim, fica tão gigante e o corpo não aguenta e explode! - Quando a vovó me contou isso abriu ainda mais seu sorriso, e parei o meu. - Explode e voa sangue e tripas para todo o lado! Depois um cachorro vem e come o resto!
Saí correndo do sótão, eu que não vou esperar para explodir, vou pedir para mamãe me salvar agora! Mamãe tem a resposta para tudo!
Achei a mamãe passando a roupa, ficou preocupada quando me viu.
- Mamãe! Mamãe! - Me agarrei nas pernas gigantes de adulto dela. - A vovó falou que eu ia explodir!
- Quem... - Ela pareceu muito confusa.
- A vovó no sótão! Ela falou que eu tenho a gripe do crescimento! Que vou explodir e um cachorro vai comer o resto!
- Mas isso não existe filho. - Falou minha mãe calma.
- Não?
- Claro que não, sua mamãe já mentiu para você?
- Não...
Mamãe deu um sorriso sincero para mim, ela nunca mente, assim como nunca mentiu sobre o papai noel entregar presentes somente para quem dorme mais cedo. Sempre fui dormir cedo no Natal e sempre recebi presente.
Mas a vovó ela mentiu. Ela me enganou de novo!
Larguei a perna da mamãe e fui correndo para o sótão, a vovó estava sentada lá, parecia ter tirado um cochilo e ter acordado ao me ouvir chegando.
- Você mentiu para mim! - Falei muito bravo!
Ela pareceu muito arrependida.
- Me desculpe, eu só queria um abraço do meu garotinho, para aquecer a velhinha aqui. - Ela parecia desolada e triste, fiquei com pena dela.
- Você só quer um abraço vovó?
- Só um, garotinho.
Acho que homens feitos abraçam suas vovós tristes de vez em quando.
- Só um abraço vovó. - Ela pareceu animada ao ouvir isso, juro que podia ter ouvido um ganido de felicidade. - Mas bem rápido.
Abracei a velhinha, o engraçado é que não parecia que estava abraçando uma pessoa, parecia que...
- SAI DE PERTO DO MEU FILHO AGORA! - Ouvi o grito da minha mãe vindo da porta, acho que ela me seguiu. - FILHO SAI DE PERTO DESSA COISA!
No susto eu olhei para a minha vovó, mas não era ela que eu estava abraçando, não era uma velhinha, acho que nem era um humano.
Ela me enganou de novo!
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Contos de medo e horror
HorrorOlá amigos! Gostam de histórias de terror? Então vieram ao lugar certo, sentem-se, não se acanhem. Eu prometo não morder, já as histórias aqui... elas mordem.