Checklist

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Meu vô está no hospital, não entendi o motivo, só sei que foi um acidente, algo como ser atropelado por uma moto ou coisa parecida, de qualquer forma ele quebrou as duas pernas e a clavícula e agora está internado no hospital. Enquanto fui visitá-lo ele me pediu para cuidar da casa dele.

- Você é uma garota esperta. - Disse ele num sorriso conspiratório. - Pelo menos mais que seu irmão, então preciso de um favor seu, cuide da minha casa por mim, alguém precisa alimentar ele.

O meu avô adora gatos, está sempre cuidando deles, ele costuma pegar os gatos de rua, pena que os bichanos vivem fugindo do meu avô, sempre tem gatos diferentes na casa dele. Mas tem um gato que ele amou mais que os outros, um gato preto enorme de olhos amarelos que ele chama de Bisteca, meu avô tem péssimo gosto para nomes.

- Em cima da minha geladeira. - Continuou ele. - Debaixo onde fica os sacos de pães, tem uma lista de coisas para fazer que eu deixei caso acontecesse algo comigo. Se fizer tudo direitinho vai ser rápido.- Me disse dando sua picadinha familiar.

Cheguei na casa do meu avô, dois gatos me receberam roçando seus corpos em minhas pernas e os outros ficaram me olhando com seus olhos presunçosos, estavam todos muito gordinhos pois meu avô não parava de alimentar eles. Como não queria perder tempo fui logo pegar a tal lista, ela estava bem onde meu avô indicou, era uma lista relativamente pequena com algumas tarefas, em baixo da folha estava escrita em caneta vermelha:

Obs: Não acredite na Bisteca, ela anda muito mal criada.

Fiquei mais surpresa com o fato de saber só agora que Bisteca era fêmea do que achar graça com este comentário. Bom, seja como for melhor começar logo com isso.

Olhei para a primeira tarefa, alimentar os gatos, essa é uma tarefa relativamente difícil, pois assim que peguei no saco de rações os  bichanos se aglomeraram na minha perna, miando desesperadamente, tropecei algumas vezes neles até conseguir realizar a tarefa.

Segunda tarefa, limpar os pratinhos de água e colocar água nova, essa tarefa foi fácil, já que os gatos agora estão todos entretidos com suas rações.

Terceira tarefa, limpar a caixa de areia, essa eu não queria ter feito, eram muitos gatos, era muita sujeira, tive que reunir uma coragem impressionante para ir até o final, mas fiz e agora estou orgulhosa.

Quarta tarefa, escolher o gato mais gordinho e trancá-lo em uma gaiola que fica no quarto de visitas.

Eu confesso que essa eu não entendi, eu olhei para os gatos e escolhi o mais gordinho, um gato cerveja que lembrava vagamente do Garfield, ele era meio pesado como se deve esperar de um gato gorducho e o carreguei de forma toda desengonçada. Ao chegar em frente do quarto de visitas, encontro Bisteca parado em frente á porta me encarando com seus olhos felinos, senti um desconforto ao vê-los, se eu não os conhecesse bem diria que era um olhar de reprovação, mas no final era só um gato e só precisei esticar um pouco mais a minha perna para poder passar por cima dela. Abri a porta e encontrei a gaiola solitária bem no meio do cômodo, o tal quarto de visitas era estranho, não tinha janelas e nem outros móveis, era escuro e devo confessar que dava uma sensação desconfortável, de todo modo eu consegui colocar o coitado do gato ali dentro, mesmo sem entender o motivo dessa tarefa, a impressão que tenho é de que o gato está ali como um sacrifício. Dei risada com a ideia.

Quando fechei a porta do quarto me deparei com Bisteca ainda me encarando, dessa vez com mais alguns gatos para imitar ela, todos me reprovando, não estou sentindo nada de bom com isso, ainda mais depois que li uma observação nessa tarefa.

Obs: Depois de colocar o gato na gaiola feche a porta e não o abra até a segunda ordem.

Quinta tarefa, ligar a TV e deixar no volume máximo por pelo menos 30 minutos.

O que era para ser a tarefa mais simples foi a que me deu mais arrepios na espinha, deixar a TV no volume máximo logo depois de deixar um gato trancado na gaiola em um quarto fechado era como se quisesse esconder algo.

Mesmo assim liguei a TV, escolhi um canal de clipes musicais e deixei no máximo, era de manhã ainda então não acho que algum vizinho iria reclamar. Senti borboletas no meu estômago, não daquelas que se sente quando se está apaixonado, mas de quando se está ansioso.

Todos os gatos da casa passaram a me encarar, com seus olhares felinos de reprovação, seus olhares felinos de condenação, eles estavam me julgando e acho que eles tinham razão sobre isso. Voltei a olhar para a lista, mas meus pensamentos estavam no coitado do gato, encarei a porta do quarto de visitas antes de tomar uma decisão.

- Que se dane! - Falei comigo mesma, e abri a porta com tudo antes de dar o tempo que meu avô estipulou.

E eu vi! Oh meu Deus! Eu vi!

Fechei a porta com força e saí correndo da casa do meu avô, os gatos todos estavam me encarando enquanto eu fugia desesperadamente. Eu havia entendido tudo agora, meu avô nunca cuidou de gatos, ele estava cuidando daquilo que morava no quarto de visitas!

Mas o pior de tudo para mim era a lista..... pois havia muito mais tarefas para serem cumpridas.

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Eu sei que essa história parece cheia de furos e elementos desnecessários, mas peço aos leitores para que tenham paciência.

Contos de medo e horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora