Máscaras

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João acordou, e como todo bom adolescente, olhou para o seu celular, não havia mensagens, ficou decepcionado. Se levantou da cama, tomou seu banho, se arrumou, vestiu sua jaqueta preferida e colocou sua toca, desceu para tomar café com sua família antes de ir para a escola, já estava prevendo que o dia iria ser um saco.

Ao entrar na cozinha João para espantado, sua mãe, pai e irmãzinha estavam sentados tomando seu café como sempre, mas estavam todos vestindo máscaras de palhaço, máscaras iguais.

- Aí, que brincadeira é essa? - Pergunta João achando aquilo ridículo. Sua família nada responde, apenas param o que estavam fazendo e começam a encara-lo em silêncio. - Tá legal, agora já estão me assustando.

A família de João volta a tomar café como se nada tivesse acontecido. João começou a se sentir irritado pelo que estava acontecendo, tocou nos ombros do seu pai e perguntou mais uma vez, seu pai virou sua mascara para ele pacientemente.

- Nossa, como você é estranho! - Falou o pai com a voz abafada pela máscara.

- Ah que se dane! - Falou João irritado,  abriu a porta que dava para o quintal, olhou para trás e gritou. - ESTRANHO SÃO VOCÊS! - Saiu e bateu a porta com tudo.

Olhou para o seu cachorro e se sentiu um pouco melhor. Saiu pelo portão, foi até o ponto de ônibus, ia para escola de ônibus.

Quando o ônibus chegou, João percebeu pelo vidro que o motorista também usava uma máscara, mas de um macaco. Ao entrar no ônibus, antes de passar pela catraca, viu que todos os passageiros também usavam máscaras, a maioria de palhaço, mas tinha alguns cavalos, corvos, e uma pessoa que João achava que era o Michael Jackson. João estava ficando assustado, ficou pensando se não era algum tipo de data comemorativa maluca.

João achou um acento vazio, era como achar ouro, depois um tempo sentado notou que os outros passageiros encaravam ele, se sentiu desconfortável, ficou imaginando o que aquela máscaras inexpressiva estavam pensando, o que estavam julgando. A mulher com mascara de cachorro que estava ao seu lado não parava de encarar, João se irritou.

- Posso te ajudar? - Perguntou em tom ríspido.

- Nossa como você é estranho! - Falou a mulher.

João ficou chateado, e resolveu colocar seus fones de ouvidos, enquanto tentava ignorar os olhares.

Finalmente desceu no ponto, e como esperado, todo mundo na rua usava máscaras, e todos o encaravam. Chegou na escola e viu a mesma coisa, todos usando máscaras, todos o encarando, todos o julgando. João foi para o banheiro e se trancou em uma cabine, sentiu as lagrimas escorrerem no seu rosto, ficou ali por uns dez minutos.

Quando saiu do banheiro viu uma garota morena sem máscara, de touca e com uma franja pintada de roxo, como João achava lindo aquela franja, era Miriam, a garota com quem ele tinha ficado ontem a noite. Ela havia dito que iria mandar uma mensagem para ele de manhã, mas não mandou, João não culpava ela, devido ao que estava acontecendo.

- Miriam! - Gritou João de alegria.

Miriam parou de chorar e pareceu se animar um pouco.

- João... - A voz de Miriam era quase inaudível e rouco.

João foi quase correndo até ela.

- Você esta bem? - Perguntou João.

- Estou sim... - Miriam começou a encarar o chão.

- O que esta acontecendo por aqui?

- Eu não sei... me sinto tão... deslocada. - A voz de Miriam era quase inaudível.

- Sobre o que aconteceu ontem, eu... - João parou de falar quando percebeu a máscara de palhaço na mão de Miriam. - O que é isso?

Miriam olhou nos olhos de João, as lagrimas pareciam se intensificar.

- Me desculpe...

- Não Miriam!

Miriam colocou a máscara antes que João fizesse qualquer coisa. Ela ficou um tempo parada, depois olhou para cima como se estivesse vendo algo que somente ela pudesse ver, e voltou a olhar para João.

- Nossa, como você é estranho!

João pegou Miriam pelos braços e chacoalhou ela, gritando e perguntando o por quê dela ter feito isso. Ela não respondeu mais nada, apenas o ficou encarando, o julgando.

João desistiu, saiu da escola, pegou o ônibus, e até chegar em casa, sentiu os olhares dos outros sobre si. Ao chegar em casa, foi direto para o seu quarto e viu uma máscara de palhaço em cima da sua cama.

Quando seu pai chegou do trabalho, sua irmã da creche, esperou todos se reunirem na sala e sentarem no sofá, João apareceu na frente deles com a máscara em suas mãos e encarou as suas máscaras de sua família. Colocou a máscara de palhaço lentamente, olhou para cima como se enxergasse algo que somente ele pudesse ver, agora ele fazia parte da sociedade, do jeito que a sociedade queria. O pai de João botou as mãos em seu ombro como se estivesse aprovando a atitude do filho, sua mãe e irmã bateu palmas.

João saiu de casa, foi até o parquinho onde esteve com a Miriam na noite anterior e reencontrou ela ali, parada em frente ao escorregador. João parou na frente de Miriam e estendeu a sua mão, ela pegou na mão dele, eles ficaram se encarando.

Agora não era mais nada estranho.

Contos de medo e horrorOnde histórias criam vida. Descubra agora