O observador

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Eu estou escrevendo este diário para registrar meus últimos acontecimentos estranhos, até agora não consigo decidir se as coisas que eu presenciei foi real ou minha imaginação.

Tudo começou em uma noite há alguns dias atrás , lembro que estava frio e lembro que estava agasalhado, estava voltando da faculdade infelizmente o ônibus parava em frente de um cemitério, eu tinha que passar pela lateral do cemitério sempre que descia desse ônibus para poder chegar em casa.

Mas eu não tinha medo do cemitério, depois de anos fazendo a mesma coisa a gente perde o receio, mesmo assim naquela maldita noite eu estava caminhando o mais rápido que pude para chegar em casa, mesmo cansado por causa do trabalho e faculdade, meus passos estavam barulhentos aquele dia, cada vez que eu pisava na terra podia se ouvir a terra raspando.

Eu parei para conferir se minhas chaves estavam na mochila, e continuei a ouvir passos, sons de terra raspando atrás de mim. Me virei para trás para ver se havia algum assaltante, mas não havia ninguém, achei que devia ter sido a minha imaginação, senti um estranho alívio e continuei.

No dia seguinte meu cotidiano ocorreu normalmente até chegar de noite, estava na minha cama tentando dormir, mas algo estava me incomodando, não sabia explicar o por quê mas tinha a sensação de estar sendo observado, o mais estranho era que eu não sentia uma presença, sentia só que estavam de olho em mim, mal dormi essa noite.

A sensação de estar sendo observado continuou por mais algumas noites, até que comecei a sentir de dia também, no trabalho, na faculdade, droga, sentia até no banheiro, havia algo ou alguém ou alguma coisa ali, só me observando.

Acho que foi na quinta noite, eu fiquei de saco cheio desse sentimento, o que era medo se tornou revolta, eu resolvi que deixaria a luz do meu quarto acesa na hora de dormir, se não encontrar nada a noite toda então provaria para mim mesmo que não havia nada a temer. 

Com a luz acesa eu fui me deitar e fiquei esperando, só observando o  ambiente que era o meu quarto, parecia que a sensação foi embora e eu fiquei aliviado, quando comecei a sentir o sono ouvi um barulho de passos vindo da porta, pelo que conseguia ouvir parecia que estava descalço, era som de pele batendo no piso frio, e pelo intervalo dos paços estava vindo até mim bem devagar. Podem me julgar a vontade mas eu coloquei a minha cabeça debaixo dos cobertores e fiquei imóvel, pela luz que batia no cobertor (era um cobertor fino) eu podia distinguir as coisas do meu quarto pelas sombras, e desse jeito eu fiquei ali, imóvel por uns dois minutos esperando a coisa vir me buscar, mas não conseguia ver a sombra de ninguém e o som dos paços havia parado também, mas quando eu estava prestes a ficar aliviado eu vi a sombra de uma mão bem em cima de mim, pelo cobertor ela se moveu lentamente até acima da minha cabeça. Eu pensei que o observador iria puxar o cobertor com tudo, mas não queria ver ele, então fechei os olhos com força esperando que ele fosse embora, fiquei nessa posição patética a noite toda e nada me aconteceu.

Na noite seguinte eu convidei um colega de faculdade meu para dormir em casa, eu expliquei á ele minha situação e disse que precisava de alguém para provar que eu não estava delirando, meu colega achou que eu havia enlouquecido mas aceitou meu pedido mesmo assim, talvez ele quisesse provar que eu estava errado, eu queria provar a mim mesmo também. Nosso plano era o seguinte, meu colega ficaria escondido no meu armário (sim ele cabia no meu armário) observando tudo por uma fresta enquanto eu dormiria na minha cama como o combinado, meu colega reclamou no início por ficar desconfortável dentro do armário mas ele conseguiu se ajeitar ali dentro, deixei a luz acesa e fui me deitar.

Nem percebi quando eu dormi, e pelo visto dormi bem pois pela primeira vez eu não senti estar sendo observado, por isso me senti culpado por ter deixado meu colega no meu armário a noite toda. Quando me levantei da cama eu vi que meu colega já estava para fora do seu esconderijo, mas ele estava com a cabeça na parede e seu cabelo parecia ter embranquecido, quando o chamei ele simplesmente olhou para mim com um olhar de pena e disse as seguintes palavras:

- Você está muito fudido.

Depois foi embora, nunca mais o vi, na verdade ninguém nunca mais o viu, depois que ele saiu da minha casa parecia que despareceu do mundo.

Na noite seguinte a sensação de estar sendo observado voltou, só que dessa vez eu não quero mais olhar  e descobrir quem é o meu observador, se é que ele existe. Vou continuar a agir normalmente apesar dessa terrível sensação, pois se realmente há algo me observando, então ficarei quieto, já que até agora ele não quis nem mesmo me tocar. Enquanto isso eu continuarei a atualizar este diário.

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Este diário foi encontrado três dias depois do desaparecimento do dono dele, talvez seja a única prova que tenhamos sobre o incidente em que mais de dez pessoas desapareceram na região, a única coisa em comum com as supostas vítimas era que todas pegavam o transporte coletivo e desciam no mesmo ponto, ao lado do cemitério.

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