FREEDOM(FINAL)

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Liberdade...

“Eu sou uma pessoa livre.”

(Desejo Sombrio)

Passei o resto da madrugada do ano novo deitado em minha cama olhando para o teto, sem fazer absolutamente nada ou pensar em nada que faça eu me desesperar, era como se eu estivesse anestesiado pelo champanhe que tomei, mas, na verdade, o efeito já passara há muito tempo, na verdade, o que eu estava sentindo era paz, a paz que eu tanto pedi e tanto precisei.

Por um momento eu não fiquei triste ou desesperado por estar em uma casa enorme e sozinha, por não ouvir os gritos de Junwoo ou o choro de Lina, a casa estava silenciosa, eu estava sozinho. Porque eu não estou triste como das outras vezes? Porque eu não estou com medo? Porque minha cabeça não está dizendo que eles estão felizes sem mim?

Então essa é a sensação de ter paz? De estar tranquilo consigo mesmo?

— Oi bebezinho... — sorrio olhando para o teto. — feliz ano novo meu amiguinho, aí deve estar uma festa muito grande. — Acho que precisava disso para seguir, precisava me despedir, me desculpar. Deixa-lo ir com toda a culpa e medo que senti em toda a minha vida. Eu precisava me purificar. — Meu pequeno bolinho de arroz, às vezes eu me pego pensando em como você seria, seu rostinho, sua personalidade, como eu estaria se estivesse seguido com a gestação. Mas não fique magoado comigo meu bebê, papai sabe o quanto você está feliz aí em cima, e que foi uma boa decisão deixar você ir. Vamos nos encontrar de novo tenho certeza, não desista de mim ainda. — comecei a rir, ignorando a lagrima solitária que escorreu por minhas têmporas. — Estarei te esperando com uma festa quando você chegar, e dessa vez você poderá ficar aqui em baixo comigo e seus irmãos, será amado como deveria ser, brincaremos até escurecer, e quando escurecer contarei histórias para você como faço com seus irmãos. Vou te esperar por toda a minha eternidade, mas agora papai deixará você descansar para o nosso reencontro, eu te amo meu neném, até a próxima. — fechei meus olhos deixando que o sono finalmente tomasse conta do meu corpo, era como se estivesse deitado nas nuvens, ou como se estivesse flutuando, eu nunca dormi tão bem assim.

[...]

Na manhã seguinte antes que meus filhos voltassem com o pai eu sai de casa dirigindo por poucas horas até parar em frente ao lugar que passei parte da minha vida, nem sempre as melhores. Eu quase não consegui sair do carro, mas ainda assim insisti e quando dei por mim, estava tocando o interfone da casa que cresci e que parecia não ter mudado nada, fui atingido por lembranças minhas com meus amigos, com Jungkook, lisa, Kate, as brigas que presenciava, os meus esconderijos quando precisava ficar sozinho e chorar, os lugares que beijava Jungkook no início de nosso namoro. Uma cidade repleta de boas e ruins lembranças.

— Oi mãe. — a palavra quase fugiu da minha boca entre cortada, o olhar de surpresa da mais velha ao me ver ali me deixou com uma vontade enorme de correr e fingir que nada aconteceu.

— Meu filho. — me abraçou tão forte, e para mim esse era o primeiro abraço que ela me deu desde que era pequeno. — Querido Jimin está aqui. — chamou meu pai, eles ainda estavam juntos?

— O Jimin? — meu pai se aproximou tão chocado quando minha mãe por estar me vendo ali, tem anos que não vejo os dois. — não vai entrar? — perguntou e eu concordei, entrando em casa sendo atingido por mais lembranças, lembranças essa que deu vontade de fugir dali e chorar em um canto, mas permaneci.

— O que traz aqui? — perguntou minha mãe mais gentil do que me lembrava.

— Vim dizer a vocês o quanto me machucaram. Vim deixar toda a dor e medo que vocês depositaram em mim, para eu poder ter paz e uma vida feliz sem inseguranças. — fui direto, porque queria sair logo daquele lugar. — não voltei porque estava com saudades, por eu acredito que já passamos dessa época, voltei porque eu quero que saibam de toda a dor que me causaram quando brigavam frequentemente me minha frente, quando esqueciam da minha presença dentro dessa casa. Quando faltavam as minhas apresentações e me ignoravam completamente.

— Jimin... — Vocês não estiveram presentes em nenhum momento meu, não me acompanharam crescer, não cuidaram de mim, não me abraçou quando fui machucado pela primeira vez, não me parabenizou quando consegui a bolsa para faculdade, não me acompanhou ao meu baile de formatura. Droga eu estava sozinho.

— Jimin meu filho, nós... — minha mãe tentou argumentar.

— Deixe-me falar, passei uma vida quieto, chorando pelos cantos dessa casa, fazendo todas as melhores coisas para ser notado. Não ligavam para meus namorados, o que eu fazia quando não dormia em casa, nem mesmo se eu estava indo para escola. Vocês foram péssimos pais, e toda a minha vida eu passei a procura de pessoas para suprir a falta que tinha de vocês, eu fiquei com medo quando engravidei, e eu sei que não podia contar com vocês. Vocês não estiveram presentes em momento algum, e nunca sentiram remorso por me ver mal, porque eu nunca escondi isso de vocês. Mas estavam tão ocupados brigando um com outro e esqueceram que colocaram um filho no mundo. Eu não consigo ter amizades sinceras sem pensar que elas vão me deixar, ou que ficam melhores sem mim. Não consigo ter um relacionamento saudável porque finjo sempre ser quem não sou com medo deles me abandonarem como fizeram comigo, eu não consigo ficar sozinho um pouco sequer sem chorar e tremer porque eu penso que todos foram embora. Vocês deveriam ser meu porto seguro e foram as pessoas que mais me magoaram. Eu tenho dois filhos, Lina tem meses de vida, um ótimo emprego e uma casa grande com cerca branca e tudo, como nos filmes. E eu fico muito feliz em saber que não puxei nada de vocês e que meus filhos nunca vão passar pelo que vocês me fizeram passar. Vim aqui para deixar essa dor com os responsáveis por me causar ela e agora poderei ser uma nova pessoa sem me prender a vocês. — me levantei caminhando até a porta antes de dar uma última olhada para meus progenitores e ir embora com a intensão de nunca mais voltar e esquecer todos os traumas que um dia tive.

Pensamentos impuros - Pjm ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora