Train Wreck

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Oi gente! Essa é minha primeira fic então tenham paciência, comentem o que acharem que devo mudar ou se estão gostando... A maioria dos capítulos vão ter músicas e os nomes vão ser o título mas vocês não precisam escutar a não ser que eu diga. Pretendo que essa fic tenha de 30/40 capítulos mas não sei ainda, vou sempre postar o próximo capítulo quando já tiver o seguinte pronto. É isso, espero que gostem.

ESSE CAPÍTULO PODE CONTER GATILHOS

Maya 

A ponte parecia uma boa opção, o mar estava logo abaixo junto com diversas pedras enormes. Se me jogasse, certamente iria dar com a cabeça em uma delas e morrer na hora. Esperava que não doesse tanto, talvez a dor fosse menor do que a dor em meu coração e mente. Estava cansada, cansada de sempre dar o meu melhor e nunca ser o suficiente, estar sempre em primeiro lugar mas nunca parecer estar nele. 

Laying in the silence
Waiting for the sirens
Signs, any signs I'm alive still
I don't wanna lose it
But I'm not getting through this

(Deitado no silêncio
Esperando pelas sirenes
Sinais, quaisquer sinais de que ainda estou vivo
Eu não quero enlouquecer
Eu não estou conseguindo passar por isso)

Depois da medalha de ouro, achei que os treinos exaustivos iriam diminuir um pouco, engano meu. Tudo se tornou pior, sem descanso nos finais de semana, regras exaustivas e dietas malucas. Eu parecia uma adolescente mas afinal, o que poderia fazer? Eu já tinha largado as corridas, ser bombeira tinha me animado, mas então meu pai me puxou para baixo de novo. 

Minha vida é basicamente treino, treino e mais treino quando estou fora do batalhão. Torcia para achar um apartamento logo e me mudar, estava cada dia mais difícil viver sob o mesmo teto que meu pai.

A ponte era uma boa amiga, mesmo que ainda não tivesse a coragem de dar um fim na dor, pelo menos ali podia pensar em tudo enquanto olhava as ondas batendo nas pedras. Observava as estrelas, hoje elas não estavam presentes, o que tornava a chance de me jogar menor ainda, queria morrer numa noite bonita e estrelada. Parecia um bom fim.

Meu pai com certeza iria morrer de desgosto, ia me chamar de fraca e burra. Pelo menos não estaria lá para ver, não era nada muito diferente do que ele já fazia. Ao contrário da minha mãe, ela com certeza iria sofrer muito e eu sentia por isso mas minha dor já era maior do que qualquer outra coisa. 

Terapia Maya! Com certeza não, isso não estava nem perto de ser uma opção. Podia ouvir a voz de meu pai falando "Terapia Maya? Você não precisa de terapia, isso é para os fracos e você não pode ser uma! Vá já fazer os exercícios, isso é sua terapia". 

O mar estava revolto hoje. Uma longa tempestade chegava, quando era criança tinha medo de chuva mas agora parecia o menor dos meus problemas e medos. A morte também era um grande medo e agora parecia minha melhor amiga. Andy me mataria se soubesse que não a considero minha melhor amiga, ri sozinha, o primeiro riso daquele dia. Andy não tinha conhecimento de metade das coisas que se passavam na minha cabeça, aliás, ninguém tinha. 

Eu tinha me tornado uma boa mentirosa nos últimos anos, nem sei quando foi a última coisa verdadeira que falei a alguém. Nem a vovozinha vizinha de casa ouvia minhas verdades e bom, eu achei que nunca conseguiria mentir para uma idosa mas lá estava eu mentindo para ela em nossas conversas de dez minutos pela manhã, enquanto ela varria a calçada e eu me alongava para a primeira corrida do dia. 

- Maya, querida. Tudo bem?
- Tudo ótimo. E com a senhora?
- Estou bem minha filha, quer um bolinho de chocolate? Acabei de fazer.
- Oh, não. Obrigada. 

Eu queria sim aquele bolo, me lembro que uma vez aceitei e misteriosamente meu pai descobriu. Fiquei sem comer nada por um dia inteiro, com certeza não queria ter aquele castigo de novo. Além de tudo que já sofria, ainda me sentia patética por ser uma adulta que aceita o que o pai faz. Com certeza sou patética. Engano meu achar que quando ficasse adulta poderia me liberar das amarras que meu pai me colocava, fiquei ainda mais presa nelas e agora sentia que não poderia me libertar delas de forma alguma sem ser o fim de minha vida.

Não tinha motivos para sair delas, não tinha mais ânimo para lutar pelo que queria. Estava tão fodida mentalmente, quando foi que deixei as coisas chegarem a esse ponto? As corridas sempre foram meu foco, por isso nunca tinha tempo para pensar em outras coisas, depois entrar no corpo de bombeiros mas no último ano tudo veio tão do nada, eu estava exausta de tudo. Até durante os treinos e chamados minha mente não parava, agora não conseguia fugir daquilo tudo que fugi por tanto tempo.

Por que Deus? Será que existia mesmo um? Não tinha mais a quem perguntar o porquê disso tudo então perguntava todas as coisas para esse ser "superior". 

As ondas estavam ainda mais revoltas, a tempestade estava ainda mais perto. Se não fosse para casa logo iria tomar um belo banho de chuva, mas minhas pernas não pareciam obedecer.

Não estava pronta para ir embora, não agora. Seria uma droga chegar em casa molhada e poder pegar uma gripe mas era uma droga ainda maior voltar para casa e sentir meus ombros ainda mais pesados. Meus músculos tensionando por medo de qualquer coisa, o pânico tomando conta da minha mente e me deixando em alerta a cada movimento do meu pai.

Não tinha medo de ser agredida, longe disso, afinal ele nunca fez isso mas medo das outras coisas. A dor mental era tão ruim quanto a física. Tudo parecia tão ruim e ainda não tinha coragem de acabar com isso.

Fracassada, patética e covarde. Tinha ainda mais adjetivos pejorativos para mim mesma, eram infinitos e a voz do meu pai falando todos eles ecoava em minha mente porque ele tinha razão. Eu não conseguia nem me jogar daqui de cima.

Find hope in the hopeless
Pull me out of the train wreck
Unburn the ashes
Unchain the reactions
I'm not ready to die, not yet

(Encontrar esperança na falta de esperança
Me tirar desse desastre
Desfazer as cinzas
Desencadear as reações
Eu não estou pronto para morrer, ainda não)

Kiss Is BetterOnde histórias criam vida. Descubra agora