Acontecimentos

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18:38

-E essas foram as duas piores horas da minha vida. - quase chorou Hizashi, não hesitando em comparar seu dia de trabalho com esperar em pé, no sol, numa fila desgraçada.

-Para de fazer drama Hizashi. - Nemuri perdeu a paciência porque gastou-a com um homem que estava determinando até demais em pegar seu número, agora, sentada numa cadeira que alguma alma caridosa trouxe, não quer ouvir ninguém respirar perto dela.

Mas, infelizmente, Hizashi só sabe ler o clima quando é inconveniente para outras pessoas.

-Hipócrita! Você estava fazendo drama por causa dos bolinhos agora pouco!

Desejando desassociar e não ouvir, sentir, ou perceber mais nada, estava Aizawa sentado no sofá, quase meditando para se acalmar.
E não tem uma boa desculpa para sua raiva, mas só faltou dar um tiro em Hizashi que teve a audácia de sentar em sua poltrona reclinável, depois de reclamar por semanas do seu querido saco de dormir amarelo.

-Midoriya! Buddy! Já levou o pedido para a mesa dez? - perguntou o outro garçom animado, sem sentir vergonha em usar alguém mais novo para fazer o trabalho que ele deveria fazer, porque quem pegou o pedido foi ele.

-Sim, senhor Yamada.

-Parece que você entrou no caminho de um ônibus, jovem Midoriya.

-Eu acho. - Midoriya internamente chorou, já que precisou ficar em pé na sala pequena, com uma única janela que não dá em lugar algum, e espaço para ter apenas uma poltrona, um sofá para duas pessoas e uma mesinha com uma máquina de café.
As coisas ficaram um pouco espremidas com a cadeira que Nemuri está sentada.

-Você parece cansado fofinho, por que não descansa no escritório de Aizawa? Ali será mais confortável para você, querido. - mesmo cansada, e se sentido traída já que nem o seu querido salto meia-pata conseguiu salvar seus pés, Nemuri não quer perder a chance de provocar Midoriya, se Aizawa for levado junto é um bônus.
Não fez sua decisão infelizmente, mas não é por isso que tem uma imagem negativa de garoto que não tem nada haver com seu passado turbulento, quer um final feliz para os dois, seu amigo de longa data, e o garoto. Mas não importa sua decisão, ou os possíveis sentimentos de Aizawa, Nemuri não consegue confiar em Midoriya

-O escritório é do senhor Aizawa. - respondeu o óbvio.

-Eu achei que depois de tudo isso não seria um problema.

-Senhorita Nemuri.. - Midoriya não tinha energia para fazer uma reação elaborada, como o grito que fez em sua mente junto com a memória de acontecimentos recentes, mas o cansaço não impediu o sangue de subir para o rosto.

-Não precisa ficar com vergonha. - disse Nemuri rindo da vergonha de Midoriya, a diferença que o deixou muito fofo foi o biquinho que ele fez.
Provavelmente apenas Nemuri percebeu.

-Façam silêncio, por obséquio. - gruniu Aizawa, querendo sair mas tendo consciência que se for ao seu escritório, mesmo mais confortável, iria acabar vendo os papéis na mesa e iria começar a trabalhar.
E não quer trabalhar agora.
-Midoriya.

-Senhor Aizawa?

-Se quiser pode ir no escritório, mas saiba que eu vou com você.

Midoriya apenas riu com as bochechas rosas, dizendo que não era necessário, sem saber do fato que Aizawa estava falando sério.





20:55

-Senhor Aizawa.

Aizawa acordou no momento que ouviu a voz de Midoriya, chamem de instinto de sobrevivência, mas é mais simples Aizawa acordar de imediato com a voz de Midoriya do que com os gritos de Hizashi. Mas os dois funcionam muito bem.

-Já são nove horas? - perguntou coçando um dos olhos, sentido a irritação costumeira de quando acorda.

-São cinco pras nove. - ouviu Nemuri risonha, ganhando a atenção de Aizawa. Qualquer sinal de bom humor nela é indicação de um plano maligno, e quando Hizashi ri atrás dela como está fazendo, é duas vezes pior.

-E vocês estão aqui ainda? - normalmente fecha tudo sozinho, as vezes que dependeu de Yagi para qualquer outra coisa foram poucas, então não tem motivo nenhum de terem continuado no lugar, eles estão tramando algo.

-Nos não iríamos deixar vocês sozinhos. - Yagi disse sorrindo gentil.

Vocês quem?

Foi quando percebeu o braço em volta de algo, similar a situação clichê dos filmes românticos que era forçado a ver com Nemuri triste, seu braço estava em volta dos ombros de Midoriya como a cena repetitiva do interesse amoroso com o personagem principal no cinema.
Supõe que durante seu sono deixou seu peso em cima de Midoriya, admite com pouca vergonha que é pesado, seria principalmente para o corpo pequeno de Midoriya.

-Deixei meu peso sobre você? Me desculpe, eu sou um pouco pesado. - saiu de cima se levantando, disposto a ajudar Midoriya a se levantar se ele estivesse com alguma parte dormente.

-Estou bem Senhor Aizawa, sou forte. Se não fosse, o senhor Yamada não me chamaria para ajudá-lo com as caixas no depósito. - disse Midoriya, se levantando e sorrindo feliz, provavelmente por ajudar alguém, sem saber que Hizashi tirou vantagem da pouca informação de alguém que só devia ser garçom. Porque sim, Hizashi ajuda com o descarregamento dos produtos e arruma o depósito quando tem muita coisa, mas quem verdadeiramente cuida do depósito é Yagi, com o pouco número de garçons Hizashi não deveria ficar arrastando Midoriya por ai tentando aliviar a própria carga de trabalho que ele nem faz!

-Hizashi pediu ajuda? Para arrumar as caixas? - aproveitador barato.

Viu a postura de Midoriya tremer um pouco, mas logo ele concordou com um olhar preocupado, pode ser que Hizashi não é totalmente culpado, porém mesmo se Midoriya disser que foi ele quem ofereceu ajuda, se Hizashi fazer algo que não devia outra vez vai aplicar uma punição nem um pouco justa.

-Quer dizer, tinha muitas e eu não queria fazer sozinho, mas o trabalho foi feito mesmo que eu acabe a sete palmos! - Hizashi falou brincando, mas tinha um pouco de seriedade nas entrelinhas da frase, alguém que trabalha no café a tantos anos sabe muito bem que leis são ignoradas.

-Apenas sete? - mencionou Nemuri olhando para o relógio impaciente, Aizawa tem quase certeza que ela tirou fotos e iria postar em algum grupo estranho ou na própria rede social, pelo menos ela tem a decência de censurar o rosto.

-Não vão sair? Já passou do horário. - não foi discreto dizendo que quer eles fora com a indireta, precisa fechar de uma vez, antes que aquela reunião maldita do submundo acabe e tenha que lidar com ladrões saqueando os lugares abertos 24h ou os azarados que fecharam tarde demais.

-Tá tudo resolvido, agora eu estou dando o fora daqui. Tchau! - saiu Hizashi sem se despedir direito, com um pouco de medo, mas com motivos justos, já que o ônibus não vai esperar por ele.

-Vejo você segunda verdinho. - Nemuri piscou para Midoriya, e logo saiu apressada seguindo Yagi. - Até amanhã Aizawa!

Yagi sempre termina dando carona para alguém, ele é o único que tem carro afinal.

-Até amanhã senhor Aizawa.

-Midoriya; - chamou a atenção. - tenho algo para dizer amanhã. - Midoriya pareceu confuso por um momento mas logo concordou, quando ele saiu, Aizawa foi terminar de desligar as luzes e fechar o caixa.





21:20

Midoriya ficou o caminho todo pensando em possibilidades do que Aizawa tinha para dizer, e claro, nenhuma delas boa. Até pensou que seria demitido, opção que obviamente não era verdade.

-Mãe? Eu estou em casa. - a primeira coisa que Midoriya estranhou foi a porta previamente aberta, quando normalmente, sua mãe é quase obcecada em mantê-la bem fechada.

-Seja bem-vindo Izuku.

Inko estava na cozinha. A segunda coisa que Midoriya estranhou foi as roupas de sua mãe, que normalmente usava um casaco rosa, blusa de cor clara e uma saia escura, mas hoje o casaco era longo e preto, estava fechado até o pescoço, impossibilitando Midoriya de ver as outras roupas.

-Mãe, tem um cheiro de queimado. - disse notando o cheiro estranho e um pó cinza na ponta do casaco de sua mãe, tão longo que chegava a menos de cinco centímetros de chão.

-Um acidente aconteceu na cozinha hoje. - a mulher respondeu com calma, tentando parecer até mesmo inocente, não sendo a primeira vez que Midoriya suspeitava de algo.

-Um acidente? Você está bem? - a preocupação substituiu a estranheza no rosto do pequeno esverdeado, com a mente indo longe a ponto de imaginar um incêndio.

-Sim, eu estou. Mas eu não posso dizer o mesmo de uma das cadeiras.

Inko apontou em direção a mesa, e Midoriya virou o rosto para a direção apontada, vendo a terceira coisa estranha, a cadeira estava totalmente queimada, o encosto para as costas foi completamente destroçado e tem quase certeza que a cadeira foi arrebentada contra uma superfície.

-O que aconteceu com a cadeira? - a confusão é tão óbvia que nem precisava de pergunta, mas Midoriya estava ocupado tentando pensar no que poderia ter acontecido.

-Eu explico quando você voltar do banho.

-Eu vou. E você vai me dizer o porque da cadeira está toda destruída.

Dito isso o pequeno Midoriya foi tomar banho, com a cabeça cheia para perceber a mudança de assunto descarada que Inko havia feito.

Por outro lado Inko foi até seu quarto trocar de roupa, tirando o casaco enorme, revelando um vestido vermelho. Assim que Inko abriu seu guarda-roupa foi possível ver uma coroa dourada com rubis e diamantes ornamentando de forma simétrica.

Devia ter imaginado que alguém com um plano estúpido, viria bem no dia onde os lideres de gangues se reúnem. A parte ruim, é que são nesses momentos que percebe que seu filho não é estúpido, o estrago causado pelo imbecil não é explicado apenas com uma desculpa besta.

-Que desculpa eu uso dessa vez?

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