Ao notar que 2-D não iria afastá-lo, Murdoc sentiu como se seu coração pudesse mata-lo de satisfação. Assim, aprofundou o beijo, explorando a boca do azulado com a língua enquanto o trazia para mais perto de si. O vocalista, por sua vez, que até então permanecia congelado, sentiu a eletricidade tomar conta do seu corpo ao agarrar a nuca do líder, impedindo que ele se afastasse.
Surpreso com a iniciativa, Murdoc segurou a cintura de 2-D e a encaixou na dele, sorrindo de prazer ao ouvir o gemido anasalado que o azulado soltou. Os corpos dos dois se moviam de encontro ao outro de forma necessitada e afoita. Tornava-se cada vez mais claro o quanto aquilo era desejado por ambos, eles só não sabiam a razão por terem adiado o momento por tanto tempo.
Quando Murdoc finalmente se afastou, para que ambos recuperassem o fôlego, 2-D o encarou e ele pôde ver em seus olhos enegrecidos uma onda de confusão se formar. De repente, os mesmos olhos começaram a brilhar conforme as lágrimas os encheram. Naquele instante, o líder tomou consciência de que não haveria escapatória. Ele estava preparado para se desculpar, mas não para ouvir as palavras que vieram a seguir.
- Por quê? – a voz embargada de 2-D quase não pôde ser ouvida.
Murdoc o observou com os olhos arregalados. Como iria explicar? Como diria ao azulado que precisava dele tanto quanto precisava respirar? Ele estava certo, 2-D nunca acreditaria.
- Por que fez isso? O que quer de mim agora?
Em choque, o baixista não encontrou formas para refutar a raiva contida do outro. As palavras de 2-D saíam partidas, bem como sentia que seu coração estava naquele momento. Partido em muitos caquinhos. Por que Murdoc fizera isso com ele?
- Você... você estava zombando de mim, não é mesmo?
- Pot, eu não sei do que você-
- Para! Para de mentir! – o vocalista gritou, agarrando os cabelos enquanto se afastava. – Você sempre faz isso. Sempre!
- Eu nunca beijei você antes. – Murdoc riu, desconcertado, tentando amenizar o teor da conversa. Não era bem aquilo que ele imaginava após o beijo...
2-D franziu o cenho, tentando entender como o líder podia ser tão insensível daquela forma. Beijá-lo para conseguir algo e depois fingir que não era nada. Ele podia entender quando Murdoc o manipulava com palavras, mas aquilo era ridículo. O azulado se sentia extremamente usado.
- Olhe, Pot... eu não fiz isso em troca de algo. – Murdoc resmungou, coçando a têmpora.
- Ah! Então vai me dizer que fez isso simplesmente porque sentiu vontade?
- E você não?
2-D não teve tempo de responder, mesmo sentindo um solavanco em todos os órgãos. Ele sentiu vontade? Mesmo?
No piso superior, um barulho estranho ecoou escada abaixo, atraindo a atenção de ambos. Murdoc correu até a porta do quarto e parou no meio da cozinha, se virando rapidamente para 2-D, que vinha logo atrás, quase o fazendo esbarrar em suas costas.
- Essa conversa ainda não acabou. Terminamos isso mais tarde.
O azulado engoliu um seco, observando os olhos negros do líder brilharem enquanto ele lhe dava as costas e subia a escada dois degraus por vez. Ao chegarem juntos na sala de controle, viram uma cyborg atordoada, soltando faíscas e fluídos, escorada em uma parede. Ambos arquejaram de surpresa ao vê-la de pé. Murdoc podia jurar que ela não era a prova d'água.
- Você... – ela apontou para 2-D, a voz mecânica.
A cyborg se pôs a andar na direção do azulado que, trêmulo, não foi capaz de impedi-la de se agarrar ao seu colarinho. A máquina não suportava o próprio peso, e foi escorregando para o chão, levando o rapaz consigo. Ao parar ajoelhada diante dele, seus olhos se arregalaram.
- Obrigada!
- Quê? – 2-D e Murdoc ecoaram.
- Você me salvou. Eu devo a minha vida a você! Eu juro, protegerei a sua vida de tudo. – agarrada as mangas do rapaz, ela lançou um olhar feroz para Murdoc. – De tudo mesmo!
Certo, além de tentar convencer 2-D de que não o havia beijado com segundas intenções – segundas intenções maldosas –, agora Murdoc teria também que se atentar ao fato de que uma cyborg quase imortal e treinada para matar, estaria caminhando bem ao seu lado. Ele precisaria se lembrar de evitar fazer o vocalista chorar na frente dela de novo.
A garota levou um certo tempo para se soltar de 2-D, tão grata estava. A experiência de quase "morte" a havia aterrorizado. Assim, foi preciso que o azulado a levasse de volta para a cabine a qual a havia deixado antes, a deitado sobre a cama e quase ordenado para que ela ficasse lá, descansando. Ele não fazia ideia de como uma cyborg recuperava suas forças. Mas, caso precisasse de uma tomada, poderia arrumar alguma uma forma.
Na sala de controles, Murdoc batucava nos balcões insistentemente. 2-D voltou a sala sem saber ao certo o que fazer ou dizer. Apenas sabia que não queria ter "aquela conversa" naquele momento. Na verdade, o que ele precisava mesmo era digerir tudo o que havia acabado de acontecer. Desde o submarino encontrado, o beijo, até a ressurreição da cyborg. Era informação demais para um único dia.
- Eu vou ficar com o quarto dos beliches.
Foi tudo o que ele conseguiu dizer ao passar depressa, quase correndo, por Murdoc. Por sua vez, debruçado sobre os painéis, o líder apenas resmungou algo que 2-D considerou como um assentimento. Embora soubesse que aquele tipo de comportamento não era do feitio do baixista, o azulado sabia que não suportaria mais uma sessão de tortura.
Na verdade, aquilo foi mesmo torturante. Era aterrorizante, mas 2-D não se arrependia de ter aceitado o beijo, e muito menos de ter ficado animado durante o processo. Aliás, a sensação que o invadiu naqueles breves minutos era muito maior e mais intensa do que qualquer outra em toda a sua vida. Ele queria que um raio o partisse naquele momento, mas seu corpo parecia mesmo desejar Murdoc.
E essa era exatamente a parte que o torturava. Murdoc não o queria. Não de verdade. A sensação que o azulado tinha era que tudo aquilo não passava de uma forma para convencê-lo a continuar com a banda, para forçá-lo a continuar cantando para o seu algoz. E, depois que tivesse persuadido o vocalista, o líder agiria como se nada tivesse acontecido.
Murdoc já tinha feito isso várias outras vezes, como quando o convenceu a continuar mesmo após o desaparecimento de Noodle, mesmo ele tendo certeza que o baixista tinha algo a ver com aquilo. E por que agora seria diferente? E que maneira ridícula era aquela de convencê-lo? Quais outras razões levariam Murdoc a querer beijá-lo daquela forma? O que era ainda mais desconcertante: ele parecia mesmo empolgado.
Sentado no beliche de baixo, 2-D apoiou a cabeça nas mãos. Podia, ainda, sentir o calor que vinha do corpo de Murdoc, que atravessou seus ossos gelados e o aqueceu por dentro como fogo. Aquela centelha, aquela pequenina pontada de desejo que rompeu de seu âmago no momento em que o líder o tocou, o fazia ansiar por um novo toque, por mais alguns segundos sôfregos de respirações oscilantes e corpos em atrito. Mas ele sabia, e era frustrante, aquilo era extremamente errado.
Martirizava-o saber que Murdoc fingia tão bem. Era tão bom ator que parecia mesmo ter ficado excitado. 2-D o sentiu naquele momento, ambos estavam excitados. Talvez fosse só uma resposta ao beijo, nada que ultrapassasse a fronteira da natureza golpista que aquela situação possuía. Mesmo assim, era uma tortura saber que o líder havia escolhido aquela maneira para manipulá-lo. Com um beijo. Com a demonstração de um falso sentimento. Nada poderia ser mais cruel do que aquilo. Nem os socos, nem os acidentes, nem as palavras rudes. Nada poderia reparar o quanto aquele simples gesto – que era o que significava para Murdoc – o havia machucado.
Enquanto podia, 2-Dse enrolou no edredom branco para acalmar seu coração partido, para deixar sair suas frustrações e sufocar a onda quente de desejo que percorria seu corpo. Por Deus, mesmo sabendo das circunstâncias, como ainda podia sentir vontade? Finalmente havia entendido o motivo de seu desconforto todas as vezes em que Murdoc se aproximava ou o observava com muito interesse. Aquilo já estava lá, ele não sabia desde quando, mas estava. Ele só não havia percebido antes.
Ei! Aproveite e me siga no Instagram: @lets_awriter <3
![](https://img.wattpad.com/cover/280430956-288-k269284.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Gorillaz: Make Me Feel Good
FanfictionDepois de Paula Cracker, o coração do doce e gentil 2-D se fechou para tudo e qualquer pessoa que tentasse transpor a armadura que ele criou para si próprio em autodefesa. Ele só não imaginava que não conseguiria ser capaz de impedir que o tiro de u...