- O quê? O que você disse? – 2-D exclamou afetado, apertando-se contra a parede.
Murdoc limitou-se a olhá-lo na escuridão, sua língua passeando pelos dentes, os lábios torcendo-se em uma expressão sarcástica e satisfeita. Por um breve instante, nem mesmo ele soube como ou o quê responder para o azulado.
- Cara, para já com essa porra e me larga! – o vocalista voltou a se mexer ferozmente, tentando livrar-se do líder, mas a cada movimento feito, seu sexo apertava-se ainda mais contra o de Murdoc, lhe causando uma estranha e sofrida agonia.
Embora sentisse o mesmo tipo de sensação que seu colega, Murdoc comtemplava o rosto cada vez mais contraído e vermelho de 2-D, que também o observava com afinco, mesmo sem poder enxergá-lo direito. A escuridão que os cercava parecia querer esmaga-los um contra o outro e, por mais que o azulado tentasse se livrar, tornava-se ainda mais preso em seu líder.
- Escute, Pot... – Murdoc sussurrou entre dentes. – Você está me devendo essa. Eu te livrei dessa, de novo. Por que eu sempre acabo te salvando, huh? – a voz do baixista tornava-se cada vez mais dura e perigosa à medida que as palavras lhe saíam. – E de novo, e de novo e de novo?!
As mãos frias e magras de Murdoc envolveram os braços de 2-D novamente, sem que este pudesse evitar. O azulado podia sentir os olhos do outro o perfurando, bem como sua indignação crescente.
- Eu não pedi por isso! – retrucou sem pensar muito.
- Ah! – Murdoc ironizou. – Então quem gritava igual uma menininha? Quem estava chamando por mim, Pot? QUEM? – as unhas longas e amareladas cravando nos braços do vocalista.
2-D observava seu líder na escuridão, seus olhos brilhavam de malícia. Afinal, Murdoc tinha razão, o tempo todo o azulado pensava em conseguir sua ajuda, mas isto porque ele era o único que poderia se localizar naquele labirinto fúnebre da Kong Studios. Murdoc, que sempre foi a grande causa de suas desgraças, ironicamente, também era sempre suas últimas esperanças.
- Das outras vezes! – 2-D conseguiu dizer finalmente. – Eu não pedi para fazer nada por mim antes, nada que não fosse sua obrigação! Você é quem me deve, Niccals! Você! Só você! Você que tirou tudo de mim!
Agora o vocalista remexia-se ainda mais, já sem se preocupar que o corpo do outro permanecia colado junto do seu. Naquele momento, tudo o que 2-D conseguia pensar era em todas as vezes que, de algum modo, Murdoc havia lhe roubado suas melhores chances. Movia seus braços e pernas com ferocidade, buscando um meio de soltar-se das garras de seu líder.
- Você já esqueceu? Já esqueceu, não é, seu demônio? Você acabou com a minha vida naquele acidente, depois me enfiou nessa droga de banda para que VOCÊ ganhasse com isso. E para quê? Só para que pudesse roubar minha namorada também! Você não suporta me ver ter algo e destrói! Você deixou Noodle partir, você... Você deixou ela ir!
Antes que pudesse perceber, 2-D aliviava-se em dizer tudo o que, há anos, estava preso em sua garganta. Enquanto despejava tudo em um Murdoc ligeiramente surpreso, lágrimas quentes desciam por seu rosto, deixando para trás rastros em sua pele pálida e ainda roxa devido ao nariz recém-quebrado.
Não muito longe, o som de passos e o tilintar de metais retornava depressa, vindo em direção aos músicos. Ao perceber sua proximidade, Murdoc apressou-se em conter o azulado, que ainda lutava para se soltar, prendendo novamente seus lábios com uma das mãos livres.
- Tá legal, Pots! Você pode choramingar o quanto quiser, mas se não parar de fazer isso agora, nós dois morremos! E você... – murmurou Murdoc, aproximando seu rosto perigosamente de 2-D. – Você vem comigo para o inferno.
Ainda observando o líder na escuridão, 2-D apurou os ouvidos a fim de escutar o penetra, tendo assim uma breve noção de quanto tempo teria para escapar. De fato, os ruídos aproximavam-se cada vez mais depressa, não tardaria para que o outro os encontrasse ali. Antes que o azulado se desse conta de qualquer coisa, Murdoc puxou-o em sua direção pela manga da camisa listrada, empurrando-o para frente.
- Vai para o estacionamento, Pot. Tem um carro lá com estrelas brancas nas laterais. Vai e me espera lá, mas vai depressa! – o baixista guinchou enquanto empurrava 2-D em direção da escadaria que dava acesso ao subterrâneo.
- O quê? Mas e você? – o vocalista tropeçava em seus próprios pés enquanto tateava o breu, procurando por Murdoc.
- Não interessa, só vai! Vou atrasar esse desgraçado. Vai!
Assim que 2-D sentiu sob suas mãos o frio metal do corrimão, uma nova rajada de tiros rompeu-se da escuridão. Protegendo sua cabeça com os braços, o azulado pôs-se a descer as escadas o mais rápido que pôde enquanto ouvia nos andares acima o inconfundível som de luta corporal. O que quer que Murdoc estivesse fazendo, provavelmente salvaria a vida de 2-D, novamente.
- Mas que merda...
Ainda com lágrimas restantes sobre as bochechas, 2-D desceu os degraus aos pulos, saltando dois ou três de cada vez. Chegou ao estacionamento parcialmente alagado completamente esbaforido e sem rumo, olhando para os lados a procura do carro que Murdoc mencionara. O forte odor de podridão e esgoto enchia-lhe os pulmões, mas sabia que deveria seguir o que o líder havia dito.
A água escura e fria quase batia em seus joelhos como lâminas cortantes, forçando-o a retroceder alguns passos. O teto pingava insistentemente enquanto filetes corriam pelos pilares que sustentavam toda a estrutura. A chuva e o vento continuavam a açoitar os grandes portões de ferro enferrujados mais a diante. Próximo à porta, quase que intocado, estava o carro indicado.
O Camaro SS 1969 negro estava parado diante dos olhos incrédulos de 2-D. Quando foi que aquele duende arrumou um carro? A lataria, já parcialmente perfurada, exibia duas grandes estrelas brancas nas laterais e um nome gravado em metal reluzia a frente do para-choque.
- Stylo?...
2-D esquadrinhou todo o veículo com os olhos, tentando imaginar em que circunstâncias Murdoc o havia conseguido. Por alguns segundos, esqueceu-se do combate acima de sua cabeça, deslizando os dedos gentilmente entre os furos que percorriam todos os vidros. Foi arrancado de seu devaneio com o tropel vindo das escadas, instintivamente correu para se proteger atrás do carro.
- Vamos rato, pare de se esconder! Hora de dar no pé... – Murdoc vinha em sua direção rapidamente, ignorando toda a água, com um sorriso tenebroso em lábios. Transpassado em seu ombro estava uma das armas empunhadas pelo intruso. Com desgosto, 2-D percebeu que Murdoc não estava sozinho: a cyborg o acompanhava de perto, com dois revólveres em mãos.
- O que... O que você fez? – 2-D disse enquanto saía de trás do carro, a voz tremulando.
- O suficiente para fugir. Entra no carro.
Ao se aproximar, Murdoc abriu a porta do Stylo com violência, e uma pequena onda de água suja escoou de dentro dele. Sem se importar, o esverdeado entrou, batendo a porta logo em seguida. A cyborg imitou seu mestre, alojando-se nos bancos de trás, sem dizer uma única palavra.
- Mas, mas... Para onde você vai? – 2-D, ainda do lado de fora, agarrou-se a janela do veículo já em movimento.
- Você vem ou não vem, rato? – Murdoc berrou, irritado. Os portões a sua frente escancarados, revelando a chuva torrencial que aturdia o penhasco da Kong.
- Mas e o Russ? – o azulado choramingou, entrando rapidamente no carro, como se daquilo dependesse sua vida.
- Idiota! O Hobbs sabe se virar. – Murdoc resmungou ironicamente, sua língua passeando pelos dentes.
Mal dizendo taispalavras, Murdoc acelerou, fazendo o motor do Stylo rugir e os pneus cantaremna estrada terrosa e escorregadia a frente, deixando para trás uma Kongdesolada e abandonada. Naquele momento, 2-D não imaginava tal situação, mas nãoretornaria para aquele lugar por um bom tempo.
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Gorillaz: Make Me Feel Good
FanficDepois de Paula Cracker, o coração do doce e gentil 2-D se fechou para tudo e qualquer pessoa que tentasse transpor a armadura que ele criou para si próprio em autodefesa. Ele só não imaginava que não conseguiria ser capaz de impedir que o tiro de u...