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Primeiro, sinto a umidade escorrendo pela cavidade da minha coluna, encharcando os lençóis da cama. Estar acordando, no limite entre um sonho e a realidade, é uma sensação estranha. Tenho a impressão de que meu corpo está flutuando no ar, que não há nada acima ou abaixo dele, é como se eu sequer estivesse em um lugar sólido. Meu corpo parece um mero sopro de uma brisa quente e acolhedora.

A experiência sensitiva de flutuação termina rapidamente, meus sentidos voltam abruptamente e sou arrastada para fora do sono, como se alguém tivesse agarrado meu pulso me fazendo emergir da inanição.

Minha respiração exala dos pulmões como um sopro ligeiro. Sento na cama imediatamente, com as mãos apoiadas nas pontas dos joelhos e os dedos sustentando minha testa molhada de suor. Inspiro e expiro várias e várias vezes. Em poucos segundos sinto informações se esvaírem da minha mente, sensações que não são minhas, vozes distintas e rostos que não conheço somem gradativamente da minha memória por mais que me esforce para não esquecê-los, sabendo que de alguma forma são importantes. No final, só consigo me apegar há poucos flashes, fragmentos desconexos do sonho: o rosto jovem de um garoto; mãos grandes ajeitando papéis e uma única gravata no pescoço de um rosto que não me recordo.

Forço minha mente por mais detalhes, mas tudo se mostra uma completa bagunça. As informações de antes já não estão mais disponíveis e meu cérebro simplesmente não consegue reconecta-las, as peças do quebra cabeça evaporaram. É impossível remontar toda a cena. É angustiante saber que faltam peças e não conseguir encontrá-las de jeito nenhum.

Estico minha perna esquerda na cama e meu pé encontra algo peludo e quente. Meu dedão encosta ainda mais na tal coisa e ela emite um som, um grunhido de reclamação.

Ergo a cabeça das mãos. Sasha, a raposa, está parada na minha frente, encostada no meu pé, encarando-o visivelmente com raiva. Puxo-o de volta antes que ela resolva me dar uma dentada. Cruzo as pernas.

- Como você veio parar aqui? - Indago.

Sasha me olha e pende a cabeça para o lado, confusa. Suas orelhas chacoalham e ela pisca duas vezes, me fitando.

- Gostaria que fosse mais expressiva - falo com se ela fosse me responder com palavras - você não pode aparecer sempre que quiser, sabia?

Ela continua me encarando e quando acho que fará algo que faça sentido, ela ergue uma das patas traseiras e coça sua orelha, completamente distraída e fazendo coisas que raposas fazem.

Levo uma das mãos até a testa.

- Dizia que você apareceria quando te chamasse, não te chamo e você continua aparecendo. - Minha mão escorrega pelo meu rosto enquanto encaro Sasha.

Ela não se importa com o que eu falo e começo a duvidar que sequer Sasha me entenda apesar de já ter dado claros sinais de compreensão quando apareceu nas outras vezes. Talvez ela só esteja me ignorando. Ou isso ou fiquei maluca e suas respostas anteriores foram frutos da minha imaginação. Considero ambas as hipóteses completamente válidas e coerentes.

Três batidas soam firmes na porta.

- Posso entrar? - a voz soa abafada do outro lado da porta.

Agarro Sasha, que estava lambendo sua pata da frente e não ficou nada contente em ser interrompida, e pulo da cama correndo até o banheiro. Abro a porta com força e jogo Sasha para dentro do banheiro, ela tenta me morder durante o processo mas bato a porta, trancando-a lá dentro antes que ela avance nas minhas canelas.

- Entra - grito me jogando de volta na cama.

Ajeito as cobertas o melhor possível e afofo o travesseiro enquanto a maçaneta gira e empurram a porta cautelosamente.

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⏰ Última atualização: Jul 05, 2022 ⏰

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