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Na manhã seguinte somos acordados com uma música suave, adocicada e irritante que estoura as caixas de som de tão alto. Se essa é a ideia do clã de nos acordar de forma confortável, eles fracassaram miseravelmente.

Estou a ponto de arremessar um dos meus martelos que escondi da revista para destruir uma das malditas caixas de som quando o barulho para abruptamente.

— O que pensa estar fazendo, garota? — Norian entra de repente na sala.

Levo um susto e o martelo que estava segurando, cai no chão com um estampido seco.

— Nada. — Respondo com a maior cara de pau.

Volto rápido para a minha cama mas posso sentir o olhar de Norian me censurando quando ele diz:

— Fique claro que, as filmagens começaram hoje pela manhã, a partir de hoje à noite, qualquer comportamento ou atitude poderá ser selecionada e exibida ao público. Creio que não gostarão de passar vergonha diante de toda a Terra 2.

Arthur ri e olho de forma debochada para aquele menino mimado. Não ligo para o que os outros vão achar das minhas atitudes, só quero tirar aquele sorriso convencido do rosto dele.

— A equipe trará a refeição de vocês, comam. Daqui a meia hora iremos para o alojamento oficial e poderão conhecer os outros sortudos. — Norian fala e em seguida sai do cômodo.

Alguns segundos depois outros membros do clã entram. Eles usam macacões vermelhos e carregam bandejas douradas. Uma delas é posta a minha frente. Eles saem tão rápido quanto entraram. Não dizem uma palavra.

Arthur abre a tampa de sua bandeja e devora sua refeição. Hesito por alguns minutos e, para o meu azar, ele percebe.

— O que foi Raposa? Nunca viu ouro antes? — Ele pergunta de forma irônica.

Semicerro os olhos e agarro minha bandeja. Assim que toco nela sei que não é ouro. A bandeja é feita de alumínio, apenas sua cor é dourada. Sei disso graças as tantas tardes que ia ao Bodega, uma loja onde você pode encontrar tudo o que imaginar e trocar objetos. Lá era minha mina de ouro, sempre tinha o que precisava para alguma nova engenhoca. Nesse tempo aprendi muito sobre como identificar produtos falsos com o Senhor Ademir, ele nunca aceitava ser passado para trás.

Certa vez levei uma adaga enferrujada que encontrei entre as moradias da Vila. As pessoas sempre jogam esse tipo de coisa fora por não conseguirem arruma-las já que é proibido levar qualquer objeto para as forjas MONS IGNEUS. Perguntei a Ademir se era uma adaga de cobre, ele mal tocou na lamina e disse:

— Não, não, é de ferro. Sinta o peso. — Ele me entregou de volta. — Além disso, a textura seria diferente, mesmo com toda a ferrugem, a diferença entre os dois materiais é muito nítida.

Fiquei simplesmente maravilhada. Daquele dia em diante ia todas as tardes que podia para a Bodega e o Senhor Ademir me ensinava o que podia e em troca, criava algumas invenções para ele vende-las. Quando ele não estava afim de me dar aulas, eu o ajudava a arrumar as pilhas de objetos acumulados pela loja.

Pensar no Senhor Ademir me deixa chateada. Há pouquíssimos dias atrás estava enfiada na Bodega, e agora estou bem longe de lá.

Devoro minha comida rapidamente. Poucos minutos depois de acabar, Norian entra no cômodo novamente.

— Vamos.

Eu e os outros três participantes começamos a pegar nossas bagagens, mas Norian interrompe.

— Deixem-nas aí. O serviço se encarregará de leva-las. — Ao dizer isso, os Vermelhos, como apelidei as pessoas de macacão, entram e começam a arrumar nossas coisas.

AscendenteOnde histórias criam vida. Descubra agora