Terminada a prova, a voz distorcida me parabenizou pelos autofalantes, enunciando meu nome, número e clã. Então a porta pela qual entrei se abriu novamente e um mascarado me esperava do outro lado. Ele me guiou de volta aos alojamentos e, ao que tudo indica, Norian não está por aqui. Não o encontro em nenhum momento durante o trajeto. Imagino que ainda reste um dos competidores do meu clã fazendo a prova.
Isso não significa que esteja sozinha.
O mascarado não desce do elevador de vidro quando a porta desliza para o lado e praticamente me expulsa para fora dele.
A área comum está cheia com os outros competidores que acabaram a prova mais cedo e eles se amontoam embaixo de uma construção a qual não havia reparado antes. É uma construção um tanto curiosa, sustentada por pilares de metal rosado e ornamentado com hastes menores e poligonais, repletas de ângulos, aumentando o diâmetro da coluna de sustentação perto do chão, tornando o metal das hastes semelhantes a raízes de árvores expostas. Ao todo são seis pilastras que sustentam a cobertura da área. Não há paredes, mas a cobertura é alta e feita de vidro itrida, o tipo de vidro mais resistente e caro de se produzir.
Vidro itrida é espelhado, impossível de enxergar do outro lado deles se estiver de frente para a face refletora, além disso, ele absorve o calor do sol. Os ambientes com esse material são extremamente sustentáveis por que o calor absorvido por eles é convertido em energia elétrica e, como o calor não assola o ambiente, ele permanece fresco sem precisar de outros aparelhos ou grossas camadas de concreto. Apesar de reter o calor, a luminosidade atravessa o vidro, fornecendo claridade. É um material muito vantajoso em certos aspectos, entretanto é extremamente caro e ainda que seja sustentável, sua fabricação é absurdamente nociva para o meio ambiente. É um impasse.
Toda a cobertura é feita com este material junto com as hastes pequenas na parte superior que seguram os vidros no lugar. A cobertura de vidro lembra, mesmo que longínqua, uma flor. Ao menos imagino que esse seja o conceito imaginado pelo arquiteto.
Me aproximo do grupo embaixo da cobertura. Um projetor circular está posicionado no centro, e a sua volta, uma vasilha circular de cimento e cheia de água transbordando pelas beiradas, escorrendo infinitamente. A água não molha o chão. Deduzo que seja algum esquema de reciclagem da água.
O holograma azulado é refletido na superfície da água completamente lisa, como um espelho polido. A atmosfera do ambiente é silenciosa. Todos escutam e observam atentamente a transmissão dos últimos detalhes da primeira prova.
Jean Jack narra animadamente as últimas notícias. Parece que o último competidor a deixar a prova foi um garoto chamado Ravi, do clã Culta Secat, patrono da terra. Ele acabou há alguns minutos e em breve deve chegar aos alojamentos também.
Anunciando isso, Jean Jack passa a mostrar os melhores momentos do dia, transmitindo cenas dos competidores correndo pelo labirinto, apanhando as chaves e as eventuais brigas. Não demora muito para que a luta entre Simba e Luca se torne o assunto. A gravação é repleta de cortes e ângulos de outras câmeras são evitados, tentam organizar os clipes de forma coesa, mas o trabalho é tão mal feito que não é difícil encontrar cortes secos e descontinuidades nas cenas. Em momento algum mostram Luca dirigindo todo seu poder a mim enquanto estava ajoelhada no chão.
Na verdade cena alguma em que eu apareça é mostrada. Nem quando joguei as chaves para aqueles competidores, dando a chance para que o garoto que era espancado fugir ou quando Arthur me pressionou contra a parede daquele corredor branco. Sequer há clipes meus correndo ou fazendo qualquer coisa, não mencionam meu nome, agem como se não tivesse participado.
A narrativa é toda distorcida.
Jean Jack narra os acontecimentos com requinte e enfeitando cada palavra, tratando os competidores como heróis e até mesmo endeusando alguns deles. Ele se empenha em criar narrativas épicas e poéticas, transbordando sentimentalismo e transmitindo emoção em cada história que conta. Afinal, Jean Jack está narrando a primeira prova do futuro rei ou rainha.
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Ascendente
FantasyEm Hiato temporário. Projeto em andamento: A Deusa da Água, nova versão física! Siga: @fehaescritora 🚫Plágio é crime🚫 Todos os direitos reservados!! Mina Martins é uma garota de 15 anos que vive no planeta Kepler-452b conhecido como Terra 2, lar d...