Depois de me guiar por corredores e mais corredores estreitos, Norian arrasta uma porta de ferro com um grande número quatro pintado de vermelho.
Entramos na sala.
— Você ficará aqui até que abram aquela porta. — Norian aponta para a outra extremidade da sala onde está uma porta exatamente igual a anterior, se não fosse por sua espessura bem mais reforçada.
Ando na direção do projetor circular no centro do chão da sala — um círculo branco projetando a luz holográfica com a contagem regressiva para a transmissão. Três minutos.
— Não pise nisso. — Norian adverte. — Sente em um dos bancos, espere a transmissão e siga as ordens.
Norian caminha para a saída, mas se detêm, deixando uma fresta da porta aberta. Seu rosto passa pelo vão da abertura.
— Sorria, o show já vai começar. — Ele faz uma pequena menção com a cabeça, indicando o teto e cela a porta.
Ouço um bip quando a porta é trancada. Agarro o puxador da porta e a frieza do ferro congela meus dedos, tento arrasta-la, mas a estrutura range de forma insignificante, zombando da falta de força dos meus braços magrelos e frágeis. Dois minutos.
Encosto na porta de ferro e meu corpo escorrega devagar até o chão de cimento queimado. O ferro gela minhas costas, mas não me importo. Abraço os joelhos e continuo observando os segundos do holograma se arrastarem. Será que os outros também estão em salas como essa?
Meu coração palpita depressa e qualquer determinação ou coragem que tinha surgido durante a viagem no subaéreo se esvai e é substituída pelo medo, pelo pavor do inesperado. Uma enxurrada de memórias bombardeiam minha mente: o dia do sorteio, James, Cassie, meus pais, Sasha, Jean Jack e seus comentários idiotas, pessoas que nunca vi na vida me xingando...
Quando a contagem regressiva marca um minuto e meio decido que é tortura continuar observando os segundos. Encosto a cabeça na porta, desviando o olhar do holograma, fitando o teto.
Semicerro os olhos para tentar enxergar melhor quando me deparo com um pontinho preto. Uma câmera está com a sua lente focada em mim, esperando, desejando que eu faça algo. Não fomos informados sobre câmeras durante a espera da primeira prova. Talvez estejam transmitindo isso, talvez estejam gostando de ver meu medo, meu corpo submerso em desespero, tremendo.
Endureço minhas feições a pensar nisso. Meu maxilar se contraí, com raiva. Aquelas pessoas estão se divertindo com isso, rindo de mim, debochando das minhas fraquezas, medos e inseguranças. Me sinto exposta. Vulnerável na frente de todas as pessoas que me odeiam.
Esses entusiastas ridículos não nos dão privacidade nem nos nossos momentos mais íntimos.
Sem pensar duas vezes, por puro impulso de raiva, faço um gesto obsceno com as mãos para a câmera e sorrio com gosto. Não ligo se a transmitirão isso incansavelmente ou se isso pode prejudicar alguém, afinal, repórteres já me perseguem mesmo, mas agora, mostrarei a eles o que eu quiser e quando quiser.
Quase consigo escutar os gritos de surpresa das pessoas quando Jean Jack aparece no holograma.
— Bem-vindos senhoras e senhores ao começo do Torneio de Honra! — O holograma transmite pessoas gritando em puro êxtase nas arquibancadas. Cada clã em sua área reservada, sem se misturarem.
Quando a gritaria diminui, Jean Jack continua:
— Para a realização da primeira prova, contamos com a presença ilustre de todos os chefes dos clãs — a tela se divide em cinco câmeras, uma para cada chefe. Andrew aparece sorrindo e acenando da plataforma de mármore — para celebrar a união do povo, juntos por um futuro.
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