Refeitório

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Lauren POV

 Acordei por volta das 3h da madrugada, Camila já não estava na cama, mas daqui posso ver ela na varanda do quarto fumando, me levantei e passei a vestir minhas roupas, ela não me olhou, mas tenho certeza que já percebeu a minha movimentação por aqui. Fui até a porta, com a intenção de retornar para o meu bloco, mas infelizmente, com minha mão ainda na maçaneta, a voz dela ecoou pelo quarto.

— Venha aqui. 

 A contragosto me direcionei pra lá, parei um pouco mais atrás dela, olhei brevemente a vista dali, é perfeita. 

— Estou aqui. - Falei, já que ela ainda não se virou.

— Nós temos um problema. - Ela disse e então se virou pra mim.

— Qual? 

 Ela deu mais um trago no cigarro, e soltou a fumaça lentamente no meu rosto, permaneci séria e imóvel.

— Você. - Respondeu.

 Senti uma vibração correr pelo meu corpo, como assim eu sou um problema? Ela descobriu?

— Desenvolva melhor pra eu entender. - Falei e ela riu, mas não muito.

— Você está continuamente me desobedecendo, você sabe que é proibida de entrar aqui sem minha permissão. Gesticulou com a mão livre. — Tirar você de campo parece não tá adiantando, porque você volta do mesmo jeito. - Levou o cigarro à boca.

— Você mandou aquele caralho me seguir, queria o que? Agradecimento? - Perguntei já sentindo a irritação tomar conta. 

— Bem, eu esperava que aquele caralho. - Deu ênfase na forma que o adjetivei anteriormente. — Não fosse visto, mas já que não conseguiu isso, de você eu espero submissão, que você apenas aceite e se cale, porq...

— Você acha qu… - Interrompi sua fala, mas ela me olhou tão séria, que me calei antes de concluir.

— Porque eu posso mandar seguir qualquer um daqui, quando eu quiser, a hora que eu quiser, porque eu sou a chefe, eu, não você. - Apontou pra mim.

— Era só isso? - Perguntei tentando não transparecer meu ódio. — Posso me retirar?

— Falta a ameaça. - Ela disse e soltou o cigarro no cinzeiro, ao se aproximar de mim o suficiente, ela segurou meu queixo com firmeza, mantendo seu olhar no meu. — Na próxima eu dispenso seus serviços. - Me deu um selinho e se afastou. — E você sabe nossa forma de dispensa aqui, certo? - Perguntou, mas não esperou pela resposta, apenas se virou e entrou no quarto.

 Ela ameaçou me matar? Filha da puta, desgraçada, dona de todo meu ódio. A passos largos eu saí do quarto, minha vontade foi bater a porta com toda minha força, pra expressar minha raiva, mas fechei delicadamente e desci. 

 Entrando no dormitório notei o Thomas já dormindo, peguei minha toalha e segui para o banheiro, eu estou tão irritada, que se eu cair dura aqui no chão, não seria surpresa, enfim a agente do governo que morreu intoxicada de raiva de uma criminosa, traficante, filha da puta. Sem pensar muito nas consequências, dei um soco forte na parede, me arrependi no mesmo instante que uma dor absurda se instalou ali. 

— Porra. - Resmunguei baixo.

 Com o orgulho ferido, e a mão machucada, eu entrei debaixo da água fria, torcendo pra ela levar toda minha raiva junto. Não demorei muito ali, logo retornei para o quarto, coloquei uma roupa pra dormir, e olhei para os lados, o dormitório continua vazio, tem apenas eu e o Thomas aqui, alternei o olhar entre minha cama e minha mão machucada, quero deitar, mas minha beliche é a de cima, com a dor que estou, provavelmente vou cair no chão antes mesmo de subir. Fui até a cama do Thomas e me enfiei ao seu lado, ele me olhou com a cara toda amassada de tanto dormir, e seus cabelos compridos cobrindo parcialmente seu rosto.

Do Outro Lado da HistóriaOnde histórias criam vida. Descubra agora