01.

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Dante estava se mudando para um novo apartamento pela quarta vez no ano.

Simplesmente porque nenhum dos apartamentos pelo qual passou parecia fazer sentido. O primeiro, por exemplo, foi quando começou a morar sozinho e parecia mágico no início. Quis colocar não apenas no seu quarto, mas na casa inteira a sua identidade. Tudo tinha uma temática azul e branco. Nem se preocupou em ter um sofá grande e confortável, preferiu ter uma poltrona elegante, imponente, mesmo que isso gastasse todo o seu dinheiro, aquele que economizava pra comprar os último funkos que faltavam da sua coleção de Harry Potter.

Porém, no máximo dois meses depois, um encanamento vazou. A pia da cozinha estourou e foi água para tudo que é canto. Pensou que a situação se resolveria quando ele mesmo procurou na internet um jeito para consertar. Não deu certo. E depois foi a pia do banheiro, logo o chuveiro.

Dante se estressou. Não tinha paciência pra isso e muito menos gastar uma nota com um encanador pra depois o mesmo problema voltar em um curto espaço de tempo.

O segundo não foi muito diferente. Não que alguma coisa estivesse quebrada, mas simplesmente não se sentia confortável lá. Talvez fosse pela vizinha, a senhora da janela a frente da sua, que ficava o encarando, ou o cachorro que não parava de latir, fazendo barulho o tempo inteiro, não deixando Dante relaxar.

Silêncio era uma prioridade. Era o mais importante. Era o que o loiro mais precisava. Mas esse foi o ponto ausente em todas as casas.

O que tinha de tão difícil em deixa-lo ter um momento de paz, ouvindo uma música, bebendo um belo vinho? Parecia algo extremamente sacrificante na sua vida, como se o mundo fosse acabar se ele apenas se sentasse em sua poltrona por mais de 2 horas.

Era dia 24 de Setembro, quatro e meia da tarde, quando Dante carregava a última caixa para dentro de seu novo apartamento. Passou algumas vezes por entre o corredor estreito do prédio de aparência antiga, mas ainda sim extremamente bem cuidado. Algumas coisas ali, como os quadros no salão, o tapete, a paleta de cores marrom e até mesmo a arquitetura o fazia ter dúvidas se estava mesmo em 2021 ou na década de 60.

Seu celular começou a tocar, na parte de dentro do seu sobretudo, e um sorrisinho leve pintou seus lábios finos. Atendeu.

- Buon pomeriggio, mio caro! Come stai? Sei riuscito a sopravvivere? - Ouviu o sotaque forte italiano com a voz estridente de Carina Leone do outro lado da linha. Era incrível como conseguia enxergar exatamente como ela estava naquele momento. Um sorriso grande na boca e provavelmente gesticulando com empolgação sua mão esquerda.

- Carina, a única coisa que posso te responder é "Buon 'giorrno" - Sabia que sua pronúncia estava errada. Apenas não ligou. - Não entendi mais nada do que você falou.

- Por favor, Dante! Não é tão difícil, vai. Eu já te ensinei tanto e você continua falando o "r" errado. - A garota repetiu o "boa tarde", mas para outra pessoa que não era o loiro. - Mas me diz, como que foi a mudança? Como é estar em um novo país?

Dante abriu as cortinas da porta que dava para a varanda, tossindo com a poeira que voou pelo ar.

- Tá sendo maravilhoso. - Abriu a porta da varanda. - Mas talvez, só talvez, eu deixei minha mala cair no chão no meio do aeroporto sem querer, caiu tudo e tive que catar tudo depois.

Silêncio.

- Me diz que isso é brincadeira.

- Fica a seu critério.

Ela sabia que ele estava falando a verdade, porque o conhecia o bastante para saber que era completamente capaz de cometer uma gafe dessas. Carina Leone era sua melhor amiga afinal. Faziam 7 anos desde que se conheceram na faculdade no Brasil. Ela fazia intercâmbio, cursando moda, enquanto Dante fazia física. A mulher teve que voltar para seu país de origem pouco tempo depois, mas continuaram amigos, ainda mais, se duvidar. E agora que estavam perto um do outro, o loiro se alegrava um pouco mais.

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