14.

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— Sem chance. Não vou fazer isso.

Dante fechou a cara, cruzando os braços e quase batendo os pés no chão, como uma criança mimada que se recusava a ir falar com os parentes. E isso se dava apenas por um motivo: ele não iria passar por cima de seus princípios, de sua índole, manchar sua reputação, fazer um papelão, pagar um mico, cafonisse, estupidez ou qualquer outra frase pronta que representasse o seu descontentamento em fazer algo que não estava nas regras.

Os dias estavam passando mais rápidos. Eles eram curtos e a temperatura era amena para um Outono na Itália no fim de Novembro. Era engraçado ver como o clima mudava na fronteira entre uma estação e outra. Até agora, só assistiu as árvores na tonalidade avermelhada por toda parte, as folhas laranjas caindo pelo chão, sujando a calçada e por várias vezes via pessoas com suas vassouras limpando-as e jogando fora. Sempre se pegava pensando em como esse ciclo era curioso e satisfatoriamente interessante.

Por mais que não tivesse visto a Primavera, sabia que ela era bonita, cheirosa e nova. Nova pois era nela que as flores nasciam, no Verão era quando as folhas viviam a sua fase madura e forte. Já no Outono, sua estação favorita, era quando elas se enfraqueciam e caíam, cansadas e dando espaço para uma nova geração. Boa parte das pessoas considerava que o Inverno era triste e trazia uma carga depressiva, um frio que congelava a alma e que corroía. Mas Dante o via como um descanso. Um descanso dos troncos, das raízes, dos galhos para as próximas folhas.

Dante na verdade gostava da melancolia do Outono. As cores marrons alaranjas misturadas com um vermelho pesado o fazia se sentir nostálgico. O vento cortante te cercando, o som passando por entre as formas geométricas em construções e principalmente o silêncio. A sensação de estar frio mas não tanto, a de estar isolado mas nem sempre, a beleza das cores mas a tristeza da morte. Dante se sentia grato por ser capaz de exergar o Outono da Itália.

E mais ainda quando estava na companhia de alguém que cada vez mais embaralhava com seus sentimentos, que os tirava da reta e que o fazia se sentir tão vivo. Dante não se arrependia de ter passado a noite com ele, de estar ficando com o seu vizinho todos os dias quando voltava do trabalho, de sair a noite e ficar vagando pelas ruas iluminadas pelos postes rodeados de bichinhos de luz. A exata relação que os dois estavam tendo, Dante não sabia. Por que se importar quando estava apenas curtindo o momento uma única vez na sua vida?

Mas estar gostando de alguém valia arriscar tudo, tudo mesmo?

Arthur, que andava ao seu lado em certo dia da semana, decidiu que queria sair do tédio e ousar, buscando adrenalina, isso foi o que o próprio disse, ultrapassando os passos lentos de Dante e começando a andar de costas. O loiro sorriu, não esperando que ele propusesse que pulassem o muro de uma casa para curtir a piscina que tinha atrás dela.

— Ah, vai Dante, vai ser rapidinho. — Ele fez um muxoxo. — A gente vai lá, dá um tibum e depois sai, ninguém nem vai ver a gente.

— Podemos ser presos por isso. Invasão de propriedade.

— Para com isso. Não vamos nada, é só uma piscininha. Vai dizer que não gosta de uma piscininha? — Ele deu um sorriso sugestivo, e Dante soltou o ar pelo nariz, virando o rosto pro outro lado.

— Não gosto. — Agora virou o rosto para Arthur, fazendo uma expressão propositalmente debochada. Arthur arqueou a sobrancelha.

— Tudo bem então. — O moreno se afastou, largando a mão na calça, fazendo um som conclusivo, e andou em direção ao muro. — Eu vou sozinho. — Ele olhou para o muro bem maior que ele, mas na verdade não era tão alto assim, mas na perspectiva de Arthur, era.

— Peraí... Calma aí, Arthur. — Dante foi até ele, ainda relutante, pensando que se aproximaria apenas pra ajuda-lo a pular, mas ele o fez sozinho. — Não faz isso, vai. Pra que adrenalina? Não precisa.

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