15.

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Correu. Correu o mais rápido que podia. Correu o mais rápido que suas pernas podiam alcançar, e mesmo que elas se cansassem, ele continuou, continuou, continuou.

Tão rápido quanto as próprias gotas de chuva que caíam desenfreadas do céu, uma atrás da outra, uma atropelando a outra e se juntando, tornando as gotas maiores e fazendo a chuva ainda mais densa. Tão rápido quanto o trovejar das nuvens, dos raios que caíam na terra numa velocidade mais rápida do que os olhos humanos podiam acompanhar.

Dante queria ser maior que tudo isso, não se importava em se molhar, se seu cabelo ficasse ressecado ou se seus sapatos sempre limpos ficassem imundos de lama. Nada disso importava, porque só queria encontrar Arthur.

Suas pernas o impediam, sua garganta doía pelo choro compulsivo e sua visão já estava comprometida o suficiente para enxergar o que estava entre as vielas de uma pequena cidade da Itália.

Dante se ajoelhou no meio de uma noite tempestuosa e tentou gritar, apavorado com a ideia de ser abandonado. Ser abandonado mais uma vez.

Há seis dias atrás

A cabeça de Dante latejava.

A sua primeira suspeita daquela dor estar o atazanando era que, bem no início da manhã, estava sentado na sua casual mesa da sala de aula com alunos falantes e animados demais para uma Segunda-feira. O que era incomum, já que eles normalmente eram concentrados - ou só fingiam porque estavam com sono demais para reagir. Entenderia se fosse pelo início da semana de provas, as últimas provas do ano, mas nenhum deles falava sobre isso. Em semana de provas, tudo o que um professor vê são alunos com folhas na mão com cara de preocupação ou por vezes chorando, mas não alegres.

A segunda possível razão também era o porquê de estar usando óculos escuros no meio do trabalho. Aquela luz no topo da sala era insuportável. Por que não dar aulas no escuro?

Uma enxaqueca dada pela noite de ontem, da festa que não conseguia enxergar com clareza. Dante por mais que forçasse, a única coisa que lembrava era de Arthur bajulando o segurança na frente da mansão enquanto Dante ficava atrás dele, fingindo ser um riquinho boa pinta. O mais curioso era que o loiro não havia bebido, e mesmo assim tinha a sensação intensa de ressaca, o corpo moído e olheiras pesadas.

Foi possível ouvir um barulho do lado de fora da sala, um bate-boca que de início achou ser normal, mas diante da movimentação da sala, que foi direto pra porta ver o que acontecia, não era uma simples multidão passando pelo corredor.

- Você é uma mal-educada, dissimulada, menina! Como teve coragem de fazer isso?

Na porta de uma sala a distância da 2-B, Elizabeth, com um jaleco molhado e a testa franzida, o rosto quase vermelho de tão irritada, confrontava Agatha na sua frente, que a ouvia com um semblante desdenhoso.

- Eu só dei um pouco de graça nessa sua aula chata. - A garota revirou os olhos e discretamente deu um sorriso debochado ao notar a água que escorria da sala atrás da professora.

- O que aconteceu? - Um dos alunos ao lado de Dante sussurrou para outro, que respondeu:

- A Agatha. Ela abriu todas as torneiras das pias do laboratório e pelo visto a Liz pegou ela... Sempre tive vontade de fazer isso.

Dante ouviu mas não disse nada, tendo a atenção tomada pela discussão que continuou.

- Ela só é chata porque não você não tem capacidade de entender o que eu digo. Olha, você deveria ser expulsa!

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