08.

2.9K 326 625
                                    

Dante considerava o fato de no seu prédio ter uma lavanderia comúnitária, pública para todos os moradores, no térreo, desconfortante.

Qual era a praticidade de sair do seu andar, passar pelo corredor com uma cesta de roupa na mão até a sala no andar de baixo? Torcer que ninguém estivesse lá, porque se fosse o caso teria que esperar outro horário para voltar, e assim pudesse lavar suas roupas? A ideia de ser organizado era boa. Tinha até mesmo um papel colado em cima das quatro máquinas de lavar, dizendo os horários ideais que cada vizinho poderia utilizar, que poderia lavar as roupas no máximo umas duas horas por dia e até duas vezes por semana. E se todas as máquinas já estivessem ocupadas, teria que dar meia volta e esperar.

Que trabalheira. Até tudo isso terminar, Dante já estava cansado. E além disso, existia um varal compartilhado na parte de trás do telhado do prédio. Dante achava terrivel ter que ver a roupa dos outros vizinhos pra chegar na sua, que tinha o mesmo cheiro da deles.

Porém, nunca tinha visto uma peça de Arthur por ali. Quer dizer, nunca viu uma das jaquetas de couro secando por ali ou a camisa preta e verde meio surrada que vira e mexe Dante o vê usando, passando pelo corredor. Não que Dante reparasse, ou que se importasse, ou que fosse no terraço pronto para ver se algum sinal de Arthur brotava por ali. Longe dele.

Ah, Dante queria um dia ter sua própria máquina de lavar.

Era ínicio da semana, novamente de volta as aulas. Acabou que toda essa correria de ir na lavenderia, ir até o terraço, buscar suas roupas, enche-las de perfume e tirar o cheiro daquele amaciante genérico, resultou em um atraso de 5 minutos na sua turma.

— Ei, pega aquilo ali no chão pra mim, vai logo. Você já tá mais perto do chão mesmo. — A turma 2-B já estava agitada, logo de manhã cedo. Um garoto que vestia o uniforme normal, mas com manchas pretas em torno da sua camisa, como se tivesse sido propositapmente sujada, falava com a garota de cabelo preto curtinho, com um sorriso cínico. Eles sentavam juntos na mesma mesa, um do lado do outro.

— O que foi que você disse? — Ela arqueou uma sobrancelha. — Pelo visto você tá ainda mais baixo, nem consegui te escutar, por que você não repete? — A garota segurou a cabeça dele e a empurrou contra a mesa.

— Qual é a porra do seu problema?! — O semblante superior de antes agora era irritado. — Eu deveria te colocar no seu lugar!

— Tenta só. — Ela retribuiu o olhar e deu aquele mesmo sorriso do início.

Foi nesse cenário que Dante apareceu na sala, observando confuso, sem entender direito o que tava acontecendo. Deveria dizer alguma coisa ou simplesmente aceitava o assunto dado por encerrado apartir do momento que todos os outros alunos se levantaram para cumprimenta-lo e assim se calaram? A garota se sentou na cadeira, quase que se jogando, e bufou, impaciente.

Dante descobriu na lista de chamada dos alunos qual era o seu nome: Agatha Volkomenn.

Mas havia um ponto em que ele ainda não entendia. Por que ela era tratada daquela forma pelas pessoas dali? Ela tinha feito algo de fato errado? E mesmo assim, por que tanta implicância com a menina que parecia estar sempre na dela?

A opinião que Dante tinha, desde muito tempo, desde que era adolescente, era que as pessoas sempre focavam em diminuir aquelas a quem julgavam ser fracas, porque seria mais fácil pisar no que já estava embaixo. Por mais que Agatha não estivesse nesse lugar, por mais que ninguém estivesse nessa altura, por mais que ninguém merecesse ser tratado assim. Era injusto.

Uma situação parecida já chegou a acontecer com ele quando era mais novo. E naquela época, fez o possível para evitar o pior de acontecer.

Mas, ainda assim, não entendia o porquê desse tratamento com Agatha. Agora sabia que a garota de quem Elizabeth tinha falado na sala dos professores era ela, mas o que aconteceu exatamente? Tinha derramado um frasco do laboratório no jaleco dela? Tinha conversado demais na aula?

Home - danthurOnde histórias criam vida. Descubra agora