17.

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Arthur Cervero era um cara simples. Realmente era bem simples, mas da sua própria maneira. Sempre foi assim.

Quando surgia algum problema e todos a sua volta lamentavam, angustiados sem saber o que fazer ou reclamando de que teriam que fazer um grande esforço para se resolverem, Arthur aparecia otimista dizer que consertariam juntos ou para não se preocuparem porque aquilo logo passaria.

Demonstrava sempre ter esperança pra tudo, sorrindo quando alguém aparecia com um semblante triste ou precisando de um ombro para chorar, se comprometendo para que o outro melhorasse. Mesmo que fosse o monstro mais terrível na sua frente, Arthur aparecia com esperança para fortalecer quem estivesse ao seu redor. Mas ele mesmo conseguia ter esperança consigo? A primeira palavra que vinha a mente era otimista, mas Arthur se autonomeava assim?

Há uma semana atrás, Arthur estava em uma festa luxuosa com uma roupa comprada em um brechó barato, mas ainda luxuosa.

Estava acompanhado de Dante, e era incontável o tamanho de sua vontade de ter aproveitado melhor aquela noite. Gostaria de ter segurado nas mãos do loiro, gostaria de ter segurado sua cintura e colado a seu corpo e começado a se mover no ritmo da música, dançar no meio daquele salão elegante de chão extremamente brilhante e no meio daquelas pessoas ricas e de nariz em pé. Não esperava ter a presença de Gal, não esperava que aquela mansão fosse sua e muito menos que ele fosse nota-lo no meio de tanta gente. E em consequência disso, foi quase que imediato o seu arrependimento de invadir a festa.

— G-gal? — Arthur encarou o rapaz, surpreso, de boca aberta.

— O que foi? Até parece que viu um fantasma. — Ele juntou as mãos na frente do corpo assim como fez com as pernas, em nenhum momento perdendo a postura. — Não esperava encontra-lo aqui. Ah, trouxe seu namorado? — Gal sorriu e soprou ar pelo nariz. — Prazer, eu sou o anfitrião. — Ele estendeu a mão para cumprimentar Dante, que olhava aquela situação sem entender, mas que já levava sua mão para apertar a do rapaz quando Arthur interviu, empurrando a mão de Gal.

— Quanta falta de educação. — O homem de cabelos pretos tocou o peito, falando em um tom debochado enquanto Arthur o encarava com seriedade. Gal saiu com sorriso de canto de boca.

— Quem era esse rapaz? — Dante perguntou o seguindo com o olhar e franzindo o cenho.

— Ninguém importante. — Arthur o puxou de volta a aproximação na qual estavam, mas o encontro não tinha saído de sua cabeça.

Na verdade Gal era sim alguém importante.  Aliás, foi.

Há alguns anos atrás, quando Arthur ainda sonhava em ser um guitarrista e treinava arduamente para isso, ele estudava em um curso especializado para iniciantes em música. E lá ele conheceu Gal, que por outro lado tinha o sonho de ser pianista.

Sempre teve o cabelo preto bem longo. Naquela época às vezes parecia olioso, como se não o lavasse por algumas semanas ou que acordava e desse mesmo jeito ia para a aula, mas mesmo assim Arthur o achava atraente. Gostava de ver sua dedicação no piano, gostava de ver como ele era apaixonado por aquele instrumento e como sempre fazia melodias tão bonitas.

Arthur acabou se apaixonando pelo rapaz, paixão essa que o fez se entregar completamente. No início, acreditava fielmente que seus sentimentos eram correspondidos, até porque os dois ficaram, trocavam carícias, beijos, almoçavam juntos, conversavam. Mas Gal só se preocupava com o próprio ego.

Eles ficavam sim, mas era apenas isso. Estava tudo bem, mas Arthur se feria ao ver que Gal flertava com outras pessoas e depois vinha falar para ele, mesmo sabendo de seus sentimentos. Parecia que se divertia ao ver seu brilho sumindo aos poucos. Era como se Gal só quisesse continuar sentindo que Arthur gostava dele, porque esse sentimento de ser admirado por alguém o satisfazia.

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