04.

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Olhou para o lado esquerdo, ninguém na cama. Ela estava desarrumada, mas ninguém ao seu lado além de um endredom amarrotado que lhe fazia companhia.

Se algo tivesse acontecido, a primeira coisa a se notar seria roupas jogadas para todo o lado, mas ainda sentia sua calça colada ao corpo, a blusa, o terno e até mesmo o colar.

Então por que não conseguia se lembrar como foi parar ali?!

Calma, precisava se acalmar. Precisava pensar direito. Precisava se concentrar, mas como se sua cabeça latejava, como batidas lentas e torturantes bem no meio da sua testa? Sem contar na parte dolorida do seu olho por causa do soco que levou ainda sem saber porquê.

Se estava na casa de Arthur, precisava vê-lo, e pra isso era necessário pegar seu óculos para enxergar pelo menos um palmo a sua frente.

Tateou o colchão em busca dele, perdido.

Cadê a droga do óculos?!

- Arthur, você não vai acreditar no que aconteceu.

Dante ouviu uma voz se aproximar, uma voz que não era familiar. Se apressou então para achar o óculos, o encontrando em cima da mesinha ao lado da cama. Forçando a visão, ainda conseguiu enxergar as horas em um despertador digital: Onze e cinquenta da manhã, e foi nessa hora que deixou o óculos cair no chão por causa da maldita pressa.

- Um bobão me entregou umas chaves lá no bar ontem a noite. Achei que você pudesse saber de quem era. Foi do nada.

- Talvez ele fez isso pra que você calasse a boca.

- Ha. Ha. Muito engraçadinho você, César.

E a porta foi aberta. As vozes que se aproximavam cada vez mais agora estavam ao pé da porta. Dante ergueu o seu tronco, já que estava de cabeça pra baixo procurando igual um idiota o bendito óculos, e sem sucesso só se ajeitou, puxando o lençol até a cintura como um reflexo.

- Você...? - Só enxergou uma silhueta alta mover o braço em confusão e uma outra mais baixa ao lado dele, com a postura meio curvada. - Arthur... O que esse cara tá fazendo na sua cama?

Pôde se ouvir uns passos rápidos vir de algum canto da casa.

- Joui! César! Vocês disseram que chegariam mais tarde, por que não me avisaram?

Arthur apareceu apenas com uma toalha branca na cintura, o corpo quase todo molhado do banho que aparentemente tinha acabado de sair. Dante infelizmente não pôde ter a visão detalhada do corpo em forma do Cervero, das gotas de água pingando do cabelo castanho jogado para trás até seu pescoço. Até o abdômen bem definido, a entrada marcada, as tatuagens a mostra, mas tudo o que Dante conseguia ver era um borrão.

- Onde está suas roupas Arthur?! E o que aquele rapaz tá fazendo ali?! - A mesma voz fina continuou a falar em um tom indignado, enquanto Dante aproveitou para voltar a procurar seus óculos, de cabeça pra baixo.

- Ele é meu vizinho! Ele tava bêbado ontem lá no bar e não conseguiu entrar em casa por causa das chaves, então eu o trouxe pra cá.

- Nem eu você me deixa deitar na sua cama assim!

- Esse era um caso urgente, Joui!

- Tá dizendo que eu não sou urgente?

Óculos? Em meio ao caos, os óculos pareciam simplesmente não querer sem encontrados.

- Não é isso! Se você quer saber eu dormi lá na sala no sofá, eu juro! Olha só a minha cara toda marcada.

- Você... Você abriu mão dessa cama enorme só pra ele? - O rapaz mais alto tampou a boca com a mão e se virou, segurando no braço do garoto atrás dele. - Meu Deus... César, vamos embora, ele não liga mais pra gente.

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