06.

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A última vez que Dante entrou numa sala de aula, era tanta energia reunida em um lugar só que parecia a própria representação do caos.

Toda vez que deitava a cabeça no travesseiro, mesmo se estivesse na calada da noite, ainda ouvia as conversas paralelas de uns sete grupos de jovens diferentes na mesma turma. E era impressionante porque mesmo que pedisse para todos falarem baixo, quarenta e dois adolescentes falando baixo acabava ficando alto em algum momento.

Sem falar das sextas-feiras em que Dante dava aula de física no último tempo e ninguém mais prestava atenção nele. Ele mal tinha terminado de escrever na lousa e já tinham alunos guardando as coisas na mochila e outros, no meio da aula mesmo, faltando ainda 50 minutos para terminar, pegavam o celular "escondido" para jogar um joguinho gratuito de armas de fogo, achando que o professor não tivera visto.

Mas convenhamos, o que Dante não via?

O loiro podia ficar calado pela maior parte do tempo e com a cara fechada, mas seus olhos sempre estavam atentos. Não era todo mundo que percebia quando Dante se sentava na cadeira do professor e começava a olhar todos da sala. Assim suas provas acabavam sendo as mais difíceis, pois era praticamente impossível colar nelas, além de serem propositalmente rígidas.

Mas a sala de aula era o único lugar que ele conseguia prestar atenção seriamente, porque fora dali era avoado, como se estivesse no mundo da lua a cada minuto que passava, imaginando uma realidade diferente e maluca.

Um mês depois da sua mudança para a Itália, Dante estava no ônibus a caminho da escola Nostradamus para o seu primeiro dia. Não estava nervoso e sim, ansioso. E por conta disso, plugou fones de ouvido no seu celular e começou a ouvir nada mais nada menos do que os Dragões Metálicos enquanto sua mente vagava através da janela do ônibus. Deixou a mesma aberta, seu cabelo ficara ao vento e facilmente fechou os seus olhos.

Imaginou se naquele momento, naquele exato segundo, do lado de fora daquele ônibus alguma criatura bizarra aparecesse, fazendo um rastro de sangue pela calçada vazia e assustando qualquer um que a visse. E então, alguém teria que impedir ela de comer tudo e todos da região, e essa pessoa seria o maior, o incrível, o magnífico, o superior, o único possível: Dante! Com sua... Espada.

Não, não conseguia se imaginar manuseando uma arma daquele porte sem deixa-la cair.

Então, um arco e flecha!

Sua mira era tão ruim quanto era bom em dirigir. Sem chance de acertar a criatura daquele jeito, sem falar que... Seria eficaz para um grande bicho de sangue?

Pois bem, uma pistola seria mais poderosa.

Também não parecia certo. Era capaz de Dante mirar e por acidente atirar em si mesmo.

Ficou tanto tempo naquele cenário que por pouco não se esqueceu de descer no ponto correto.

Não costumava ouvir músicas com frequência, só fazia isso em momentos específicos. Porém, recentemente, por culpa de Arthur, começou a ouvir mais vezes outros gêneros de música. Melhor dizendo, sempre dava uma espiada no YouTube para ver as apresentações do moreno, e acabou até por achar algumas solo dele, ficando encantado com os vídeos.

Dante tinha se entregado a música daqueles caras. Por alguma razão, desde a primeira vez que os ouviu no show, pareceu ter mexido com alguma coisa dentro dele que o fazia querer se balançar, se soltar. O que tinha na música de Arthur?

Por vezes, sentiu que era mais próximo de Arthur depois que ficou um belo tempo o ouvindo tocar a bela guitarra vermelha, apesar de não terem se falado com tanta frequência desde o último incidente na varanda.

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