Dedicado a Gisely, minha musa inspiradora de sempre, e também a minha filha Ítala a quem desejo melhoras...
Da parte baixa do palco, caminhando sem vacilos até sua esposa Bárbara Labres sorria como quem o fazia a um tesouro recém encontrado. Bianca não era só cobiçada de maneira discreta, mas era irrevogavelmente despida com um olhar tão lascivo que as próprias bochechas de Rafaella teriam corado de vergonha se antes não tivessem da mais pura raiva.
Não era adepta dos sentimentos mais quentes e cegos, exceto o desejo. Buscava não ser impulsiva, ciumenta e controladora, pois já sentira nos próprios lábios o poder do amargo veneno de sentir-se sufocada, dessa maneira, tudo o que não queria era ser o outro lado.
Mas como não ser? Na extensão de uma caminhada curta da sua mesa até Bianca permitiu só por um momento dar-se ao ciúme completo. A combustão de sentimentos escuros que borbulhavam em seu peito e que começavam com a simples imagem daquela mulher se inclinando sobre sua esposa para dizer sabe lá quantos comentários fora de lugar.
Ao ver, sem ainda acreditar, Rafaella teve a sensação de ter vivido novamente uma situação da qual anteriormente só tinha vislumbrado em sua mente acometida de desconfiança: Pensou nas mãos pálidas de unhas curtas procurando o toque da mais morena de Bianca e em seguida a boca da de olhos verdes sobre a única mulher pela qual Rafaella perderia toda compostura.
Inclusive, sentia que no meio do trajeto havia deixado-a inteira. Não se considerada responsável pelo que sairia de sua boca quando finalmente dividisse o mesmo ar com a pseudo artista. Gritar, bater em seu rosto, fazer uma cena... Como uma mulher dramática e levemente alterada achava-se capaz de tudo.
Bianca, em contrapartida, tentava manter uma distância razoável de Bárbara conforme indagava-lhe sobre sua surpreendente presença. Não havia convidado a mulher, não sabendo como Rafaella ficaria se tivessem qualquer interação. E não seria exagero de Rafaella, não quando Labres costumava se aproveitar de sua boa vontade e educação para assedia-la.
— O que faz aqui? — Bianca questionou com um sorriso forçado apenas para patrocinadores e demais representantes das mídias de comunicação que ainda estavam sobre ela.
— Convite da Payot. Eu sempre fui a responsável por animar suas festas pós-lançamentos, imaginei que agora também estivesse por trás desse chamado — Definitivamente Bianca não estava por trás, a frente ou em qualquer lado que envolvesse Bárbara perto de si.
— Não tenho nada a ver com isso — A morena falou fazendo menção de somente sair à francesa, mas o toque leve sobre seu pulso impediu uma saída sem levantar a suspeita de um fotógrafo. Sorriu outra vez e varreu o salão. Esmeraldas ardentes encontraram seu olhar e sentiu um arrepio contornar sua espinha.
— Você não me diria se tivesse. Eu a conheço Bianca, é a pessoa que mais se atrai pelos jogos e mistérios. Me trazer essa noite e me fazer pensar que você não tem a ver quando quer me beijar num banheiro é totalmente algo que a Andrade que eu conheço faria. Você não é essa mulherzinha monogâmica que quer que todos pensem e tudo bem, pode me contar a verdade que eu guardo seu segredo e te ajudo a manter o personagem discreto. Te espero no reservado — A morena dos olhos claros disse tão baixo que quase saiu como um sussurro e depois sorriu como se tivesse sido a conversa mais amigável e menos sórdida que já tiveram.
Ao fim Bianca não sabia se estava em sua maioria ultrajada ou intrigada. O que levava alguém a achar que ela seria tão suja com Rafaella quando carregava um bebê dela? Era essa a concepção que as pessoas tinham de si? De uma mulher inconsequente que seria incapaz de preservar seus laços e seu filho? Ou era Bárbara que não passava de uma ridícula?
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O Decreto Kalliman
FanfictionSe uma não quisesse as duas não teriam brigado, mais ou menos assim diz o ditado popular e os pais frequentantes da Escola Primária Santa Judith, localizada num bairro nobre do Rio de Janeiro. No entanto, essa não está nem perto de ser a opinião de...