Rafaella observou por mais alguns segundos o seu marido, não sabia exatamente como dizer, mas sabia que teria que colocar para fora o seu incômodo.
— Tem algum problema? — Terminou por dizer Rodolfo, encarando os olhos verdes pelo espelho enquanto terminava de escovar os dentes.
Era segunda-feira. Início de mais um ano letivo na Escola Primária Santa Judith, instituição onde Rafaella realizava o trabalho voluntário de presidir o Conselho de Pais, mas não era exatamente isso que a afligia.
— Temos que conversar — A dona de casa finalmente começou a falar, juntando as mãos acima do colo, mexendo nos dedos ainda sentada na cama.
— Está bem. Mas que seja breve, pois hoje eu estou realmente atarefado — Adiantou o homem tirando a espuma da boca com água corrente em seguida.
— Você sempre está atarefado Rod, esse é o problema — Rafaella esclareceu, aproveitando o ensejo para começar deveras o assunto.
— Depende do ponto de vista. Da sua perspectiva pode ser um problema, mas da minha e das contas no fim do mês não — Argumentou o banqueiro demonstrando sua impaciência matinal.
— Então não falemos da minha da sua ou da das contas. Falemos da dos seus filhos — Kalliman foi direto ao que desejou desde o princípio naquela conversa.
— O que tem eles? — O bancário perguntou com um semblante preocupado.
— Eles querem mais tempo com você Rodolfo. A Júlia está sempre dizendo como você é o melhor para montar bloquinhos e o Gabriel que ninguém ajuda na lição de matemática como você — A dona de casa sabia que nem sempre era a melhor nos números.
No entanto, ao mesmo estava ciente de que mesmo sendo Pitágoras ainda não seria a companhia perfeita para uma criança que sentia falta do pai.— Mas essas são coisas que você pode fazer... — O mais velho diz, enquanto a mulher se levanta da cama passando próximo a sua figura que ocupava boa parte do banheiro da suíte.
— Sim, eu sei. Mas quando apontam que é melhor com você eu sei que é porque não esperam por outra presença que não seja a sua — Terminou por expressar a mulher, visivelmente chateada com a falta de sensibilidade do marido para o assunto discutido. Era verdade que Rodolfo nem sempre foi dos mais amorosos. No entanto, desde o relacionamento, não era exatamente isso que Rafaella buscava. A castanha apenas pedia por solidez, proteção e fidelidade, somente essas características, o suficiente, na sua visão, para formar uma boa família.
— Rafaella... — O goiano falou, como quem discordava do que foi dito, mas não sabia argumentar contrariamente.
E isso incomodou a mulher, a deixou irritada, pois fazia parte de ser proteger e preservar a família estar com ela quando fosse necessário, pois dessa forma os seus integrantes não estariam vulneráveis emocionalmente.
— Quando decidimos ter nossos filhos decidimos entre nós dois. Não me deixe pensar que isso começou a mudar porque está mais preocupado com dinheiro — E quando ela percebeu que não gostaria de pensar dessa forma já estava. E mais ainda... Se culpava por saber que não era desde aquele comentário.
Assim que casaram Rodolfo, ou Rod, tinha muito claro o maior sonho qual era o maior sonho de Rafaella. Idealização que muitas vezes afastou namorados, causou brigas com os pais e gerou noites de tristeza por pensar que nunca encontraria outro alguém com quem realizar. A menina Rafa sonhava com uma família.
E não por qualquer trauma que tivesse encucado isso na cabeça dela. Pelo contrário, era por entender que sua família era algo tão precioso que Rafaella não conseguia pensar-se fazendo outra coisa no futuro que não fosse cuidando de uma casa com filhos e um companheiro feliz.
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O Decreto Kalliman
FanfictionSe uma não quisesse as duas não teriam brigado, mais ou menos assim diz o ditado popular e os pais frequentantes da Escola Primária Santa Judith, localizada num bairro nobre do Rio de Janeiro. No entanto, essa não está nem perto de ser a opinião de...