O decreto de Natal - Parte XI

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Quatro anos atrás...

Passadinha rápida, Bia! Se você quiser a gente vai até tua casa e pega a patroa antes de tudo também — Flayslane pediu quase se ajoelhando em frente a sua melhor amiga. Era o lançamento de sua música com um grande artista, um dia memorável em uma trajetória tão árdua que demorou para construir e tudo o que queria era a presença de Bianca.

— Não acho que vai ser bom para Rafa entrar num Iate com o tanto de enjoo que ela anda tendo nesse início de gravidez. A Carlinha, como você sabe, tem dado um trabalho dobrado nesse sentido — Disse a empresária mencionando sua filha que já amava tanto. A menina parecia praticar dança do ventre com uma espada na cabeça dentro da barriga da mãe e por essa razão Rafaella já acordava querendo colocar seus órgãos internos para fora e pela boca. Era a parte desesperadora do adorável.

— Será que não rola dela te liberar sozinha então? — Ponderou a cantora. Sabia que a general era casca dura, mas confiava que ela depositava fé o suficiente na esposa para que esta pudesse somente passar na sua festa.

— Eu não sei... — E tudo que era certo naquela frase era o não, pois o diálogo deveria ter acabado em recusa. Como dever é verbo diferente de ser, entretanto, Bianca se deixou ceder ao cansaço dos olhos brilhantes de sua amiga que a levou de carro até um Iate lotado de pessoas influentes.

Donos de gravadora, repórteres de televisão e administradores de portais de fofoca, um prato cheio para Bianca, se caso fosse a mesma de sempre. Mas não era, nem mesmo como fora nos tempos em que só havia ela e Ben. Quando Rafaella entrou na sua vida algo simplesmente se alterou dentro de si. Não era como dizer que a cachaceira virou mulher de família, não era isso, se tratava de algo menos clichê e mais autêntico.

Rafaella operou na sua vida um reencontro com tudo aquilo que mais gostava em si mesma. Seus próprios sorrisos, a leveza da rotina diária e a alegria de assistir um filme com a família ao invés de tomar bebida até amanhecer. A dona de casa a apresentou a novas certezas, histórias e formas que não pediu, mas que aceitou com toda sua gratidão.

A cerveja que recebeu entre os dedos assim que entrou no recinto sequer tinha gosto de nada que não fosse o aperto por estar em outro lugar que não fosse aquele e não por estar fazendo algo errado, mas porque depois de um longo dia de trabalho não havia nada que quisesse mais do que encostar a cabeça no travesseiro, agarrar sua esposa por trás e esconder o rosto em seu pescoço.

Queria sussurrar um eu te amo e sentir sua filha chutar enquanto Rafa devolvesse a declaração não aquela bebida de gosto comum. Queria o sabor de ter o universo girando na ponta do indicador como faz um jogador de basquete. Sentia isso toda vez que chamava Rafa de sua e ela devolvia com um sermão sobre posse e depois admitia. Queria seu amor tranquilo, sua respiração cadenciada. Queria estar fora dali e só tinha vinte minutos desde que chegou.

— Você vai cantar agora amiga? É que eu preciso mesmo ir! — Bianca informou com amabilidade no tom e a paraibana percebeu nos seus olhos o que havia no fundo das palavras.

— Só seria mais tarde, mas como sei que você já está louca de vontade de se encontrar com a sua general eu adianto a apresentação. O que eu não faço por você minha jumentinha preferida — A nordestina disse apertando as bochechas da bobinha apaixonada que ficou corada por ser descoberta pensando tão carinhosamente na esposa. Todo mundo sabia o quanto era rendida por sua Rafaella, mas passado quatro anos de relação a empresária ainda era capaz de ficar envergonhada só com ouvir o nome da dona de casa. E sentir o coração disparar também.

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