Capítulo 86 - Pensamentos homícidas

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Há certos arrependimentos que nunca deixaremos de guardar no peito.

Sim, é sabido que há os que dizem que nunca voltariam atrás com nada o que fizeram, mas não há verdade no coração de pessoas assim fechadas.

O se arrepender é a porta que todos deveríamos ter direito de abrir quando fosse necessário seguir.

E Rafa Kalliman sentiu que precisava. 

Não porque não amasse seus filhos, o fazia com o mais puro que havia em seu coração, mas no momento em que cada traço da imagem colorida passava por seus dedos sentia que não poderia deixar de pensar a diferença que teria feito não ter ido aquele encontro com Rodolfo há sete anos atrás.

Era ainda tão tola, tão menina, que foi incapaz de se negar ao convite que ele fizera mesmo sabendo das suas intenções.

— Você sabe que ele vai pedir, não sabe? — Dissera seu irmão a fitando da porta do quarto que dividiam ainda na época em que viviam com seus pais.

Renato havia contado a sua irmã sobre o fato de ter descoberto uma caixinha de veludo no porta-malas do também colega de Universidade na tentativa de que Rafaella avaliasse bem a velocidade dos passos que estavam sendo dados naquele relacionamento.

Não houve nada disso da parte de sua irmã, pelo contrário.

Foi sabendo que haveria um pedido de noivado que ela escolheu o melhor vestido de seu armário para a noite em que jantariam num dos melhores e mais caros restaurantes de Goiânia.

— Eu só espero que você não se arrependa — Foram as últimas palavras de um mais velho preocupado observando a euforia jovem correr pelos olhos de sua irmã.

— Não vou — A menina respondera com um largo sorriso depois de escutar a buzina do carro.

E anos depois estava ela.

Uma lágrima presa no canto dos olhos e uma pergunta morta sobre os lábios.

— O que eu não vi? — Mas se equivocava.

Ao olhar com o coração o difícil é saber o que não se viu.

O amor é uma dança de ilusões cegas. Amamos enquanto somos embalados e percebemos apenas aquilo que sentimos.

É assim que num balanço suave o feio se torna bonito, que o áspero se torna suave e de repente, não mais que de repente, nos encontramos presos nos braços de alguém que nunca existiu quando o encanto se dissipa.

E ali estava Rafa com os resquícios miseráveis de sua fantasia consumindo suas mãos e se transformando em algumas labruscas que não se contentaram em brilhar no canto dos olhos.

Dessa vez ele não a assombrou. Isso aconteceu na primeira ou segunda vez que foi acuada.

Em seu pranto havia a tristeza de amargamente e mais do que qualquer outra vez se arrepender de não ter ouvido seus pais sobre a pressa, ou até, sobre a mudança, há seis anos.

— Mas São Paulo? — Sebastião questionara se levantando do sofá ajeitando seu óculos no osso do seu nariz.

— É uma promoção boa para a carreira dele — Afirmara mordendo as bochechas por dentro segurando o seu bebê de pouco mais de três meses nos braços.

Sentiria falta da família como não o faria com mais nada, mas Rodolfo finalmente ascenderia no banco e era o sonho por qual ele estudou toda uma vida.

— E o que é bom para você? — O pai devolvera num tom lamurioso que ela nunca soube responder.

Pouco depois disso veio o distanciamento.

O Decreto Kalliman Onde histórias criam vida. Descubra agora