A notícia de que Bianca havia aceitado pessoalmente conduzir todo o show rapidamente se espalhou pela escola e Rafaella Kalliman não podia estar mais triunfante.
Se aquela mulher tinha alguma intenção de tomar a frente de qualquer coisa ali desistiria assim que tivesse que começar a lidar com todos os problemas que precisaria enfrentar para levar o evento a diante.
E como Rafa sabia disso? Por muito ela se colocou na linha de frente da organização dessas coisas, mas hoje sentia que não poderia mais.
Não com as tantas coisas que implicava.
E tão rapidamente quanto veio a confirmação também vieram os boatos de problemas internos.
Exatamente o que Rafaella previu.
Claro que não ficou feliz em saber que estavam acontecendo porque envolvia também as crianças, mas era de se esperar.
Bianca era muito inexperiente com isso. Podia governar um império, mas a escola estava longe de ser um ambiente fácil com o tanto de pessoas de diferentes idades para lidar.
E foi justamente daí que residiu o problema.
O problema que estava sentado bem em frente a sua mesa.
Sendo mais clara, Bianca havia tido um atrito com um pai por ter cortado as crianças que achou que deveria do show.
Primeiro porque o evento só teria uma hora de duração;
Segundo que cantar uma música que era considerada machistas não poderia ser considerada outra coisa que não fosse perigoso.
É, Rafa tinha que concordar, não parecia adequado deixar que algo assim passasse com um tempo tão restrito e tantas crianças para se apresentar.
Mas o pai ficou extremamente revoltado. E, consequentemente veio em busca de Rafaella para fazer reclamações.
— Quem essa Bianca pensa que é? — Hadson criticou em sua frente e Rafaella suspirou fundo.
— Eu não tenho ideia, mas sei que não posso tirar a razão dela nisso — A presidente do conselho disse da maneira mais calma que conseguia aquele pai tão insuportável.
— Como não pode? Você é a presidente do Conselho de Pais! Tem que defender a autoridade deles! E dentro do meu direito e da minha liberdade eu sei que meu filho não pode ser censurado! - O homem argumentava como se fosse uma vítima. Acaso ele se ouvia?
— Não estamos censurando o Júnior. Estamos dando limites, ele não pode pensar que será agraciado com qualquer coisa quando age dessa maneira. Se aceitarmos que cante essa música hoje ele pode crescer como uma pessoa que pensa que o machismo é algo aceitável — E nunca em qualquer hipótese seria. No entanto, não era bem isso que o homem pensava.
— Eu sempre cantei "Lôraburra" música e não sou machista — A música a qual o pai se referia e que o filho tentou cantar tratava-se de uma letra do cantor Gabriel, o pensador que começava exatamente assim:
"Existem mulheres que são uma beleza
Mas quando abrem a boca
Hmm que tristeza!
Não não é o seu hálito que apodrece o ar
O problema é o que elas falam que não dá pra agüentar"— Tem certeza? — A mulher perguntou batendo sua caneta contra a mesa totalmente impaciente.
Ele estava errado e fim.
— Olha aqui dona Rafaella, eu não sou machista, eu tenho mãe! — O jogador de futebol se defendeu forçando uma mágoa que não convencia em nada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Decreto Kalliman
FanfictionSe uma não quisesse as duas não teriam brigado, mais ou menos assim diz o ditado popular e os pais frequentantes da Escola Primária Santa Judith, localizada num bairro nobre do Rio de Janeiro. No entanto, essa não está nem perto de ser a opinião de...