O decreto de Natal - parte XXII

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Poucas coisas na vida são mais corajosas do que revisitar algo que te fez feliz, mas que por um momento mínimo você sentiu que não era seu. É bater de frente com a própria insegurança, recuperar o perdido em si mesmo, provar de novo ao subconsciente de que você é capaz. Requer estudo, requer trabalho e requer amor.

Rafaella e Bianca provaram ao longo de toda sua trajetória que tinham esse tipo de coragem. Sem medo de ir em frente enfrentaram os antagonistas que viveram alheio a elas e até os vilões que também carregavam dentro.

Ninguém é totalmente bom. Mesmo a melhor pessoa tem um lado obscuro e ruim, e mais além do que pode dizer uma foto de instagram todos nós temos versões feias.

Em Rafaella isso se manifestava no ciúme. Não era que não confiasse na esposa, mas a achava sempre tão linda e perfeita que não poderia imaginar quem não gostaria de tê-la consigo. Se ela queria todos os dias e momento parecia-lhe comum que todos quisessem.

Em Bianca aparecia no temor de que ao falar uma verdade teria ameaçado tudo o que construiu em anos com a mulher de sua vida. Era assim que, sem a intenção, terminava omissa.

Mas se algo aprenderam com esses defeitos agora presentes numa superfície era que quisessem ou não teriam que falar sobre eles. Na situação que fosse, quando ameaçassem surgir e assim nada faria com que se perdessem.

Diálogo era a chave e nenhuma delas a perderia, pois estava bem guardada nos corações. Num que repousava lento conforme caía a manhã e noutro que estava acelerado pelo simples fato de ter a esposa assim nos braços.

Depois daquela tórrida noite Rafaella havia acordado antes de Bianca e tinha já um tempo que observava a carioca que descansava placidamente em seu peito com uma mão envolvendo sua cintura e a outra acima do pescoço. Parecia agarrada a algo que não queria soltar e tudo bem porque ela também não queria.

A noite anterior havia sido incrível e quase não poderia ser colocada em palavras. Houve uma boa dose de fogo, mas também confiança, atração, amor e carinho. Acaso o amor sendo uma receira as duas enamoradas seguiram rigorosamente os passos indicados para um prato perfeito.

Nada como um bolo queimado ou um miojo de ninho, mas algo bom, delicioso e que só tinha como ser compartilhado com o mundo. Aquela sensação de doce e de vida na boca era tão prazerosa que tinha já trinta minutos que Rafaella estava acordada, mas sem se mover.

Isso se devia ao fato de que Bia, sua esposa, estava dormindo placidamente em seus braços. Seus cabelos negros estavam bagunçados e acariciavam o ombro de Rafaella que dispunha beijos no couro cabeludo a medida que com a mão acariciava a que Bianca a dera antes de dormir. Haviam passado a noite inteira sem soltar.

Era singelo, mas Rafa sentia como a confirmação de que tudo em fim estava voltando ao seu devido lugar. Ela e Bianca bem, conseguindo resolver seus dilemas de uma maneira que, se não a melhor, ao menos confortável para as duas, o amor crescendo a cada dia... Viviam o paraíso tanto quanto poderia uma vida de defeitos tão perfeitos.

— Te amo — Falou Rafaella subindo a mão livre até a bochecha de Bianca que pareceu acordar bem em seu gesto romântico.

Verdade seja dita, no entanto. Adversamente a como acontecem nos romances a vida tende a ser menos um frame de coincidência calculada e mais um aguardar preguiçoso. Bianca aguardou como um gatinho desassistido receber toda a extensão daquele carinho gostoso sabendo bem onde terminaria.

Aceitou o beijinho no topo da cabeça, o carinho na mão e o corpo nu e quente da esposa a aconchegando. Sabia que as palavras deliciosas viriam no fim. Era meia década acordando todos os dias com aquela mulher.

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