Rafa pigarreou alto chamando atenção das duas que estavam sentadas perto de si chamando atenção para sua presença ali. Seu coração estava renovado por uma possibilidade de conversa que não vislumbrou antes que ouvir sem querer o que ouviu.
Ainda sentia um desconforto sobre o assunto, mas saber que sua esposa não tinha feito aquilo de forma deliberada, mas que teve suas intenções invadidas a fez sentir alívio por reconhecer a mesma pureza em Bianca e raiva por saber que alguém poderia se aproveitar de sua bondade.
Pedia para que não cruzasse com a mulher de olhos azuis novamente, do contrário, começava a imaginar que não seria a mais condescendente das esposas.
— Bia... — Começou a dizer e só com o fim a melhor amiga da carioca percebeu que aquela conversa tomaria um rumo diferente. Quando a general abrandava assim a voz era o sinal de que uma bandeira branca estava prestes a ser hasteada. Como Bianca também percebeu sequer houve qualquer pedido para que Flay ficasse quando ela anunciou que esperaria no carro até que terminassem de conversar.
— Você ouviu, não ouviu? — A carioca questionou e só para ter certeza fez menção de se levantar. Rafa a impediu se sentando ao seu lado no meio fio em frente à delegacia. Lembraram que foi sob um que começaram a entender o mútuo encantamento de ambas e deram o devido significado a fazer aquilo ali em pleno natal, sentadas e sujas de fruta.
— Ouvi... — Rafaella falou buscando as mãos pequenas da carioca que se deixou tocar no primeiro instante. Não era vingativa ou reativa a Rafaella. Não poderia ser nunca quando a amava tanto, mas ainda sim seu toque despertou além de coisas boas uma única estranha: Uma certa desconfiança.
— Você teria me ouvido de qualquer forma, não teria? Você me ouviria só porque tem certeza que eu te amo... — Trouxe a tona aquela pergunta antes que a dona de casa completasse o caminho que começava a fazer na direção dos seus lábios. Era um beijo pela paz entre os lados, mas sequer chegou a se concretizar diante da pergunta.
Rafaella quis por um momento gritar com Bianca, mas sabia que era seu direito considerar outro cenário que não tivesse a intervenção do acaso. Se tivessem que resolver somente por elas Rafaella teria demorado quanto tempo até dar-lhe espaço para falar? A teria ouvido, teria acreditado na sua versão só por ela mesma?
— Isso é mesmo importante para você? — A loira quis saber vendo a morena assentir em concordância. Sabia da resposta antes mesmo que houvesse a pergunta. Respirou fundo antes de começar a responder — Bianca eu queria poder te dizer com toda convicção que te ouviria sem hesitar mas... — E lá estava a condução adversativa que cortava qualquer bom diálogo ao meio.
— ...Mas uma parte de você sempre vai pensar que vai dar errado. Podem se passar quatro, dez, vinte anos e você ainda terá essa angústia de achar que eu vou quebrar seu coração de uma forma ou de outra — Complementou vendo a esposa engolir em seco. Era uma verdade que não estava preparada para admitir, mas agora lá estava entre elas.
— Bianca não é assim — Tentou a dona de casa humildemente e a empresária a escutou recebendo um carinho do lado do seu rosto. Não pareciam poder se beijar ainda como quase tiveram a segundos, mas precisavam ter mais contato.
— Então me diz como é... — Bianca pediu apoiando a cabeça sobre os dedos da esposa que acariciava do queixo a têmpora. Era tão solene como sua voz.
— Você me magoou muito agora — Rafaella admitiu com o peito pesando como as palavras. Toda e qualquer que escolhesse parecia resguardar uma tonelada.
— Você também me magoou. E eu ainda estou aqui querendo ouvir de você uma única razão concreta para desconfiar da minha fidelidade a nosso casamento — Porque apesar do beijo Bianca não pensava que tudo o que era e construíram estava acabado, não quando não teve qualquer intenção de quebrar.
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O Decreto Kalliman
FanficSe uma não quisesse as duas não teriam brigado, mais ou menos assim diz o ditado popular e os pais frequentantes da Escola Primária Santa Judith, localizada num bairro nobre do Rio de Janeiro. No entanto, essa não está nem perto de ser a opinião de...