O ser humano é, por natureza, uma parte ódio.
Pois, mesmo no seu momento mais inocente, o do primeiro choro ao nascer, está praguejando contra o mundo a agressão que sofreu ao seu expulso de seu lugar seguro.
Isso se estende pela vida.
Aprendemos desde cedo a revidar um empurrão, a gritar para ser ouvido e dizer palavras que ferem assim que nos sentimos feridos.
E dói ser assim.
Quase tanto quanto entender que por mais que fujamos todo mundo, eventualmente, assim é.
Das verdades da vida ser uma parte escuridão é uma das que mais nos rasgam. Só não inteiros.
Porque embora uma parcela seja ódio outra, por equilíbrio, tem que ser amor.
É por ele que o bebê sorri para mãe.
É por ele que surge a desculpa.
É através dele que aceitamos e dedicamos o perdão.
Não há falha nessa lógica.
A não ser em situações em que não há qualquer uma dela e o ser humano em questão não se encontra, como demanda o equilíbrio, estável.
Desde noites atrás era assim que se encontrava Rodolfo Mathaus.
Em sua vida sempre teve todas as coisas que quis: Propriedades, dinheiro, mulheres...
E, mesmo assim, era a pior versão possível do querer infindável.
Quanto mais tinha mais queria.
E foi esse sentimento tão crescente dentro de si ao longo dos anos que fez todo resto dentro de si se desequilibrar.
Amor, ódio, dor, cura...
Suas capacidades foram entorpecendo na busca do acúmulo até que não pudesse mais se reconhecer sem o seu montante de coisas superficiais coroado com a família mais perfeita que alguém poderia pensar em querer se não fosse ambicioso como era ele.
Porque não contente com sua fortuna desviou dinheiro no banco.
Porque não contente com sua mulher e filhos buscou uma amante.
A confusão corrompeu seu peito de tal maneira que as duas partes se confrontaram até que ganhasse a versão que se alimentava dos sentimentos emporcalhados.
Dentro dele ganhou o ódio.
E continuou ganhando depois das palavras que saíram da boca de Rafaella pontualmente às dez horas da manhã na sala quase completamente diferente de quando compraram-na juntos.
Há seis anos.
Quando nem tudo era ódio.
— Você me ouviu? Eu vim até aqui para dizer que não tenho nenhuma intenção de voltar com você. Faça o que faça, me chantageando ou sendo bom outra vez. Eu não te amo mais e não sou sua propriedade — Esculpiu a mulher tendo certeza que não havia outra maneira de ter feito aquilo se não fosse olhando nos olhos dele, demonstrando com raiva nos olhos que não era mais uma vítima a ser acuada quando conhecia até onde poderia ir sua força.
Tinha uma âncora em que se firmar e um canto seguro para quando decidisse que deveria voltar.
Seus filhos e Bianca.
— Onde começou e onde poderia terminar — Toda a tristeza, todo rancor e toda a maldade.
Acreditou ingenuamente nisso quando decidiu encarar sozinha a fim de que mais ninguém na sua vida viesse a ser prejudicado.
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O Decreto Kalliman
FanfictionSe uma não quisesse as duas não teriam brigado, mais ou menos assim diz o ditado popular e os pais frequentantes da Escola Primária Santa Judith, localizada num bairro nobre do Rio de Janeiro. No entanto, essa não está nem perto de ser a opinião de...