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Meredith Grey:
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No sábado seguinte, fechei a loja uma hora adiantada. Caminhei um pouco pelas ruas de Fremont e depois assisti ao pôr do sol na ponte Aurora, esguia sobre o Lago Union. Tudo parecia perfeito, em proporção ainda maior pelo tom de graça dos alaranjados e luminosos raios de sol. Cintilavam em meu rosto, logo tornando-se cada vez mais fracos, dissipando-se à medida que o tempo corria e tornando o céu uma plena mistura de cores em tons quentes. Mesmo após o sol se esvair completamente, em meus olhos ainda existia o "negativo" da cor, e bastava eu piscar para vê-lo novamente.

Respirei profundamente, um ar tão puro, que pareceu me tranquilizar interiormente, e fechei os meus olhos, tentando gravar bem à memória a imagem de tamanha beleza daquele fim de tarde e suas vívidas cores.

Gostaria que as outras pessoas, essas que correm tanto contra o tempo, atarefados até o pescoço, parassem um pouco para admirar dias como estes. Tão iluminados que são capazes de apaziguar qualquer resquício de escuridão. E perceberem que, são justamente em momentos "banais", como assistir o sol se pondo no horizonte, é que está a real graça de viver.

Minutos depois, em que o céu enegreceu e o luar clareava, terminei de atravessar a ponte e caminhei até meu rotineiro local de destino.

Foi com um enorme sorriso que Miranda me recebeu, atrás do balcão. Entreguei-lhe, então, uma rosa azul, sua favorita. Em tamanha gentileza, agradeceu-me. Mas seu segundo pronunciamento não me foi de uma positiva reação.

— Sua amiga — Bailey gesticulou com a cabeça para o fundo do café, e eu nem precisei olhar para saber de quem se tratava.

Ou talvez não tenha olhado, simplesmente por não saber como reagir ao vê-la depois de nosso último "encontro" — após eu dizer-lhe que não queria vê-la novamente — na semana passada. É até um pouco estranho saber que essa ruiva tem me incomodado muito em meus sonhos e pensamentos durante horas de meus dias.

— Essa sem noção não é minha amiga — respondi indiferente.

— Ela ficou aqui quase o dia todo... — em um sutil curvar de cabeça para trás, descobri que era ela mesmo.

Rolam-se os meus olhos. Comecei a cogitar a possibilidade de ir embora, apenas ir, para não ter que lidar com o próximo showzinho que aquela mulher poderia fazer. O dia de hoje foi bom demais para eu me irritar bem no início da noite.

— Converse com ela, seja gentil. Você é gentil.

Torci os lábios virando-me novamente para enxergá-la, e meus olhos acabaram captando o momento em que ela sorria abertamente, atenta à tela do notebook. Tentei permanecer amena e fingir que aquilo não propiciou um revirar ondular em minha barriga.

Sem questionar, apenas me movi, e não em direção à porta, como deveria ter sido, mas em direção àquela mulher. Sua atenção ainda se infiltra no aparelho, e foi apenas quando me dispus em sua frente que ela levantou seu olhar.

De início, algo em suas cativantes íris verdes mudou, como se expressassem alguma imprevisibilidade. Suas pálpebras, pintadas em um tom quente de sombra, fecharam-se cuidadosamente, e os cílios curvilíneos dançaram.

Senti minha mão esquentar à medida que nossos olhares mantinham-se em uma conexão recíproca. Mas foi a ruiva a primeira que reagiu contra.

Pigarreou antes de se pronunciar verbalmente.

— Eu... já estou de saída. Estava trabalhando e... — pela primeira vez, vi-a se perder nas palavras.

De um modo agitado se pôs de pé, abaixando a tela de seu notebook para logo alcançar sua bolsa.

Confidences And Flowers ° • . ❀ - 𝑐𝑜𝑛𝑐𝑙𝑢𝑖́𝑑𝑎.Onde histórias criam vida. Descubra agora