Estou na cozinha da casa de vovó.
Vejo meus irmãos, meus pais andando de um lado para o outro. Vovó está em frente ao fogão fazendo algo que não sei ao certo o que é, mamãe está sentada à mesa enquanto os outros membros da família andam despreocupados em suas conversas aleatórias uns com os outros. Papai se senta à mesa, ele traz consigo uma revista de palavra cruzada, se senta, sorri para mim e volta sua atenção a sua revistinha.
Olho para cada um deles e me sinto feliz, realmente feliz!
Estar com minha família reunida mais uma vez é algo maravilhoso e gratificante. Somos muito unidos e ver a interação de todos me traz um sentimento de paz verdadeira. Sento-me ao lado de mamãe, logo em seguida vovó também se senta ficando de frente para mim. Vejo que as duas senhoras se olham sorrindo, abraço o lado direto de minha mãe e encosto minha cabeça em seu ombro enquanto escuto sem prestar atenção na conversa das duas matriarcas.
Seu cheiro açucarado é algo que me deixa calma e relaxada.
Estava tão distraída que me assusto com o barulho que a porta faz. Olho para a direção ao batente e vejo um homem muito alto, forte, com cabelos negros entrando no cômodo. Papai se levanta rápido e vai de encontro ao desconhecido, reparo na diferença de estatura entre eles. Papai se tornou quase um anão diante do homenzarrão, vejo-o falar e gesticular com as mãos e em alguns momentos ele olha para trás, seus olhos e a forma como seu corpo está, mostra o quão apreensivo está.
Eles param o diálogo e observo quando papai suspira e se vira vindo em direção a mesa. Seus ombros caídos, semblante triste demonstram seu total fracasso e derrota.
– Alessandra, precisamos conversar. – Papai diz ao se aproximar, ele me entrega um papel dobrado. Olho para ele e meu coração se aperta lembrando-me que já passei por isso.
– Não, não, não... – Ergo-me da cadeira e ando para trás deixando cair a cadeira onde estava sentada. De repente vejo o cenário a minha volta mudar. Tudo se desmancha, se dissolve ficando apenas uma tela escura.
– Alessandra, partir de hoje você não mora mais nesta casa. – Lágrimas caem de meu rosto e uma angústia enorme toma conta do meu coração.
– Como assim? Eu realmente não moro mais nesta casa. Pai, o senhor não se lembra do que aconteceu, do que o senhor fez? Pai, o que está acontecendo? – Falo com ele, mas sinto como se ele não me ouvisse, como se ele fosse apenas um robô, algo manipulado para dizer apenas o que está proposto e não o que eu pergunto.
– Seu esposo te espera...ali! – Papai aponta para o homem alto que está atrás de si. Seu rosto está voltado para mim e vejo seu olhar vazio e sem expressão, olho ao redor e toda a minha família se encontra da mesma forma. Como zumbis, todos apontam para o mesmo local.
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Não me veja.
RomanceVocê já amou perdidamente uma pessoa sem ao menos vê-la? Amar é acreditar sem ver. É sentir, mas sem tocar. Marco Teles. Postagem iniciada 16/01/21. Término das postagens: 02/04/22. *******************************************************************...