Onde Tudo Começou 🎬

CAPÍTULO TRINTA E SEIS 🎬

CAPÍTULO TRINTA E SEIS

Josephine

Abro os olhos lentamente, pisco algumas vezes até que consigo abri-los por completo.
Estou em um quarto todo branco, olho pra mim mesma observando o acesso em meu braço direito depois volto a olhar em torno e vejo minha irmã sentada na poltrona ao lado mas um pouco atrás da minha cama.
- Kath - minha boca está seca.
- Jô - ela corre até mim - Como está se sentindo?
- Com sede - minha garganta arranha.
- Aqui - ela pega o copo na mesa ao lado e leva aos meus lábios e após eu terminar de beber ela o retira voltando-o para o lugar.
- O que aconteceu? - me sinto um pouco confusa.
- Você estava sentindo fortes dores na barriga - ela suspira.
- Meu bebê? Ele está bem né?
- Jô, eu preciso que você seja muito forte agora - ela segura a minha mão e eu a encaro - Você perdeu o bebê - ela solta a bomba de uma só vez.
- Eu não perdi - a encaro.
- Jô, foi um aborto espontâneo. O seu útero é fraco não iria segurar por mais tempo.
- Você está mentindo pra mim - tento me livrar dos acessos.
- Eu não iria mentir sobre algo tão sério - ela tenta me impedir - Eu não acredito em você - Passo a mão pela minha barriga e sei que ela está falando a verdade e então não consigo mais conter as lágrimas - Por que Kath?
- Eu sinto muito - ela me abraça.
- Era meu bebê, meu - me afasto - Eu nem vi a carinha dele, nem sei se parecia mais comigo ou com o Hero e nunca vou saber - levo as mãos ao rosto - Como pode tudo isso acontecer comigo? Era meu filho caramba!
- Eu sei Jô - Kath passa o dedo em volta de seus olhos para secar as lágrimas - Mas eu estou aqui, papai e mamãe também, até o Dylan está lá fora esperando por notícias. Nós nunca vamos abandonar você.
- Eu odeio o Hero. Odeio o fato do amor da minha vida ter vindo dele e ter ido embora sem nem ao menos ter conhecido ele.
- Agora mais do que nunca, você precisa virar a página e entender que tudo nessa vida existe um propósito.
- Que propósito? O propósito de estraçalhar meu coração pela segunda vez? - aperto a camisola na parte do peito como se aquele gesto pudesse reprimir a dor que eu estava sentindo.
- Certas coisas acontecem com a gente visando o nosso amadurecimento Jô.
- Foda-se o amadurecimento. Só queria meu bebê aqui dentro - apoio minhas mãos na barriga.
- Era Chris - Kath segura minha mão - Era um menino.
Eu a abraço forte e a dor domina todo o meu corpo. Choro sem parar enquanto ela acaricia meus cabelos e sussurra em meu ouvido que - Vai tudo ficar bem, vai ficar tudo bem - como se fosse uma prece.

Quatro dias já se passaram desde que perdi meu bebê. Dylan e a minha família foram incríveis comigo e estiveram ao meu lado o tempo todo.
Não que eu esteja cem por cento recuperada emocionalmente porque nunca estarei, mas me sinto pronta pra seguir em frente. Vivi meu período de luto, onde as palavras eram as mínimas e a alimentação não era mais importante. Chorei durante horas, questionando o por quê de tudo isso mas nunca obtive resposta.
Uma noite depois do meu aborto Hero me ligou, mas Keth me impediu de atendê-lo e tomou posse do meu celular. Segundo ela esse não era o momento certo pra falar com quem quer que seja e ela estava certa. Sempre está.
Ajeito minhas malas e estou prestes a sair de casa rumo ao aeroporto. Teriamos entrevistas no domingo e a viagem era longa.
- Você não precisa ir Josephine - Kath alerta.
- Sim, eu preciso - fecho minha mochila dando uma última conferida.
- Filha, sua irmã tem razão - minha mãe está escorada na porta.
- Eu preciso voltar ao trabalho. Ficar aqui remoendo a dor de perder um filho não vai me fazer sentir melhor.
- Mas você vai ver o Hero, você acha que isso vai te fazer sentir melhor?
- Não - a encaro - Mas eu preciso disso. Preciso pra seguir em frente e deixar ele no passado.
- Desculpa não poder ir com você, não sabia que iria começar a trabalhar agora.
- Tudo bem, eu sei me virar sozinha.
- Espero que saiba mesmo - ela me abraça - Se cuida.
- Você também - abro um sorriso gentil.
- Tchau mãe - eu a abraço.
- Fique bem querida.
- Eu vou, consigo lidar com isso - afirmo.
Dou um beijo no rosto da minha mãe e Kath me ajuda com as malas até o carro do papai.
Me despeço mais uma vez dela com um abraço apertado e uma troca de olhares que diziam mais do que palavras.
Chego ao aeroporto e meu celular vibra em meu bolso, corro os olhos pela tela e vejo o nome de Dylan.
- Oi.
- Oi Jô. Como você está?
- Estou bem ou pelomenos tentando ficar.
- Estava pensando em passar na sua casa pra te visitar, mas queria avisar antes.
- Não estou em casa, na verdade não estarei por um tempo. Vou viajar a trabalho.
- Você está bem pra isso?
- Não, mas eu preciso cumprir com minhas obrigações.
- Bem vinda ao mundo artístico. Está indo pra onde agora?
- Brasil.
- Sério?
- Sim.
- Qual lugar do Brasil?
- São Paulo. Teremos entrevista pra divulgar o filme.
- Entendo. Tudo bem então, a gente se vê por aí e se cuida tá bom? Se precisar pode me ligar.
- Obrigada pelo apoio, isso tá sendo muito importante pra mim.
- Não tem que agradecer Jô, só estou fazendo meu papel de amigo.
- Muito bem feito por sinal - abro um sorriso - Preciso ir agora. Te ligo depois.
- Tá bom. beijos e tenha uma boa viagem.
- Obrigada.
Encerro a chamada e vou para o portão de embarque.
Apesar ddo Dylan ter presenciado tudo o que aconteceu comigo ele não sabe quem era o pai do meu filho porque decidi deixar essa revelação apenas para a família. Meus pais surtaram num primeiro momento dizendo que eu não iria voltar para o papel de Tessa, mas era minha primeira protagonista e eu não faria um trabalho pela metade por conta de um relacionamento falido com o meu parceiro de atuação, então eles entenderam que essa decisão cabia a mim e que eu deveria fazer o que achasse melhor e eu escolhi continuar.
Entro no avião e me ajeito na poltrona. Respiro fundo e digo pra mim mesma - eu consigo fazer isso.